Coleção pessoal de DonCMartins
A arte da vida e de viver, essa dádiva poucos tem. Bendito seja a pessoa de sorte para tal ato. A ideia é que de fato todos morrem, mas poucos vivem. O fardo das minhas consequências pesa muito. Minhas atitudes inconsequentes me lavaram para muito longe, mas me deixaram só. Plantei falsas mentiras, estou colhendo a verdadeira solidão. Se meu vizinho que elogia minhas linhas e verdes mudas soubesse o que fiz para tê-las, ele se mudaria daqui. Eu forjei minha vida em uma corda bamba. Eu plantei sementes que agora as raízes não param de crescer. No final da colheita, a conta sempre chega para todos, comigo não seria diferente. Isso é tão certo quanto ao sol ardente que está atrás das nuvens em um dia nublado.
Minha estante de memórias está clamando por mais peso. Mais uma vez a submissão da vida pressiona meu âmago com seu peso divino. Pego uma caneta e uma carta e anoto o instante que se passou desde minha última anotação. Ao terminar de escrever está na hora de preencher minha estante de memórias. Pego um isqueiro e incendeio a carta. Minha estante de memórias está sendo preenchida com mais cinzas e brasas. No momento em que coloco fogo ouço a ponte se quebrar mais uma vez. Volto a caminhar ainda com a carta em chamas. Não há nada mais gratificante do que ter o futuro iluminado pelas chamas do passado.