Coleção pessoal de demetriosena

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⁠ASAS MURCHAS

Demétrio Sena - Magé

Quero tanto perder o meu temor
de sondar novamente alguma chance;
meu amor estremece a minha carne
que parece até alma de minh'alma...
Vim parar tão alheio aos teus sentidos
e fiz tanta pirraça pelas mágoas,
tantas águas romperam essa ponte
numa queda sombria no meu caos...
Tua falta me castra de mim mesmo;
vou a esmo num sonho desbotado
sem nenhuma esperança produtiva...
Minha espera de ainda me chamares
foi pros ares e nunca mais voltou;
nunca mais consegui abrir as asas...
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⁠BERLINDA

Demétrio Sena - Magé

A saudade que sinto se une ao rancor;
as lembranças bonitas acolhem as más;
meu olhar é deserto, sem brilho nem cor;
quando rio, não posso desaguar na paz...

Sem você, meu destino virou tanto faz;
os prazeres que tenho só provocam dor,
pois a vida não segue, se não sou capaz
de calar tantos gritos internos de amor...

Talvez fosse possível retornar ainda,
mas agora, sou preso na minha berlinda
e não sei se consigo resgatar seu colo...

Esta mágoa cresceu em silêncio ferido;
hoje o meu sentimento procura sentido;
se você teve culpa, sei que tenho dolo...
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DECLARAÇÃO DE AMOR

Demétrio Sena - Magé

Quando me sinto magoado e me afasto, não é exatamente porque me sinto magoado. É porque uma; no máximo duas vezes magoado com profundidade, a próxima vez pode ser bem dura, não para mim, mas para quem volte a me magoar. Pelo meu temperamento, sou capaz de retornar a mágoa ao quadrado; ao cubo; exponencialmente... não quero isso para quem tem o meu afeto. Ninguém, nas minhas relações mais estreitas merece a natureza do meu rancor, quando sou ferido mais do que posso entender e suportar. Prefiro causar a indignação passageira do silêncio e o sumiço, a cometer o destempero do qual sou capaz, caso sinta, repetidamente, a dor da decepção com uma pessoa muito querida. Nestes casos, meu afastamento é protecionista... é a minha incompreensível demonstração de amor.
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⁠DAS QUEBRADAS

Demétrio Sena - Magé

Resido ao léu,
de rua em rua,
pedindo sempre
ao meio céu,
que a meia lua
me dilua...
E me situo.
Jamais em sítio,
mas em estado
Já capital,
de sítio...
Então me abrigo
onde há briga
pelo dia,
para que a noite
ainda venha...
Onde moro
eu não demoro
sem um susto;
sem esse custo
extorsivo
de morar...
e demorar...
No fundo eu sou
das quebradas
dessa gente
indigente
e quebrada...
e alquebrada...
Em já não ter
nem esperança
de residir,
sou assíduo...
O que me cansa
é que resido
onde resíduo...
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(PIN)GENTES

Demétrio Sena - Magé

Há quem sinta saudades do "não sou coveiro";
de governo que manda "passsar a boiada",
quando a própria boiada não sabe que passa
nem percebe o terreiro sob as próprias patas...
Muitos têm nostalgia das "filas dos ossos",
do tirano que "zoa" enquanto o povo morre;
que propõe um veneno pra "santo remédio"
e um porre de farsas pra calar as mentes...
Multidões de capachos da falácia insana,
da versão desumana de governo "brabo",
querem ter novamente o seu "dono e senhor"...
Os que pensam que pisam como são pisados,
querem anos passados de tormenta e caos;
pendurados nos maus é que se sentem bons..
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⁠AMOR DE ROTEIRO

Demétrio Sena - Magé

Foi amor protegido em arquivo profundo,
poucas vezes exposto somente pro alvo,
pois o mundo seria um recinto perverso,
corrosivo e capaz de nem deixar vestígio...
Um amor desses filmes que fazem chorar
com silêncio e leveza, num riso contido,
e nos fazem voar entre reinos dispersos
desenhados na aura daqueles momentos...
Foste a minha poesia de arquivo secreto,
que minh'alma nutria como eterno mito,
pra ser algo infinito nos instantes nossos...
Quando vinhas a mim entre névoa e magia,
em um dia longínquo de muita saudade,
só eu sei me dizer como eu era feliz...
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⁠POPULAÇÕES DOENTIAS

Demétrio Sena - Magé

Povos covardes, medrosos e fanáticos, embora saibam latir e mostrar os dentes, levantam e cultuam governantes "brabos", falastrões e tiranos, para servirem como barra-da-saia de suas fraquezas disfarçadas. Quanto mais covardia, medo e fanatismo religioso, mais bravatas populares... e quanto mais bravatas populares, maiores brechas para o fascismo rechear, se fortalecer e impor a desgraça, o atraso e a dominação. Populações que aclamam ou elegem feras humanas para governá-las, têm almas de rato que busca proteção no próprio predador.
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ESTOURO

Demétrio Sena - Magé

No momento em que tudo retrocede,
vai pra tempos que o tempo confinara,
tudo pede um momento pra pensar
que seguir é pra frente; não pra trás...
Não entendo a cegueira dos rebanhos
temerosos dos passos pro futuro;
são tacanhos, estão desenganados
pelo escuro da própria ignorância...
Um estouro que foge de si mesmo
se camufla de raiva e força bruta,
pra tentar esconder a covardia...
Nesta hora em que o mundo não procede,
por um vício de Velho Testamento,
ninguém cede ao clamor da consciência...
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⁠MARASMO

Demétrio Sena - Magé

Esse marasmo,
essa lentidão
que lentes dão
de olhar o nada...
Quase desisto
ou desexisto,
fico na fossa,
um tanto fóssil...
Minha preguiça
me pré-enguiça
e faz meu ócio
ser quase ósseo.
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⁠QUANDO NADA ME COMPLETA

Demétrio Sena - Magé

A minh'alma está pronta pra voar;
sem apego ao meu corpo já cansado;
há no ar mais encantos do que aqui,
para quem já cumpriu o seu possível...
Não conheço destinos, endereços,
mas também não os tive nesta vida;
sei vagar, ter apreços emergentes
e partir quando nada me completa...
Só preciso chegar a outro plano;
qualquer plano, sem muitas exigências;
ser humano não foi o meu melhor...
Sem bagagens e trapos cumpro fila,
sou argila que logo vai ruir,
pra minh'alma escapar e se perder...
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⁠NEM TANTO

Demétrio Sena - Magé

Uma mágoa; quem sabe, algumas mais;
uns enganos; talvez uns desenganos,
minha bolsa de afetos por alguém
leva bem entre os panos de vivências...
Mas o meu armazém não é sem fim;
ele pode ruir a qualquer hora;
tudo em mim é vencível com o tempo
e a força dos baques repetidos...
Sou longânimo, é fato, mas humano;
até forte, mas não esse titã
que põe dano após dano sob o pé...
Nem o lago sereno que pareço,
quando ponho no avesso cada linha
do meu rosto frustrado com quem amo...
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⁠BEM-TE-VI

Demétrio Sena - Magé

Desde sempre te vi, apesar de não ver,
te senti com a força da minha existência,
no vazio do ser que alimentava um flanco
sem essência possível para se nutrir...
Eu te vi no silêncio da distância infinda,
vi teus olhos tão fora do alcance dos meus,
te achei linda sem formas nem fisionomia,
sob véus de mistérios, fundos desafios...
Foste a minha vidência, minha profecia,
que minh'alma guardava temendo ilusões,
não sabia se dava para esperançar...
E te vi conquistar o meu mundo carente,
minha mente, meu corpo como não previ,
quando vi que te vi tão real para mim...
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⁠QUANDO NADA JUSTIFICA

Demétrio Sena - Magé

Sei perder discussões irrelevantes;
ter a culpa que venha trazer paz,
nos instantes que podem explodir
essas guerras de culpas progressivas...
O silêncio me serve como escudo,
barricada, quem sabe meu exílio,
quando tudo promete o caos total
por um nada que nada justifica...
Sou vilão pra tornar alguém herói;
pelos cristos forjados nos hormônios,
que devoram demônios ilusórios...
Agonizo, desmonto e reinvento
meu evento com fins beneficentes,
para gente que sofre de soberba...
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EGO

Demétrio Sena - Magé

⁠Disputamos vez e voz
e tropeçamos nos passos,
pois nem tudo é sobre nós;
às vezes é sobre laços...
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⁠UMA VEZ

Demétrio Sena - Magé

Já teria sentido que feri bem fundo
e tentado lembrar quantas vezes o fiz;
pararia um segundo pra pensar melhor,
que ferir tantas vezes pode ser fatal...
Quem tem sempre razão e justificativa
ou se auto perdoa com base no brio,
seguirá prisioneiro do espelho enganoso;
nunca vai sentir frio na própria frieza...
Eu teria encontrado coragem medrosa
de quebrar o silêncio como jamais feito
e achar um defeito em minha perfeição...
Afinal correrei o meu risco temido;
ficarei espremido na sombra vezeira;
ousarei estar certo esta única vez...
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⁠APOSENTADOS DE FATO E DIREITO

Demétrio Sena - Magé

O aposentado bem resolvido financeiramente só "continua trabalhando" no que lhe apraz. No que dá sentido real à sua vida, sua auto estima e à realização pessoal que vai além do ganhar dinheiro e se manter ou manter uma família. Não por necessidade. Seu trabalho, dentro desse critério, é um lazer e pode ser substituído por uma viagem ou um programa cultural, sempre que ele/ela quiser. E como regra, o aposentado bem resolvido está com a saúde sob controle, pois tem como cuidar da saúde com estilo de vida e com serviços médicos a contento. Quanto ao mais, a forma de viver é uma escolha estritamente pessoal.

São cruéis e preconceituosas, as falas e até matérias institucionais ou jornalísticas que incitam o aposentado modesto a continuar trabalhando, se ele sente que não dá mais. Ninguém tem o direito de tratar uma pessoa que tabalhou duro por longas décadas, como acomodada ou preguiçosa, por ela se sentir no direito de viver, ainda que precariamente, com o que recebe. Estão errados os patrões - tanto públicos quanto privados - que sempre remuneraram mal os trabalhadores. Estão errada as previdências, que reduzem cruel e drasticamente os ganhos do cidadão, no ato da aposentadoria. Estão errados e injustos os índices de reajustes que não acompanham a inflação real, decididos pelo poder público, cujos membros não têm ideia do que é viver com tão pouco.

O aposentado pobre, não. Ele não merece nenhuma censura por estar cansado e querer descansar, dentro de suas condições e às próprias custas. Quem mereceu uma aposentadoria depois de tanta jornada extenuante, humilhações financeiras e patronais entre outras, não pode ser tratado com menosprezo pelas instituições, a sociedade externa ou a família. Ter seus proventos modestos ou minguados e até recorrer a "benefícios" governamentais - sem ser constrangido - não correspondem a um décimo dos direitos de um aposentado pobre, que já enriqueceu tanta gente eternamente descansada.
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⁠NOSSA MÃE

Demétrio Sena - Magé

Nossa mãe repetia: Vamos ficar juntos;
que ninguém ficaria no 'colégio interno';
era um leve sussurro de força incomum,
seu eterno discurso de uma frase só...
Tinha todos os medos, mas nos proteger
era sua coragem; sua teimosia;
todo dia inventava uma vida reserva,
pra vencer todo mundo e persistir por nós...
Meu olhar a desenha chorando com risos
ou sorrindo com choros de sabedoria;
ela sempre sabia cada hora exata...
E ficamos unidos por anos medonhos,
com amor e com sonhos de vida melhor;
nossa mãe nos deu tudo: nos livrou do nada...
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⁠SEGUIR VIVENDO

Demétrio Sena - Magé

Hoje dá para rir; se não pra vida,
rir da vida e de suas ironias,
desses dias intensos e pesados
que parecem milênios ante os pés...
O deboche me ajuda na jornada;
ser curinga dá forças pra seguir,
pois é minha fachada; camuflagem
pra forçar a licença mundo afora...
De repente não acho tão difícil
suportar cada míssil da verdade
sobre toda esperança construída...
Finalmente me achei nestas ruínas;
pulo minas, dou língua para tudo
e pareço pacato a quem me vê...
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⁠MINHA COLCHA

Demétrio Sena - Magé

Se remendo meus dias por aqui,
é porque não conheço a fraude certa
pra deixar a cortina com seus flancos
numa rua deserta e sem saída...
Vou perdendo vontades e sentidos;
descarrego as quimeras que sobejam;
calo todas as minhas tempestades
que trovejam arroubos de festim...
Ser poeta me traz algum alento;
ter o vento que acolhe meus segredos
pra guardar na distância que me chama...
Só aí se completa minha colcha,
porque forjo no tempo meus retalhos
em atalhos de sonhos desbotados...
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SÓ AMOR E SAUDADE

Demétrio Sena - Magé

Só espere de mim o mesmo amor,
apesar do silêncio e do segredo,
dessa dor escondida no meu peito,
deste medo abismal do que decido...
Seguirei nos caminhos da saudade,
com lembranças que só me fazem bem,
que ninguém me fará desconstruir
nas areias do tempo e seu percurso...
O que nunca pensei não penso agora;
não espere de mim respostas duras
ao que ora desenha de quem sou...
Só amor e saudade ao me lembrar
do meu sonho e do quanto acreditei
nesse dom de sonhar que me compõe...
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