Coleção pessoal de FabaoSilva
A vida lá fora corre sem o consentimento do relógio, sem se importar com horários, com as regras. Enquanto todos estão preocupados em marcar os dias felizes, as horas boas, acabam perdendo os segundos mais preciosos que não irão voltar. No calendário dias são riscados como quem diz um dia a menos para ser vivido ou lembrado, assassinam o tempo e quando não tiver outro jeito o desejo de tê-los de volta não fará diferença alguma. Convencionou – se marcar o tempo em dias, anos e meses, mais foi o tempo e não a vida, ela é marcada por momentos, fragmentos e pessoas, e estas não se contam com o horário, elas simplesmente passam e não voltam, em contraponto aos ponteiros do relógio que marcam a mesma hora duas vezes ao dia.
Existem tantas coisas num fim de tarde,
Na garoa fina
Por trás dessa neblina
A felicidade há de estar.
Lá no final dessa estrada
Depois daquela curva intensa
Ao pé da montanha
A felicidade há de estar.
Sentada nas pedras
A margem daquele rio
Ou em um dia frio
A felicidade há de estar...
Escondida nas figuras de linguagem
Numa seqüência numeral
Outras num cálculo renal
A felicidade há de estar.
Tem disfarce tão perfeito
Que passa despercebida
Pela nossa frente
Enquanto temos em nossa mente
Que num lugar distante
A felicidade há de estar.
Nas lápides frias emolduradas pelo poente
Secam as folhas desgarradas de árvores distantes
Que ali fizeram morada repentina;
Chegaram com os ventos do norte
Partiram com o minuano gelado que soprava para o mar...
Sem destino conhecido se foram
Fazer morada em outros lugares,
Experimentando outros ares,
Desfazendo os pares.
A culpa é dos ventos
Que aqui e ali carregam consigo o pólen
Das paixões frenéticas quem sujam os móveis de uns,
Polinizam o jardim de outros,
Florescendo então em lugares ermos
Incomum aos dois primeiros...
E naquela lápide fria
Brota em sua fissura
Uma pequena flor
Agarrada a matéria
Buscando sua luz
Corteja com carinho
Aquele concreto vazio.
Ficou um silêncio largo
Na sombra das horas
No entardecer triste,
Badaladas profundas
Horas funestas,
Soturnas
Abateu-se tristeza tamanha
Calou-se...
Por um instante não havia amanhã
Buscando abandono
Nas batidas,
Nos toques tristes de sinos
Estremeciam alvoradas
Sumiam noite adentro
Desapareciam...
Na despedida
Brisa suave soprou...
Na lembrança dos olhos negros marejados
Na despedida
Fitou – se a ultima lembrança
Triste e funesta.
Ficou um silêncio largo...