Coleção pessoal de DeploravelMente
Sobre a grama havia um papel
Nele não havia nada escrito
Amassado por completo
E mesmo com o vento, estarrecido
Nem com a chuva se movia
Se secava ao sol que precedia
Com o tempo foi perdendo a linha
Era a folha do caderno de um suicida
Só a morte poderia lê-lo
E assim o fez com muito zelo
Suas palavras eram profundas como o fundo de um poço
Ele se atirara lá um pouco mais cedo, era um bom-moço
Formulava o infinito e o guardava dentro de si
Compreendê-lo era complexo, tal como língua tupi-guarani
Dentro de um buraco abstrato não havia reversão
Colocou pedras acima dele, por livre e espontânea precaução
Descansar os ossos lhe parecia agradável
Havia sempre algo no caminho, não era nada fácil
Sua mente era um tanto quanto volátil
Aparentemente forte, e era, até ficar frágil
A folha era tão atônita quanto ele, fria e calma
Sujou-se com o barro e com a grama
Nem o que toca o coração, nem o que toca o pensamento
Nem a mais triste das canções tocaria novamente a sua alma
Tudo era efêmero e logo se tornaria apenas memórias
Nesse caso, nada satisfatórias
O tempo passou e a música acabou
Tão cedo quanto foi dizer 'olá', já era hora de dizer 'adeus'.
Estava com tanta fome que mordi o sol, e perdi o paladar pois este me queimou a língua
Embelezei o meu íntimo em gentileza de uma sepultura com construção nada metafórica
Lágrimas de tinta, palavras e lamentos poéticos, as masmorras de um refúgio
Gritos de angústia que mais pareciam sussurros em corredores vazios
Uma expressão dramática dos prazeres que um dia nutriram cada verso de um poema
As cordas que enlaçavam o pescoço, sufocavam em tom maior de dissonância
Parecia haver um sorriso obscuro, mas amigável, do outro lado do muro
Ele me jogava uma corda, juntos pulávamos como duas crianças idiotas.
Lente através da qual se enxerga a alma
Que mesmo em meio à turbulência lhe acalma
De onde se retrata a mais pura essência de um ser
E que independente do desenho, é perfeito para os olhos de quem vê
Incapaz de reproduzir em tela, mesmo com todas as cores em aquarela
Só de pensar já dá um aperto indubitável na goela
Se transforma em música, até para os ouvidos de quem não escuta
E ainda que pareça dissonante soa como uma bela diminuta
Sendo dispensável inclusive a visão, é possível sentir pelo tato, por que não?
Digo que tão somente pelo toque das mãos é notável a conexão
Sendo suficientemente poético mesmo que não se exprima um só fonema
E essa é justamente a pauta deste poema
A mais poética das poesias não se fala e nem se pensa
É espontânea e as vezes esporádica
O que se sente não pode ser dito e nem tampouco explicado
Jamais será tocada por seu tom abstrato
Onde nasce ninguém sabe, mas ainda assim eu indago os porquês
De fato, pela falta de sentido eles não se respondem e nem poderiam
E o brilho se satisfaz na incerteza de não saber o que se sabe
Não se ver o que se vê, mas ainda assim sentir o que se sente
Autêntica felicidade do sorrir dos olhos
Brilho no olhar que reflete o admirar da alma
Perfeito imperfeito transparecer daquilo que somos feitos
Fiel sentimento, fidedigno na mais pura concepção da palavra
Sincero e estarrecido, desconcertante nó na garganta
Testemunho de que há mais no coração que apenas sangue
Reflexão do que vale realmente a pena
Cuidado, valor que não se precifica
Preocupação, proteção e presença ainda que de longe
Assista, é o florescer do amor.
Deste açore de desamores, traduzo indolores dissabores
Pois do sol já sinto os teus calores
O devaneio do cinza torna-se lucidez de cores
Mas estes alvores são dissimuladas flores
E agradam tantos rancores quanto um coração pobre de amores
Amor, tão leve quanto a brisa que se sente
Que debaixo do cajueiro se pressente
O nascimento de uma paixão onipotente
E graças ao bom sabor se faz presente
Pois do doce do Caju aqui se extrai
A leveza de uma vida que recai
Sobre os galhos de sua árvore mais folheada
De fato, a Castanha do Caju é sua amada.