Coleção pessoal de EderPersaint

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A pior prisão é uma mente restrita, tal qual o pior esgoto é a consciência coletiva.

É a sua capacidade de identificar a necessidade de si em sua vida, do seu amor-próprio; de discernir a dificuldade de integrar esse aspecto seu que aspira sempre à aprovação exterior e ao amor dos outros; bem como de perceber a resistência em aceitar que ele já existe e sempre existiu; que prenunciará o seu estado de completude interior, com a posterior predisposição a atrair o amor das pessoas à sua volta.

Crer na necessidade de ter malícia a fim de discernir a verdade é uma crença a que nós, frequentemente, não raro sempre, nos submetemos; conquanto em nenhum momento a maldade se relaciona à verdade. Pelo contrário, não há maldade ou bondade, haja vista que derivam do princípio do julgamento, o qual por sua vez é baseado na prerrogativa da polaridade, separando, classificando e reduzindo tudo conforme as vontades do ego.

Amor-próprio, não por acaso, é próprio: ele emerge do seu ser tão logo você o reconheça como sua substância primordial. Descobri-lo, cultivá-lo e irrigá-lo em si requer, antes de mais nada, que seja reconhecido que ele há em você como subproduto do Criador.

Não existe certo ou errado ou qualquer outro binômio dual; isso tudo não passa de ilusão. Na verdade, tudo é perfeição, e tudo ruma a ela como um propósito tanto inicial quanto final de todas as coisas.

A paz nunca chega, por um motivo: para que chegue, é necessário que ela não exista, ou que, se exista, esteja longe de nós; e não é isso que acontece. A paz não precisa vir até nós, e nós não necessitamos ir à sua busca; ela já existe dentro de nós e em nós. É esse o princípio da não dualidade — nunca estivemos fragmentados, pois que sempre fomos completos.

O oposto do amor não é o ódio, mas o medo; e o oposto da coragem não é o medo, mas a raiva.

Prática sem teoria não tem essência; teoria sem prática não tem fundamento.

A verdade em si é simples. Porque não tem de ser agradável aos ouvidos ou aceita por quem a ouve, prescinde de todos os floreios. Porque nunca é injusta, pode até fustigar, mas não causa dor.

Falar sobre a estupidez humana é ser tão estúpido quanto. Ressaltar o quanto de ignorância há no mundo só fá-lo aumentar tanto mais se lhe dê atenção. Observar a idiotice alheia é espoliar-lhe do quinhão a que tem direito do que de melhor lhe há, e reconhecer a obviedade de que somente um idiota pode reconhecer outro.

Feliz ou infelizmente, no tocante a relacionamentos, desprezando-se a ordem, a cada vez que os observo, percebo que quem mais os busca é quem menos tem disposição de doar-se e fazê-los um meio para se chegar a um fim, que é florescer e servir de apoio recíproco às partes interessadas. Logo, o que ora se denomina como tal não é senão um fim em si mesmo, vazio e sem funcionalidade. É um paradoxo deplorável, mas não menos tangível.

Há uma linha bastante tênue entre mudar e se transformar. Ninguém ou nada muda repentinamente; tudo demanda tempo. Se alguém quer ver o seu exterior mudar, tem que primeiro transformar sua estrutura interna: para que tanto uma quanto outra tenham efeito, é necessário, de antemão, reconhecer com aceitação o que as requer, porque tudo por fora é subproduto do que já há por dentro, de tal forma que não se pode ser externamente o que não se é internamente.

Você disse estar precisando beijar. Mas saiba que o que quer que seja externo, ou seja, parta de fora ou vá dos outros, é irreal, é efêmero e não preenche o vazio interno. Saiba que o amor não se trata de um relacionamento entre duas pessoas, mas, sim, de um estado de plenitude e unidade dentro de si mesmo, que vem de dentro para fora. Os outros não nos podem, nem têm a obrigação de nos preencher: o preenchimento é interno e pessoal.

Antes de buscar uma relação com quem quer que seja, ame-se, acolha-se, relacione-se de antemão consigo próprio, conheça-se. Depois de amar-se o suficiente, aí, sim, é que o amor de fora vem. E sabe por que agora ele vem? Porque não faz mais diferença alguma. Porque você não necessita mais compulsoriamente dele. Porque já não é mais prioridade sua cobrar algo dos outros. Porque agora você apenas é, e o ser é absoluto, absorto de quaisquer distrações ou ilusões dos sentidos.

A sabedoria faz as pessoas sóbrias; a ignorância faz as pessoas cegas.

Um idiota nunca quer ser idiota sozinho. Um ignorante sempre tem algo a compartilhar: ele quer ver todos a seu patamar; porque se considera a si mesmo pequeno e indigno de conseguir se elevar, quer diminuir os outros até vê-los próximos a si.

O que os outros dizem é de total responsabilidade deles; assim, nada necessariamente nos diz respeito senão a nossa própria concepção acerca de nós mesmos. Preocupar-se com julgamentos não nos diz nada: o que tem relevância é ser autêntico, original e verdadeiro. Se alguém consegue carregar ao menos uma dessas características, já poderá ter certeza de ter dado a mínima contribuição à humanidade.

Um dos indicadores de uma grande alma é a quantidade de árbitros que a ela se opõem. Quanto mais corretos estivermos, mais inimigos atrairemos. Continuar em acordo com a nossa verdade individual nos custará a perda de apoio externo; mas, em compensação, nos aliviará a consciência ao ter em vista que a falta do mesmo implica em aumentar a sensação de auto apoio, que é interno, pessoal e intransferível.

O VÉU

Descobri a sabedoria do silêncio ao me deparar com o caos das multidões e com o barulho das mentes vazias; ele me revelou que, quando a palavra já cumpriu a sua finalidade, por consequência, perde seu significado, e que o inaudível é a própria linguagem de Deus.
Descobri o amor ao ver o quanto o buscava nos outros; a partir disso, entendi que, nesse sentido, a verdade é uma só: o amor está em mim, pois que é essa a minha própria substância; e que tudo que receber de fora será por reflexo daquilo que houver oferecido.
Descobri a importância de respeitar o espaço das pessoas quando o meu próprio foi posto à prova; e isso me fez dissociar qualquer antiga ideia de espaço, por ele não existir; qualquer lugar em que esteja será sempre o meu "aqui".
Descobri que não me voltar demais ao passado ou planejar demais o futuro fazia bem quando percebi que o "ontem" ontem era hoje, e o "amanhã" amanhã também será hoje; ambos convergem ao mesmo ponto, porque ele é uma dádiva, e, por isso, se chama presente.
Descobri o quanto é importante seguir o fluxo da vida e não resistir às tempestades que tentavam me abalar em meio à efemeridade de tudo que me cercava; assim, compreendi a maravilha que é ser vento, ser fluido, de não parar, de deixar ir, de não prender, de não pedir.
Descobri o quão relevante é a pureza da alma ao vê-la tocada por mãos sujas de vaidade e egoísmo; a partir daí, entendi que o sol não pode brilhar através de uma vidraça imunda, e que não se pode contar as melhores histórias senão em papéis em branco.
Descobri que a paz começa em mim e que não pode ser encontrada lá fora ao perceber que em vão a atribuía somente à quietude externa; então, passei a alimentá-la em mim mesmo, porque em mim ela já existia, só necessitando minha atenção para, como uma muda que cresce ao ser regada, ser manifestada.
Descobri que eu, somente eu, poderia me guiar quando confrontado por quem dizia saber o melhor para mim; daí, pude enxergar que a verdade não é universal; mas o que condiz com cada um; mais ainda, é aquilo em que se crê, e não aquilo que dizem ser.
Descobri que não dar atenção à crítica ou à opinião alheia tornaria mais suave a experiência da vida ao observar o quanto eu me desdobrava a fim de me ajustar a isso, mesmo que implicasse em me depreciar; hoje, a própria observação me demonstrou que o que se julga nos outros é exatamente o que se falta vencer em si; e, sendo assim, o julgamento se torna um modo de esconder as próprias fraquezas, fazendo de quem o recebe um espelho, o qual revela muito mais a respeito de quem julga do que de quem é julgado.
Descobri, ainda, que cada evento na vida possui tempo para ser e que não se pode contrariar a sua espontaneidade ao tentar apressar o que ainda não se pode receber, ou retardar o que já está no tempo de aprender; dessa maneira, tornou-se possível compreender que o que fosse para o bem sucederia no momento oportuno, sem expectativas; assim, surgiu também o respeito pelo ritmo da vida, pois que não há sincronicidade maior senão na cadência e alternância das estações do ano, no fluxo e refluxo das marés, ou no nascer do sol e no seu ocaso.

Julga-se as falhas dos outros, porque, primeiro, reconhece-se naquelas aquilo que já há em si.

Em lugar em que não se pode ser, qualquer aparentamento não é mera coincidência.