Coleção pessoal de eva_santos_3
O tempo é um mistério, uma força silenciosa que, de alguma forma, sempre coloca tudo em seu devido lugar. O que hoje parece essencial, amanhã pode não ter mais valor. E aquilo que você nunca imaginou viver, de repente, vira parte da sua rotina. Quando somos crianças, sonhamos em acelerar os dias, ansiosos por alcançar os tão esperados 18 anos. Acreditamos que, nessa idade, seremos livres, sem precisar ouvir as cobranças da mãe: "Que horas você vai chegar? Não demora, vou te esperar. Se você não vier, não consigo dormir."
Mas aí chegam os 18, e entre os sorrisos e os sonhos, você vive o frescor das descobertas, o sabor do primeiro amor, aquele que faz o coração bater mais rápido e o mundo parecer mais lento. Dos 18 aos 30, você quer congelar o tempo. Quer viver para sempre naquele instante mágico em que os olhares se cruzam, as mãos se tocam e o amor faz tudo ao redor desaparecer.
Dos 30 aos 50, a vida ganha outro ritmo. Vem a correria, os compromissos, as responsabilidades que parecem não ter fim. E, em meio a isso, surgem perdas que deixam marcas profundas. É nessa fase que, talvez, você enfrente a dor mais difícil: ouvir alguém dizer "Chegou a hora de fechar o caixão." E, diante disso, o que resta é um turbilhão de sentimentos. Como agradecer por quem foi puro amor em sua vida? Como colocar em palavras o amor infinito por aquela que foi sua mãe — ou, no meu caso, minha avó-mãe?
Tudo o que você quer é voltar no tempo. Trocar mais uma palavra, sentir mais um abraço. Ouvir novamente aquela preocupação cheia de cuidado e amor que só uma mãe é capaz de oferecer. E é nesse momento que você entende o valor de tudo o que já viveu.
Com o passar dos anos, você percebe que não há nada lá fora maior do que o que já encontrou dentro de si mesma. Você aprende a valorizar sua companhia, a ser seletiva, a enxergar que o que realmente importa não é o que está por vir, mas o que já foi vivido e as memórias que carrega consigo.
No fim, viver é isso: é colecionar momentos, é ser grato pela sua história. É reconhecer o privilégio de ter recebido tanto carinho, afeto e amor ao longo do caminho.
Vivemos em tempos curiosos, onde a tecnologia nos aproximou fisicamente, mas nos afastou emocionalmente. Temos ferramentas capazes de conectar pessoas em segundos, independentemente de onde estejam no mundo, mas raramente usamos esse poder para algo significativo. Preferimos silêncios vazios, conversas superficiais ou simplesmente ignorar a existência de quem está ao nosso lado.
Parece que o amor, o cuidado e a empatia tornaram-se raridades. É como se essas virtudes fossem reservadas apenas para momentos de despedida, para funerais e obituários. É nesses momentos que surgem as declarações de afeto, as lágrimas e os gestos que, por alguma razão, não tiveram espaço enquanto a pessoa estava viva. Não seria mais lógico amar enquanto ainda há tempo?
Olhamos ao redor e percebemos uma sociedade movida pelo ego. O que importa é a aparência, o status, o acúmulo de bens. O dinheiro se tornou o novo "deus", enquanto valores como compaixão, humildade e solidariedade foram relegados ao esquecimento. O mais triste é perceber que muitos sequer notam essa inversão de prioridades.
Não se trata de religião, dogmas ou rituais. Trata-se de espiritualidade, de um chamado interno para viver de forma mais consciente e conectada com o que realmente importa. Afinal, de que adianta buscar incessantemente riquezas, prazeres ou conquistas se nos esquecemos de cuidar de nossas relações e de nós mesmos?
Quantas vezes adiamos uma ligação para quem amamos? Quantas vezes escolhemos "deixar para depois" aquele encontro ou aquela conversa importante? E, quando percebemos, o tempo já passou. Restam apenas arrependimentos, palavras não ditas e um vazio que nada pode preencher.
É urgente resgatar o essencial. Amar enquanto é possível. Conversar, ouvir, abraçar. Celebrar a vida antes que ela se torne memória. Porque, no fim, não são os bens materiais que nos definem, mas os laços que criamos e o amor que deixamos no coração das pessoas que tocamos.