Coleção pessoal de FernandaBOliveira
O futuro é incerto nestas terras arenosas, o povo oprimido é obrigado a se calar. O leão mostrou suas garras através da opressão armada a fim de sufocar a primavera. Mesmo assim, a Primavera Árabe tem demonstrado que existe exatamente como uma estação, a qual nenhum ser humano é capaz de impor o seu fim antes que seu ciclo se complete ao natural. O que há de indomável no Mundo Árabe, não são os jovens que se manifestam e nem as forças que silenciam estas vozes, é o pensamento e a vontade de conhecer a verdadeira liberdade.
Convivendo diariamente com a incerteza de seu fim, sem nenhuma perspectiva de ver o sol nascer outra vez, as flores daquele terreno abandonado, assim como o mendigo e o cão, viveram. Cresceram como se cada dia fosse interminável, como se o amanhecer os abençoasse, como se a vida fosse só flores.
Mais uma tragédia acontece no Brasil, mais vidas que se vão cedo de mais, as lágrimas nunca secarão para as famílias. Entretanto para a maioria, logo a tragédia será esquecida e se tornará apenas parte de mais alguma estatística. Todos já poderão preparar suas vidas para as próximas covardias, que serão, evidentemente, exploradas pelos veículos de comunicação, acostumados a transformar vidas em um filme de mau gosto, onde jamais se assiste um final feliz, mas sempre atraí milhares de espectadores.
Realmente é uma tarefa extremamente difícil a de escrever sobre qualquer que seja a tragédia. As palavras se confundem com sentimentos, os pensamentos calam frente a tristeza. Ainda mais em um tempo em que as frases de um sentimento profundo podem ser facilmente confundidas em meio a shows midiáticos, que transformam a vida em uma novela sem dublê.
O cidadão indígena quer apenas sobreviver em paz, ter o que comer, onde morar. Não se tratam de seres sedentos por dinheiro e poder, salvo alguns já hipnotizados pelas riquezas do universo “civilizado”. A grande maioria só quer a garantia de um futuro digno para que todos da aldeia possam viver bem. Isso para eles é como voar, um sonho distante, e por isso lutam. Não por um sonho individual, mas por um desejo coletivo de viverem em paz nas florestas, e sempre juntos, como em um panapaná.
Crianças indígenas, enfileiradas lado a lado, apresentam canções de seus ancestrais no centro das grandes metrópoles, enquanto suas mães debruçadas em paredes ou pilares, expõem os seus trabalhos artesanais. Crianças brancas pintam suas caras nas escolas de todo o país. Semáforos testemunham os olhos amendoados, cheios de esperança, de pequenos índios na busca por uma moeda. Estes com certeza são apenas alguns dos contrastes evidenciados hoje nas cidades, em razão de anos de exploração de ontem, anteontem e de todos os dias destes 511 anos de Brasil. A forma como o índio é tratado nos dias atuais pouco se difere dos tempos da chegada das naus portuguesas.