Coleção pessoal de drslemos

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Palavras

Falamos tanto em tomarmos atitudes positivas, pensarmos positivo, agirmos de maneira positiva. Falamos também em dizermos coisas positivas. Só que poucos pensam no poder que têm todas as palavras na nossa vida e nas dos outros.

As palavras têm poder!
E disse Deus: -Haja luz! E houve luz!
Com palavras Ele criou o mundo.
As palavras têm grande poder em tudo o que fazemos. Tudo o que proferimos vai agir em nos, vai influenciar em toda a nossa vida e na daqueles que convivem conosco. Pouco pensamos ao etiquetarmos os outros. Não refletimos a nossa falta de cuidado ao etiquetarmos as pessoas de lerdas, bobas, burras, idiotas, sem jeito, retardadas... e tantas coisas que podem sair da nossa boca. Então pensamos isso são apenas palavras e não aquilo que desejamos para as pessoas.
Mas...
Palavras cortam, ferem, curam, consolam, maldizem, bendizem, abençoam, amaldiçoam, constroem, destroem. E uma vez ditas, não há como voltar atrás.
Quem diz que morre de saudade, de sede, de fome, de ódio e até de amor, vai morrendo aos pouquinhos de verdade, porque é isso o que disse e as palavras pesam.
Jesus disse à figueira para que secasse e esta secou; disse ao mar que se acalmasse e este se acalmou; disse "-levanta-te e anda" e o deficiente andou... Quanto poder nas palavras do Mestre!!!
A nos foi dado também o poder, mesmo se nossa fé é menorzinha que um grão de mostarda.
Não pensamos muito quando falamos. Quando irados, nem mesmo pensamos. Portanto... quão bom seria refletíssemos antes de dizer um ai.
Falamos por falar, porque todo mundo fala e que é assim mesmo. Mas nos surpreendemos quando as coisas começam a acontecer. Então dizemos que parece até que estávamos adivinhando... ou o clássico: "eu não disse?" Claro, disse sim, adivinhamos sim... nada mais natural que os desejos do nosso coração se realizem.
É possível mudar a consequência dos fatos na nossa vida, mudando nosso modo de expressão. E possível trazer bênçãos e saúde, felicidade para nós, nossos filhos, nossos amigos, nossa família.

Entre o ontem e o amanhã

Quem já não teve essa
sensação de nadar e nadar na
direção da margem,
sentir-se cansado e desolado
com o tempo que desgasta
e desespera e quando pensa,
enfim,
que chegou ao fim das penas...
descobre que ainda tem outro
tanto a nadar?!...

A vida nos parece um constante combate.

Nos perguntamos nesses
momentos se a situação não terá
um fim e quando teremos a tão
falada felicidade completa.

Compreendemos provavelmente
a vida olhando-a do lado avesso.

Marcamos o dia do
nosso nascimento e fugimos
do dia da nossa morte e o
que há entre esses dois pontos,
que é realmente a vida e o
caminho a ser percorrido,
parece mais insignificante.

Entre o ontem nostálgico
ou dolorido e o amanhã incerto,
está o hoje,
que deve ser vivido e aproveitado.

Ele não é perfeito?
Nada é perfeito!!!

Nos dizemos que se tivéssemos
isso ou aquilo a situação
seria diferente,
mas não é raro que a gente
tendo muito nas mãos fica sem
saber o que fazer ou que
direção tomar.

Talvez o melhor da festa
seja realmente esperar por ela,
se preparar,
idealizar e viver intensamente
esses momentos esperados.

Um mar de rosas não
existe e se existisse,
haveria ainda assim alguns
espinhos entre as pétalas e flores.

Aprendi que o hoje é o que
eu tenho nas mãos,
é o que faz bater meu coração,
é o que me faz viva e se
ele é bom ou ruim,
é apenas uma etapa na construção
do meu eu e que isso é positivo.

O melhor de mim é o que,
com a graça que me foi dada,
posso fazer cada dia,
fazendo assim meu dia e deixando,
pouquinho a pouquinho,
os rastros da minha história.

TEXTO: Letícia Thompson

Deus é isto: A beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também.

Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil da nossa arrogância e vaidade. No fundo, somos os mais bonitos...

Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma. Daí a dificuldade...

Mas nós somos como as lagartixas que perdem o rabo: logo um rabo novo cresce no lugar do velho. Assim é com a gente: logo a vida volta à normalidade e estamos prontos a amar de novo.
A saudade doída passa a ser só uma dorzinha gostosa.

O esquecimento, frequentemente, é uma graça. Muito mais difícil que lembrar é esquecer! Fala-se de “boa memória”. Não se fala de “bom esquecimento”, como se esquecimento fosse apenas memória fraca. Não é não.
Esquecimento é perdão, o alisamento do passado, igual ao que as ondas do mar fazem com a areia da praia durante a noite.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

A saudade não deseja ir para a frente. Ela deseja voltar.

Tem razão o poeta: “O amor é a coisa mais triste quando se desfaz.” É triste por causa do retrato:
porque ele faz lembrar uma felicidade que se teve e que não se tem mais. O retrato é uma sepultura.

Deus existe para tranquilizar a saudade.

O essencial é aquilo que, se nos fosse roubado, morreríamos. O que não pode ser esquecido. Substância do nosso corpo e da nossa alma... Os poetas são aqueles que, em meio a dez mil coisas que nos distraem, são capazes de ver o essencial e chamá-lo pelo nome. Quando isto acontece, o coração sorri e se sente em paz...

Um livro é um brinquedo feito com letras. Ler é brincar.

Não foi à toa que Adélia Prado disse que "erótica é a alma". Enganam-se aqueles que pensam que erótico é o corpo. O corpo só é erótico pelos mundos que andam nele. A erótica não caminha segundo as direções da carne. Ela vive nos interstícios das palavras. Não existe amor que resista a um corpo vazio de fantasias. Um corpo vazio de fantasias é um instrumento mudo, do qual não sai melodia alguma. Por isso, Nietzsche disse que só existe uma pergunta a ser feita quando se pretende casar: "continuarei a ter prazer em conversar com esta pessoa daqui a 30 anos?"

Eu sou muitos!

A alma é uma borboleta... Há um instante em que uma voz nos diz que chegou o momento de uma grande metamorfose...

Aprenda a gostar, mas gostar mesmo, das coisas que deve fazer e das pessoas que o cercam. Em pouco tempo descobrirá que a vida é muito boa e que você é uma pessoa querida por todos.

Amores novos não combinam com a dignidade dos velhos.

A beleza não elimina a tragédia, mas a torna suportável.

A complicada arte de ver

Ela entrou, deitou-se no divã e disse: "Acho que estou ficando louca". Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. "Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões - é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo me causa espanto."

Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as "Odes Elementales", de Pablo Neruda. Procurei a "Ode à Cebola" e lhe disse: "Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: 'Rosa de água com escamas de cristal'. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver".

Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.

William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.

Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.

Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. "Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios", escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada "satori", a abertura do "terceiro olho". Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: "Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram".
Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, "seus olhos se abriram". Vinicius de Moraes adota o mesmo mote em "Operário em Construção": "De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa - garrafa, prato, facão - era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção".

A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas - e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam... Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.

Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras. Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: "A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as tem na mão e olha devagar para elas".

Por isso - porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver - eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar "olhos vagabundos"...