Coleção pessoal de EddieLadislau
E com uma letra bem pequena, lá estava escrito no seu epitáfio: tentou ser, não conseguiu; tentou ter, não possuiu; tentou continuar, não prosseguiu; e nessa vida de expectativas frustradas tentou até amar… Pois bem, não conseguiu, e aqui está.
Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles... Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências…
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Essa mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles!
Eles não iriam acreditar! Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação dos meus amigos, mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não o declare e não os procure.
Às vezes, quando os procuro, noto que eles não têm noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles e me envergonho porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem-estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamento sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer… Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos e, principalmente, os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus verdadeiros amigos.
"O que eu adoro em ti não são teus olhos,
teus lindos olhos cheios de mistério,
por cujo brilho os homens deixariam
da terra inteira o mais soberbo império.
O que eu adoro em ti não são teus lábios,
onde perpétua juventude mora,
e encerram mais perfumes do que os vales
por entre as pompas festivais da aurora.
O que eu adoro em ti não é teu rosto
perante o qual o marmor descorara,
e ao contemplar a esplêndida harmonia
Fídias, o mestre, seu cinzel quebrara.
O que eu adoro em ti não é teu colo,
mais belo que o da esposa israelita,
torre de graças, encantado asilo,
aonde o gênio das paixões habita.
O que eu adoro em ti não são teus seios,
alvas pombinhas que dormindo gemem,
e do indiscreto vôo duma abelha
cheias de medo em seu abrigo tremem.
O que eu adoro em ti, ouve, é tu'alma,
pura como o sorrir de uma criança,
alheia ao mundo, alheia aos preconceitos,
rica de crenças, rica de esperança.
São as palavras de bondade infinda
que sabes murmurar aos que padecem,
os carinhos ingênuos de teus olhos
onde celestes gozos transparecem!...
Um não sei quê de grande, imaculado,
que faz-me estremecer quando tu falas,
e eleva-me o pensar além dos mundos
quando, abaixando as pálpebras, te calas.
E por isso em meus sonhos sempre vi-te
entre nuvens de incenso em aras santas,
e das turbas solícitas no meio
também contrito hei-te beijado as plantas.
E como és linda assim! Chamas divinas
cercam-te as faces plácidas e belas,
um longo manto pende-te dos ombros
salpicado de nítidas estrelas!
Na doida pira de um amor terrestre
pensei sagrar-te o coração demente...
Mas ao mirar-te deslumbrou-me o raio...
tinhas nos olhos o perdão somente!".
Versos Íntimos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Sou alguém que não se compreende tão facilmente. Não há uma palavra exata que defina essa confusão que precede os meus passos. Carrego discretamente, nas entrelinhas da minha alma, uma clareza que se confunde com abstração e desencanto. Não é preciso acreditar no que eu digo, mas nunca duvide dos meus sentimentos. Eles falam por mim, enquanto me mantenho mudo por absoluta falta de vocação para ser ouvido. Prefiro caminhar calado, mas jamais me mantive assim por covardia. É que o silêncio da minha boca tem a força necessária para conter o furor dos meus pensamentos. Não confunda a minha quietude com tristeza. Esse é apenas o meu jeito respeitoso de discordar de mim mesmo”.
A confusão toda que acontece dentro de mim é que a minha razão me manda ir embora, e meu coração não sabe se fica ou se vai com ela.
Despedida
E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perde da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.
Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.
E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?
Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.
Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.
A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.
Algumas vezes eu fiz muito mal para pessoas que me amaram. Não é paranóia não. É verdade. Sou tão talvez neuroticamente individualista que, quando acontece de alguém parecer aos meus olhos uma ameaça a essa individualidade, fico imediatamente cheio de espinhos - e corto relacionamentos com a maior frieza, às vezes firo, sou agressivo e tal. É preciso acabar com esse medo de ser tocado lá no fundo. Ou é preciso que alguém me toque profundamente para acabar com isso.
Que te dizer? Que te amo, que te esperarei um dia numa rodoviária, num aeroporto, que te acredito, que consegues mexer dentro-dentro de mim? É tão pouco. Não te preocupa. O que acontece é sempre natural — se a gente tiver que se encontrar, aqui ou na China, a gente se encontra. Penso em você principalmente como a minha possibilidade de paz — a única que pintou até agora, “nesta minha vida de retinas fatigadas”. E te espero. E te curto todos os dias. E te gosto. Muito.
Estou morando, trabalhando, estudando e amando. Esses são os quatro foles da minha vida, no momento, e sobre cada um deles eu teria milhares de páginas a preencher. Sei lá, menina, está tudo tão legal — e um legal tão batalhado, um legal merecido, de costas e pernas doendo, mas coração tranqüilo.
Há uma distância enorme entre eu e as pessoas. Estou chegando de experiências que elas não tiveram - e eu não estou sabendo o que elas viveram nesse tempo que fiquei fora. E difícil, difícil. Como começar tudo de novo. Até reencontrar os pontos de contato, leva tempo. Entre eu e as pessoas. Entre eu e a terra. Entre mim e eu.
Além disso, sou terrivelmente instável e entender as minhas reações é coisa que às vezes nem eu mesmo consigo. Não posso mentir a você, não quero. Mas por favor não fantasie, menina, não seja demasiado adolescente. Como eu te escrevi várias vezes, é no nosso encontro, cara a cara, olho a olho, que as coisas vão se definir. Veja se você consegue separar o sonho da realidade. Anel, por exemplo, é um sonho. É um sonho que trago comigo há muito tempo e que comuniquei a você? E que não é hora ainda de ser realidade, porque não tenho absolutamente nada além da minha cuca? Você me entende? Menina, menina, tenho uma ternura enorme por você? E para mim é muito difícil isolar essa ternura da razão, quando te escrevo. Como fiz agora. Talvez tenha te parecido duro ou demasiado frio. Mas acho, honestamente, que você não deve se arriscar a ter uma tremenda decepção, depois de um ano inteiro de sonhos. Nós vamos nos ver, nós vamos conversar, sair juntos, provavelmente nos tocar? E de repente tudo pode realmente ser. Ou não. Mas de jeito nenhum quero, sei lá, ser irresponsável ou não medir as conseqüências dum negócio que pode ser muito sério. Já não sou o mesmo, como você também não é. Endureci um pouco, desacreditei muito das coisas, sobretudo das pessoas e suas boas intenções.
Uma vez eu disse que a nossa diferença fundamental é que você era capaz apenas de viver as superfícies, enquanto eu era capaz de ir ao mais fundo, você riu porque eu dizia que não era cantando desvairadamente até ficar rouca que você ia conseguir saber alguma coisa a respeito de si própria, mas sabe, você tinha razão em rir daquele jeito porque eu também não tinha me dado conta de que enquanto ia dizendo aquelas coisas eu também cantava desvairadamente.
Diante dos meus conflitos internos, no êxtase da minha autoanálise, posso ver o quanto sou frágil, carente, dependente e necessitado de amar e ser amado. A vida só faz sentido quando estamos ensandecidos do mais nobre sentimento chamado amor.
Sou cheio de virtudes
Mas também tenho meus defeitos
Não nego minhas "luas"
Pois é quem eu sou
E ninguém é perfeito
Gosto de tudo do meu jeito
Me irrito facilmente
Pra alguns sou perfeito
Pra maioria, um delinquente
Sou uma pessoa intensa
Me apego muito rápido
Me apaixono muito fácil
Se em uma hora estou amando
De repente posso estar odiando
As pessoas dificilmente conseguem me persuadir
Sou chato pra caramba
Faço o que me convém
Posso ser egoísta?!
Sim, nunca sei quem realmente me quer bem.
Fale o que quiser para mim
Mas esteja preparado,
Posso ser grosso, devido às suas palavras, às vezes um tanto exagerado.
Minha vida é assim
Não obrigo ninguém a ficar
Sei que os que permanecem são os que me amam
Pois só me amando mesmo pra me suportar.
Chorar velhos amigos que perdemos não é tão proveitoso e saudável como nos alegrarmos pelas novas aquisições de amigos.
Você se cansa de amores incompletos, de amores platônicos, de falta de amor, de excesso disso e daquilo. Se cansa do "apesar de". Se cansa do rabo entre as pernas, da sensação de estar sendo prejudicado, se cansa do "a vida é assim mesmo". Você se cansa de esperar, de rezar, de aguardar, de ter esperanças, cansa do frio na barriga, cansa da falta de sono.
Você se cansa da hipocrisia, da falsidade, da ameaça constante, se cansa da estupidez, da apatia, da angústia, da insatisfação, da injustiça, do frenezi, da busca impossível e infinita de algo que não sabe o que é. Se cansa da sensação de não poder parar.