Coleção pessoal de EDUARDOPBARRETO

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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
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A gente entra no veículo
E já vai ligando o GPS
Para não dirigir em círculos
Evitando ter mais estresse
E a voz do guia virtual
Nos leva até ao final
Do trajeto sem reclamar
Assim não decoramos mapas
E deixamos nas estradas
A capacidade de memorizar.
.
No momento das compras
Diante das vitrines tentadoras
Ao invés de fazer contas
A gente usa calculadora
Pra ganhar tempo e dinheiro
E passar o dia inteiro
Com nada pra se preocupar
Assim a gente ri à beça
Mas sem conta de cabeça
A gente desaprende a calcular.
.
O professor pede um texto
E com preguiça de escrever
A gente inventa um pretexto
E vai no ChatGPT
E assim nos livramos
De ter que ficar juntando
Conhecimento e habilidade
Então tiramos nota dez
Mas perdemos de vez
A nossa criatividade.
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A gente vive cercado
De recursos modernos
Nada disso é pecado
Que nos levará ao inferno
Mas se não nos precavermos
No futuro próximo seremos
Vítimas do avanço tecnológico
E por termos deixado de pensar
Veremos robôs a nos examinar
Nas jaulas dos zoológicos.
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Eduardo de Paula Barreto
20/04/2023

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⁠PELOURINHO
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Bate na palmeira o vento
E o negro por um momento
Julga ser a brisa do mar
Mas percebe muito tarde
Que são brancos covardes
Que vieram para lhe buscar.
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Sem se despedir da família
Sob gritos que o humilham
Vê distanciarem-se os coqueiros
E num barco com outros tantos
Prisioneiros em pleno pranto
É levado ao navio negreiro.
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São centenas de nativos
Transformados em cativos
Homens, mulheres e crianças
Que no porão do navio
Passam calor, fome e frio
E perdem a noção da distância.
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Os que se mostram valentes
São presos com correntes
E obrigados a se calar
Pois com crueldade desmedida
Não relutam em lhes tirar a vida
Os lançando ao frio mar.
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Ao serem tratados feito bichos
Não entendem a razão do sacrifício
Pelo qual estão passando
Será maldição dos orixás
Ou os demônios vieram nos buscar
E para o inferno estão nos levando?
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Depois da árdua viagem
Os de maior força e coragem
Chegam ao porto estrangeiro
E aquela estranha gente
Falando numa língua diferente
Os troca por algum dinheiro.
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Vão para lugares variados
Os de sorte se tornam criados
Mas os demais que a elite avassala
Têm como destino os açoites
E as delirantes noites
No duro chão das senzalas.
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O cepo, o tronco e a peia
Lhes tiram o sangue das veias
E a sua resistente dignidade
Os grilhões e máscaras de flandres
Lhes derrubam o semblante
E eles sucumbem à saudade.
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Muitos veem nos pelourinhos
A única alternativa e caminho
Para fora da vida trágica
Pois o escravo que é forte
Encontra na própria morte
A chance de voltar à África.

⁠LATIFÚNDIO
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O primeiro dono da Terra
Abriu mão de fazer escritura
Apenas a distribuiu em glebas
Para a subsistência das criaturas
Que plantavam para comer
E comiam para viver
Cuidando dos pedaços de chão
Chão que alimentava os animais
E que com ricos mananciais
Fazia germinar os grãos.
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Como vassalos do suserano Deus
Tinham que cuidar da terra recebida
Permitindo a todos os irmãos seus
O livre acesso às bênçãos Divinas
Como trabalhar para alimentar o corpo
E exercitar a fé no verdadeiro dono
Das terras cheias de minérios nobres
Deus dava tudo e não exigia nada
Mas das Suas criaturas Ele esperava
Que na terra não houvesse pobres.
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Os que receberam as terras como dádiva
Nelas fizeram semeaduras de prantos
Pois com a cobiça produziram lágrimas
Que caindo regaram os campos
E como água salgada não nutre o solo
Nas plantações de dor só vingou o ódio
Que até hoje alimenta as guerras
Pela posse da terra pessoas se consomem
Mas a terra não pertence ao homem
É o homem que pertence à terra.

⁠CHIBATAS MODERNAS
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Que o fluido do trabalho
Seja o suor e não a lágrima
E que nas mãos haja calos
Ao invés de marcas trágicas
Causadas pela aplicação
De condições que não
Preservam o trabalhador
Transformando o que deveria
Ser uma fonte de alegria
Numa grande usina de dor.
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Que o trabalho seja uma ponte
Para conduzir quem se dedica
À conquista do horizonte
Onde o seu ideal habita
Mas que jamais seja um muro
Entre o presente e o futuro
Por isso eu proponho
Que o trabalho sempre seja
Garantia de alimento para a mesa
E de estímulos para os sonhos.
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Que haja líderes e não feitores
Com novos métodos de tortura
Que fazem dos trabalhadores
Vítimas de uma escravatura
Na qual disfarçados escravos
Se julgando livres são alvo
Da ambição desmedida
Da minoria abastada
Que com invisíveis chibatas
Produz visíveis feridas.

⁠MAIS DO QUE PÃES
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Existe uma força espiritual
Que religa o cordão umbilical
Permitindo que a mãe receba amor
Enviado pelo filho grato
Que aceita que apenas no parto
A mãe possa sentir alguma dor.
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O colo se transforma no ventre
Que oferece abrigo quente
Para o filho que amadureceu
Ninho em que encontra guarida
Oferecido pela mãe querida
Que nem percebe que ele cresceu.
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Mães, mãezinhas, mamães
Merecem mais do que pães
Ou joias cheias de brilho
Precisam apenas ser amadas
E no colo suavemente embaladas
Como se mães fossem seus filhos.


PÁTRIA PÁRIA
14/04/2021
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Debruçados nos peitoris
Das escancaradas janelas
Gritavam: ‘O meu País
Não será uma Venezuela’
E aquela gente enfurecida
Colocou um genocida
Como líder da Pátria
E agora todos calados
Veem o Brasil transformado
Num indesejado pária.
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Por temerem que o Brasil
Virasse uma nova Cuba
Elegeram o imbecil
Que encantava turbas
Mas bastou ele assumir
Para o povo descobrir
Que abusou da sorte
Porque com o cetro na mão
Quase transformou a Nação
Numa Coreia do Norte.
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Essa gente brasileira
Que gritou na minha orelha:
‘A nossa bandeira
Jamais será vermelha’
Hoje em dia se constrange
Ao ver que foi sangue
Que as quatro cores cobriu
E agora pagamos o preço
De ver o mundo ter medo
De virar um Brasil.

⁠UM OU OUTRO
13/03/2021
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Um faz arminha com a mão
O outro faz um coração
Com os dedos das mãos sofridas
Um incentiva ignorância e morte
O outro estimula a simbiose
Entre conhecimento e vida.
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Um simboliza o desrespeito
A intolerância e o preconceito
Contra as minorias da população
O outro representa os braços
Que num infinito abraço
Envolvem todos sem distinção.
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Um é o retrato do retrocesso
Que entrega a baixo preço
As riquezas do seu País
O outro tem no currículo
Que sabe tornar seu País rico
E fazer o povo feliz.
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Um aglutina toda a maldade
Das pessoas cuja personalidade
Vê nele a chance de expressão
O outro reúne ao seu redor
Aqueles que fazem do amor
O combustível do coração.
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Um faz show de horrores
Alegrando os espectadores
Que o aplaudem com gosto
Enquanto o outro desperta saudade
Do tempo em que a felicidade
Estava ao alcance de todos.

⁠SÚDITOS SEM REI
30/07/2020
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Era uma vez uma sociedade
Em que tudo era permitido
Desonestos pregavam honestidade
Imorais enalteciam o moralismo
E religiosos sem escrúpulos
Faziam da fé um escudo
Para acobertar seus pecados
Enquanto ladrões cínicos
Travestidos de políticos
Roubavam o Estado.
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Havia também gente má
Fingindo ser gente de bem
Que não sabia o que é amar
Mas sabia odiar como ninguém
E que preferia a agressão
Como argumentação
Para resolver os conflitos
Fazendo da força o meio
Transformador do belo em feio
E do feio em bonito.
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Lá havia pessoas tolas
Ludibriadas pelas palavras
Que saltavam da boca
De um homem que babava
Enquanto ruminava o ódio
Que nutria o ser mórbido
Que se proclamava soberano
E transformava em súditos
Quem aplaudia os estúpidos
Discursos de um insano.
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Mas um dia o Rei deixou
Cair diante de todo o povo
A máscara que sempre usou
Para esconder que era louco
E por todo canto
Surgiram sofridos prantos
Que levaram muitos à morte
Porque o Rei que nunca existiu
Fez naquela terra chamada Brasil
Surgir milhões de bobos da corte.


BRASIL COLÔNIA
23/12/2019
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De tanto me indignar
Diante dos desmandos
Não posso mais chorar
Secaram os meus prantos
Engulo meus soluços
E calado me debruço
Sobre os meus joelhos
Que ouvem meus sussurros
E no abrigo do escuro
Me servem de travesseiro.
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O Brasil voltou a ser colônia
Nossa soberania virou frangalhos
Decretaram a morte da Amazônia
E da dignidade do trabalho
Deram voz à intolerância
E transformaram a ignorância
Em política governamental
Para que as elites privilegiadas
Continuem a ser alimentadas
Com a desigualdade social.
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Fizeram do conservadorismo
Fogueira da santa inquisição
Para com falso moralismo
Queimar quem tem outra visão
Para que impere a ideologia
Que divide, exclui e contagia
Quem tem fragilidade intelectual
E que por isso se torna refém
Dos pseudocidadãos de bem
Que integram o exército do mal.

⁠PAÍS MORIBUNDO
14/09/2019
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O Brasil em agonia
Vê-se caído ao chão
Com pouca democracia
Inflando seu pulmão
E em suas veias tensas
A liberdade de imprensa
Enfrenta bactérias de censura
Que acirram os ânimos
E destroem os gânglios
Aumentando a temperatura.
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Perde-se numa hemorragia
A seiva da solidariedade
Que deixa com anemia
O corpo da sociedade
Que vomita a disposição
De lutar pela recuperação
De um País moribundo
Que respira por aparelhos
E vê o sangue vermelho
Coagular feito chumbo.
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O coração das multidões
Sofre com a arritmia
Que provoca palpitações
Mescladas com bradicardia
E o País doente implora
Para que alguém sem demora
Evite o choque séptico
É quando surge um médico
Trazendo como remédio
Um frasquinho de choque ético.

⁠ARMAS E LIVROS
21/05/2019
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Quem brinda à ignorância
Conspira contra si mesmo
Porque amplia a distância
Entre o fim e o começo
De todos os conflitos
Que poderiam ser escritos
Sem consumir toda a tinta
Que precisamos ter
Para podermos escrever
Nas páginas da vida.
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A falta de conhecimento
Desperta os piores instintos
Porque se não há argumentos
Recorre-se aos primitivos
Métodos de solução
Dos problemas que são
Presenças constantes
Ao invés de dar espada
Dê à criança as palavras
Que brotam das estantes.
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Arme a criança com livros
E assim a livre das armas
Porque o saber é antídoto
Contra os venenos da alma
Que ao longo da existência
Podem ficar em latência
Ou aflorar como intolerância
Dependendo dos estímulos
Que despertam os íntimos
Instintos da criança.

⁠MITOMANIA
04/02/2019
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Moralistas sem moral
Capitalistas sem dinheiro
Caridosos que não sabem qual
É a carência dos companheiros
Religiosos sem disposição
Para amar sem discriminação
Quem pensa diferente
E patriotas que se alegram
Quando os políticos entregam
Nossas riquezas a outras gentes.
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Intelectuais sem opinião própria
Filósofos que só citam sábios mortos
Governos civis que calçam botas
Donzelas puras que fazem aborto
Somos membros de uma espécie
Que nunca amadurece
E assim não adquire supremacia
Porque somos seres doentes
Que vivem constantemente
Infectados com a mitomania.
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Neste mundo a mentira
Recebe animados aplausos
Da plateia que faz fila
Para subir no palco
E com abraços calorosos
Elogiar os mentirosos
E dar-lhes os parabéns
Por serem os ídolos
Daqueles tolos indivíduos
Que adoram mentir também.

⁠BRUMADINHO
26/01/2019
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Sem cautela sugam a riqueza
Que dorme latente no chão
E formam podre represa
Com os rejeitos da exploração
Que como lago de lama
Por liberdade reclama
Até romper as barreiras
E à destruição se entrega
Ao ver no rio Paraopeba
A chance de virar corredeira.
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Mas antes de o lago virar rio
Deixa lágrimas pelo caminho
Lágrimas do choro sombrio
Que no ar de Brumadinho
Formam nuvens de dor
Que assistem ao horror
Da tragédia humana
Que poderia ter sido evitada
Se a vida fosse considerada
Mais valiosa que a lama.
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Quanto vale a vida?
Quanto a vida vale?
Da lama não será extraída
A vida que deixa saudade
Mas quem sabe as lágrimas
Caindo como chuvas mágicas
Façam surgir como alento
Uma barragem de justiça
Que represe toda cobiça
E seja imune a rompimentos.

⁠DEIXE-OS NUS
15/01/2019
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Deixe-os deitados nas redes
No aconchego das ocas
Sonhando com as verdes
Folhas de mandioca
Deixe-os correr pelados
Com os pés enlameados
Com o húmus da floresta
Deixe-os caçar e pescar
E com destemor se armar
Com seus arcos e flechas.
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Deixe-os exercer a fé
Com seus místicos rituais
E acreditar que o pajé
Tem poderes sobrenaturais
Para que irmanados fiquem
Ligados ao grande cacique
Que criou todas as tribos
Deixe-os sempre isolados
Para não serem transformados
Em civilizados indignos.
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Deixe-os ser o que são
Donos da terra onde todos
Compartilham o pão
E fazem do corpo
A única vestimenta
Que orgulhosa ostenta
Cocares, braceletes e brincos
Eles são herdeiros da salvação
Por viverem em comunhão
Por isso deixe-os ser índios.

⁠DEUS SEM TEMPLO
03/01/2019
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Pensam que Deus é pássaro
Que pode ser preso em templos
Aonde vão para adorá-lo
Mas eu prefiro libertá-lo
Para voar em meus pensamentos.
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Vejo com o espírito contrito
A hipocrisia em cada ação
E o uso do livre-arbítrio
Como o mais vil exercício
Do poder de manipulação.
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Dominam fazendo ameaças
Ou prometendo recompensas
Vendem o que é de graça
E fazem da fé abstrata
Substituta da inteligência.
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Justificam os seus pecados
Salientando as boas intenções
Cerceiam o direito dado
Ao outro de achar errado
O que julgam serem revelações.
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Às vezes com os olhos chorosos
Confesso ao meu íntimo Deus:
Senhor, quanto mais os religiosos
Propagam discursos de ódio
Mais eu admiro os ateus.

⁠USTRA VIVE
16/11/2018
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Ustra vive
Nos corações pequenos
Onde escorrem livres
Rios de veneno
E de desejos sórdidos
Vindos dos mórbidos
Cérebros psicopatas
Em cujos neurônios
Cavalgam os demônios
Das mentes fracas.
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Ustra vive
No ideal fascista
Que sem dó oprime
Os bravos idealistas
Que não se curvam
Diante dos que furtam
A santa liberdade
E que mesmo sofrendo
Seguem defendendo
A sua verdade.
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Ustra vive
Nos seres moribundos
Que querem reprise
Dos anos de chumbo
Para sentirem-se vivos
Ao causarem nos oprimidos
A mais dura angústia
Porque é da dor
Que retiram o desamor
Que dá vida a Ustra.

⁠A CARTA MAGNA
05/09/2018
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Para a instituição do Estado Democrático
Visando assegurar os direitos individuais
Foi promulgado o mais importante pacto
Como baliza das relações sociais
Segurança, bem-estar, liberdade
Desenvolvimento, igualdade
E justiça para todo cidadão
Náufragos não somos
Porque juntos navegamos
Tendo por mapa a Constituição.
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De que vale a Carta Magna
Se não respeitam os preceitos
Contidos em cada página
Como deveres e direitos?
Tais regras não podem ser
Aplicadas ao bel-prazer
Dos membros do Judiciário
A manipulação das suas normas
Transforma homens de toga
Em meros estelionatários.
.
‘’Todo poder emana do povo’’
Portanto cabe a ele a decisão
De quem por meio do voto
O representará em cada eleição
Não cabe a nenhum dos poderes
Criar barreiras dando pareceres
Contrários à regra peremptória:
‘’Ninguém será considerado culpado
Até o trânsito em julgado
De sentença penal condenatória’’.

⁠O CELEIRO
04/06/2018
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A supressão de direitos
E a limitação do saber
Formam o mecanismo perfeito
Para se exercer o poder
Dos fortes sobre os fracos
Que lambem os pratos
E buscam no fundo das panelas
Algum resto de comida
Enquanto oferecem as sortidas
Ceias para quem os flagela.
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O trabalho mesmo remunerado
Pode significar servidão
Quando ao trabalhador é negado
O direito de obter do patrão
Ganhos justos e carga horária
Que transformem a rotina diária
Em degraus para que ele cresça
E deixe de vestir-se com trapos
Enquanto para o patrão abastado
Ele cose lindas roupas de seda.
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Que o agasalhado produza agasalho
E o alimentado produza alimento
Para que a força do trabalho
Seja garantia de alento
Para todas as classes
Que esperam que a sociedade
Um dia ainda seja
Celeiro de bem-estar e justiça
Ao trocar o egoísmo e a cobiça
Pela distribuição de renda e riqueza.

⁠COMUNISMO
09/05/2018
.
Não se trata de comunismo
A luta pela igualdade social
Em todo canto sempre haverá ricos
E gente sem riqueza material
Mas a sociedade que queremos
É aquela na qual encontremos
Meios para viver dignamente
Nem todos anseiam ter mansões
Mas todos precisam de colchões
Para dormir confortavelmente.
.
Ninguém precisa de cardápios caros
Com camarões e lagostas no jantar
Nem de vinhos raros
Para em ceias brindar
Tampouco de taças italianas
Ou de baixelas de porcelana
Nem de talheres de metal nobre
O que todo mundo precisa ter
É só a certeza de que
Nunca passará fome.
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Ninguém precisa ter um Jaguar
Para locomover-se no dia a dia
Nem de jatinho particular
Para visitar a família
Também não é necessário
Ter um enorme armário
Cheio de roupas Louis Vuitton
Mas o povo quer simplesmente
Poder vestir-se adequadamente
E ter transporte público bom.
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Ninguém precisa estudar na Harvard
Para conquistar o que idealiza
Nem ter Dubai first credit card
Para comprar aquilo que precisa
Mas os menos favorecidos
Precisam ter acesso ao ensino
Público de excelência
Para tornarem-se habilitados
A não dependerem do Estado
Conquistando a sua independência.
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Hasteio a flâmula do idealismo
Em busca da sociedade ideal
Para que apesar do jugo do capitalismo
Todos valham mais do que o vil metal
E que não haja mais barrigas vazias
Nem alunos sem acesso à sabedoria
Tampouco descalços pés calejados
E que as pessoas sejam bem atendidas
Nos hospitais preservando o bem da vida
Vida que recebemos sem nada termos pago.

⁠VERSOS E AMARGURA
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Se de mim retirassem os enganos
Em mim apenas acertos restariam
Seria um poeta de versos levianos
Que como bolas de sabão se esvaziam
Prefiro ser alguém cujas conjecturas
Correm o risco de trazer amarguras
Do que ser um ser vivo sem opinião
Prefiro que me calem com mordaças
Do que ao me ouvirem achem graça
Por repetir os gracejos da multidão.
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Prefiro ser chamado de subversivo
Do que receber afagos dos opressores
Porque tais afagos só são oferecidos
Aos fracos em troca de favores
Com os quais traem a sua dignidade
E ganham uma falsa felicidade
Como troféu para a covardia
Prefiro ter a honra da clausura
Nos frios porões da ditadura
Do que a desonra na democracia.
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Se de mim retirarem os versos
Ainda me restarão os pensamentos
Que voarão na amplitude do Universo
Montados nas costas do vento
E baterão à porta de Deus
Que atendendo ao apelo meu
Mandará uma forte tempestade
Formada por poesias agudas
Que caindo regarão as mudas
Que aflorarão como liberdade.