Coleção pessoal de Ewantuil
Em uma sociedade que baseia os bons costumes e conceitos na religião desde sua raiz antropológica;provar que Deus não existe significaria que tudo se tornaria possível?Isso talvez tornaria o livre arbítrio fiel ao seu significado?
Primavera
Uma garota sentada em um velho balanço, de roupas de frio, pois o inverno castiga sua doce pele suave como um pêssego que ainda está a crescer naquele frio que assola o coração dela enquanto flocos de neve caem sobre seus cabelos.
Ela espera algo lindo, talvez espera que venha o clima que tanto ama e a luz que faltava nos dias dela, que se ausentava durante toda aquela terra branca e arvores quase seca.
Seu balanço de cordas, sussurram em seu ouvido com o vento o som do seu maior desejo escondido no seu coração, ela quer que nasçam flores em seus pés, ela quer ver pétalas voando por entre seus cabelos se emaranhando entre seus cachos dourados, ela precisa sentir o calor do sol aquecendo desde suas pálpebras fechadas enquanto estiver deitada sobre aquele gramado que tanto ama sentir o cheiro. Ela espera o frio ir embora, ela quase não agüenta mais, mas ela não o odeia, ela acredita nele, pois sabe que sem ele as flores jamais nasceriam.
Ela ama toda essa ordem, toda essa dança de sóis e luas nos céus onde as estrelas são a platéia dessa valsa, onde os dois bailam separados com a mesma musica chamada ‘’O tempo’’, essa dança jamais com um par.
Mas mesmo assim ela ama essa ambigüidade, ela agradece o sacrifício desse casal celeste, que nunca se juntarão pois sabe que essa garota jamais iria ver de novo o que tanto aguarda,o que tanto deseja sua doce e delicada primavera pois, com ela vem os pêssegos, e com eles aquele que ela tanto espera, esse fruto que ela tanto aguardou na verdade era um presente para alguém que viria com o tempo apenas pois, não tinha melhor presente para dar do que todo o tempo que ela esperou naquele balanço, apenas a prova de amor que ela tanto desejara demonstrar.
Mas ela sabe que aquilo um dia vai embora, o seu amor precisará partir, e com ele a primavera, como as flores que também irão, mas ela não chora, ela sorri, pois o que ela mais ama não é tudo que a primavera trás, mas sim tudo que a primavera deixa, as boas lembranças de abraços sob o sol erguido.Ela agradece a ultima lua da estação florida a nascer, e cumprimenta o novo sol do verão, que um dia depois de muito tempo se tornará outono seu irmão, e depois finalmente o mesmo inverno, onde na verdade começa tudo que ela mais ama, esperar e ver a primavera novamente a nascer.
Voar
Foi de tanto pensar que hesitei, foi de tanto fazer que nem sequer eu pensei. Abraçados ao embalo de cada passo dessa dança solitária com o tempo, consigo sentir o que sentem os lírios enquanto dançam valsa com os ventos.
De onde vem essa musica que me acalma quando tudo está em silencio?
E de onde vem esse medo do escuro enquanto a luz do meu quarto vai se esvaecendo?
E se esse espelho quebrado no qual olho em todo amanhecer na verdade esteja certo, e o que enxergo na realidade seja o verdadeiro reflexo do meu próprio ego.
Um espelho que não mente como sempre espero pois sei que minha própria natureza me prega peças e me deixa cego.
Assim como um pequeno peixe em um aquário,que não enxerga nada mais alem daquele vidro ilusório,onde tudo parece ser tão grande porem ,não consegue sair do mundo que nem ele mesmo sabe que existe ao redor.
Assim como um pássaro esperando suas penas sustentar seu vôo pela primeira vez mas ainda não sabe como voar,ou assim como eu sou e estou,sentado a beira do abismo esperando que me cresçam asas,semeando esperança no meu coração onde apenas a fé é o que me incita a pular na imensidão do precipício com o fundo em brasas.
Asas de Cera
Por que ter medo de voar? Se de uma forma ou outra a queda é iminente, porem o que define o valor da queda é a altura que subimos sabendo que nossas asas são de cera, sabendo que derreteriam muito antes de chegar perto do sol, onde o que torna tudo isso perfeito é a altura que você chegou antes de cair na imensidão dos céus. Pois sabemos que nada nos resta alem dos nossos sonhos nessa longa caminhada, onde somos um garoto sentado à beira da estrada, sentindo a leve brisa que soprava; leve brisa na qual sabia que um dia foi um terrível furacão causado pela borboleta que as asas demais batiam; nas manhas de verão alem do horizonte, ele queria ser aquela borboleta que dele voava tão longe, pois sabia do perigo que sua inocuidade escondia. Assim são nossos sonhos, jogando cartas com as nossas vidas, colocando escolhas e conseqüências em nossa subida, até tocarmos o céu e nos deixar cair, aproveitando a queda acompanhada daquela mesma brisa. Pois Deus abençoa os caídos e derrotados, os que ainda estão de pé e os bem aventurados, onde apenas uma coisa é mais nobre que a queda de um anjo na terra dos homens; a queda de um homem na terra dos anjos.
Paraíso e inferno são mera questão de ponto de vista..
Faça do meu inferno o teu paraíso,que eu prometo que teu inferno não existirá mais,pois a partir do momento em que cruzarmos as fronteiras do rio Estige,seremos apenas um,apenas um paraíso existira dentro de nós.Apenas um único propósito de descobrir ,o por que de, dois mundos serem tão ambíguos,sendo que são tão necessários um ao outro.Talvez essa fronteira seja como nós dois,tão diferentes,mas tão essenciais pro outro,a fronteira do que é obvio,a razão do que jamais seremos,a distancia que sempre afasta,tão naturalmente quanto a própria natureza e,honestamente acho que o céu e o inferno não passa de casal de namorados,onde tudo é tão oposto, onde apenas há dor,eis que vem os céus que acalmam e curam;um par perfeito,porem nunca poderão ser um só,talvez essa seja a definição de amor verdadeiro,como disse antes,o amor mais puro é o amor nunca recíproco.Talvez seja essa a definição de amar,olhar,apreciar e cuidar,mas não ter,mas não por incapacidade,mas sim por escolha.Pois uma vez eu ouvi dizer:''amar sem ser amado e sem esperar recompensa alguma''.Palavras sábias de alguém que sabia como amar,palavras sabias de quem talvez precisou experimentar a dor,mas não a dor de não ser correspondido,mas sim a dor de ser odiado por isso,ironia do destino,ser odiado por amar,e amar quem te odeia,apenas por saber que o amor em varias vertentes apenas faz bem ao próximo pois sei q não passo de mais um falso poeta,que sabe que o amor é uma palavra fora de moda trancada e esquecida em nossos armários.Mas me diga,quem será que vai abrir esse velho guarda-roupas?Quem vai perder o medo de usar essa roupa que até o cheiro de velho já sumiu!Talvez essa pessoa ainda não exista,e se existir,está bem longe dessas palavras.
Amar é…
Esquecer todas as palavras que nunca te disseram
e lembrar-se de todas que nunca pode dizer
te fazer descobrir que amor nunca precisou ser recíproco, mas sim algo tão ambíguo
que no final desse pesadelo faz você sempre querer acordar, e ao despertar de todas as noites mal dormidas
lhe faz querer voltar a dormir, para novamente senti-lo o que jamais em verdade poderá sentir
Eis a tua estória guardada a sete chaves,
escondida em seu âmago junto com das borboletas já esquecidas em seu estomago
De asas despedaçadas como um anjo caído que implora voar aos céus e não pode, pois suas dádivas foram abdicadas, retiradas
Tais borboletas rezam para voltarem a flutuar junto de teus anseios pelo tal amor que jamais poderá ter ,mas sempre saberá onde encontrá-lo
Assim saberá que sempre será algo platônico que te dará forças para poder lutar , e no final dessa estória trágica nunca terminada
Poderá encontrar a paz dessa infinita caminhada
Em que sonhar é a única placa que te guia nessa infindável estrada solitária
E mais uma noite sombria me espera
mais uma vez tenho lobos a minha porta
os ouço uivarem de fome
Sinto que eles sentem o mesmo medo que eu
Acredito que tem os mesmos anseios que tenho
Posso ouvi-los conspirarem com o vento que faz tremer minhas janelas
Eles me dizem com uma voz instigante para deixá-los adentrar
em meu falso e frágil lar construído de palha
onde apenas o medo do que há dentro dessa casa os impedem de entrar
Apenas o receio de encontrar algo tão assustador quanto eles
O céu vermelho lá fora combinando com seus olhos os deixam apenas mais instigados
Seus dentes brancos como pérolas me hipnotiza de medo e afeição com sua perfeição
Seu pelo todo preto se contrasta brevemente apenas com o brilho de cada raio que cai nessa tempestade
as quais todas essas descrições são apenas fruto da minha imaginação de tanto que os ouço arranharem minha porta
Seus uivos de fome me causa certa forma de compaixão
assustadores ao ponto de não agüentar tanta tortura
ao ponto de não agüentar de tanto medo
e no qual certo momento, eu sinto forçado pela minha própria compaixão
e o cansaço de fugir deles me obriga a abrir minha porta
e enfim cessar sua fome, e matar o meu medo instantaneamente
Porem minha tentativa sempre tão falha se torna mero martírio
quando vejo que ao invés de me devorarem totalmente com suas presas
de mim eles apenas arrancam um pequeno e dolorido pedaço cada
e simplesmente vão embora com breve aviso de que voltarão na próxima noite
mais famintos do que chegaram nessa noite gélida e escura
e vejo que apenas me resta limpar toda bagunça que fizeram em meu quintal
para então esperá-los na próxima vez com um novo tapete escrito ‘Bem vindo’ em minha porta
Pelo menos sei que são tão lindos quanto minha imaginação pode criar em minha mente sua imagem
mas no final valeu a pena o vislumbre dessas criaturas que eu mesmo dei vida
e que mantenho vivas dentro de mim