Coleção pessoal de EricoyAlvim

Encontrados 6 pensamentos na coleção de EricoyAlvim

⁠MOTORISTA DA LUA

É na rua que eu lhe vejo
sem-sentido mulher de avessos,
olhando a história do céu
você lembraria
do tempo que rebeldia
passava perto nossos caminhos.
Quando andávamos na lama
saber o percurso do sol fazia
a gente acreditar os ninhos
dos deuses estavam a ponto de cair
as leis do mundo seriam pregadas
por nossas mãos livres de correntes
e nem de longe suspeitávamos um do outro,
éramos viajantes e a estrada nosso espelho sem imagem

Tão fortes as certezas que o vento era nosso aliado,
tão fortes as certezas que a chuva regava nossas sementes,
tão longos os caminhos - nossos carros sempre a sair,
mas logo o mundo ficou real os caminhos eram sem rumo.

Quando você me vir de novo
saiba que eu sou outro,
enraizado ao caminho errado
ando pelas ruas rasgado de frio
e não reconheço ninguém,
quando paro na estrada
é para ver que o tempo
me fez esquecer de mim,
guiar sob os mistérios da lua
é o destino dos perdidos
vou embora, sou dos viajantes
o que se despede dos sonhos
lavando o rosto no rio ao luar

a verdade crua
quando é dia sou apenas pó
de noite motorista da lua

⁠IMIGRANTE

quando o imigrante
canta
ao nascer do sol
magos despertam
do sono de milênios
e tiranos perdem
o pique do riso

porque seguir
é o contrário da partida
e a marca que fica
é a flor deixada no degrau

⁠DESAPEGO

na minha face, além do olhar perdido, a sombra da idiotice,
a morte é uma carta que a previdência teima em não enviar
por isso pratico a vilania como um esporte
e não entendo o que se pode esperar de mim

vejo a queda em chamas das almas dos viciados
p'ra que a credibilidade? é único o caminho das sombras
deixo nada nas malas velhas e mofadas
e o olhar de louco a síntese da condição que me dei

a desconfiança do desapego à matéria alarma
quem julga o próximo pelo terno
e pelo talão do cheque da alma vendida
porque apenas o nariz é o senhor do meu destino

⁠SENTENÇA
Viver
sem rebelar-se
- peixe condenado ao seco

Erico y Alvim

⁠OLHAR DO GATO

é você que batuca na pele dos náufragos
os toques da Revolução & da Esperança?

é você que distribui casas de caracol
aos perdidos e abandonados na noite louca
para que o abismo seja ouvido acumulando cinzas de estrelas & coroas de lata?

estradas mal iluminadas levam aos portões de paraísos esquecidos
as poucas travessias que restaram
salvam as cabeças dos que planejaram o luxo esquecendo dos semelhantes

como esperar bom senso de quem se doutora para vender o próximo?
como decifrar o olhar do gato frente à espiritualidade
se a vantagem material só interessa
aos que fazem da fraude razão de Poder?

os passos são os mesmos em São Paulo, Dakar ou Pequim
solidão e desvios fazem oportuno o saque
é preciso ligar fibra ótica no coração e aguentar o baque
quem desenha a fantasia do amor decora o horizonte de perlimpimpim

porém, da janela a visão da manhã
é um manto real que enfeita ratazanas
sem nenhum escrúpulo
ou misericórdia que justifique surtos


⁠Entrego o mapa
- encontrarás o ser
nunca revelado
aonde vive a face
verdadeira