Coleção pessoal de dougeuse
A humanidade se apega à infinita benevolência e sabedoria de um ser supremo, mas não as cultiva em si mesma.
A natureza incerta de tudo cultivou em mim resistência a uma crença maior que me tirasse do papel de ser breve, material e fortuito. Até que compreendi que tomar algo como verdade é uma forma de mitigar a exaustão de uma existência tão probabilística, não torná-la certeira.
Carregamos um fragmento tão único das estrelas que é sufocante manter tamanha riqueza guardada apenas para si. Daí surge o desejo humano intrínseco por conexão.
De herói a vilão, o universo nos coloca em diferentes papéis no teatro da vida para sermos capazes de enxergar por todos os ângulos desse prisma emocional.
Sempre tive facilidade em enxergar o melhor nas pessoas e enriquecê-las através da minha perspectiva, mas nunca fui capaz de fazê-lo comigo mesmo...
De tempos em tempos volto pro velho sentimento de não me enxergar como o protagonista da minha própria história.
Nada me intriga mais do que o pensamento abstrato e sua dualidade, sendo a cura para uma realidade inconcebível e o veneno que nos afasta do mundo concreto.
Ter sido concebido por duas pessoas tão incompatíveis codificou em meus genes um senso de preservação para nunca me entregar a alguém sem reciprocidade plena.
Luto pra que as incertezas da existência jamais me façam questionar novamente a dádiva de ter sido gerado pelas estrelas.
Há certos aspectos da existência que a autoconsciência permite compreender, mas não neutraliza o pesar do sentir.
Somente a constância e a sabedoria do tempo são capazes de atenuar o fardo de ser um ser carregado de emoções.
Sair do conforto da minha solitude e me conectar ao outro me trouxe longe, mas cheguei no andar limítrofe dessa escalada.
A jornada só continua agora ao nutrir o que sempre esperei receber da vida, mas só pode ser gerado a partir de mim mesmo.
Orgulho e propósito.