Coleção pessoal de deboraduarteb
É aquela velha sensação de novo. Aquela melancolia que surge simplesmente do nada. Aquela tristeza que transborda pelos olhos. Aquele amontoado de pensamentos desregulares que se tornam um labirinto sem saída. Aquele nó na garganta que faz o simples ato de engolir se tornar uma tortura. Aquele aperto tão intenso no coração que te faz pensar que o mesmo está sendo esmagado, destroçado. Aquele ar que parece não entrar em seus pulmões e, quando entra, arde tanto, machuca tanto que você tem a sensação de que há lâminas rasgando por baixo da sua pele. É desesperador, desolador, angustiante... e dói. Dói muito. A ansiedade dói como poucas coisas na vida serão capazes de doer. É uma dor que dura, que é feita para durar. E por mais que a gente tente, que a gente lute, ela permanecerá doendo, permanecerá nos adoecendo.
Sei lá, estou cansado, tudo parece me desgastar, eu sou muito ansioso, tudo parece demorar, em meio a multidão sou só mais um na solidão, para todos, tudo começa a passar, mas e pra mim? Quando vou parar de chorar? As pessoas me destroem sem ao menos uma lástima, talvez por isso quase toda noite durmo em poças de lágrimas, ainda vivo uma adolescência, mas já me sinto corrompido, acho que é medo de ainda não ter realmente vivido, mas ainda tenho tempo de viver, o que custa tentar? Talvez um julgamento que eu não quero enfrentar, eu sei, tenho muito medo, o que eu posso fazer? Por que eu penso que pro mundo me entristecer virou prazer, mas tudo bem assim eu sigo, sempre de cabeça erguida, pois até que eu penso na minha família com a dor da despedida.
A ansiedade é algo que vive em mim, não consigo me desprender dela. Me agoniza, me estatiza, me faz perder a respiração, os sentidos, me traz emoções, me deixa cheio de dúvidas e indisposições, mas, como tudo na vida, é questão de adaptação, já estou me adaptando!
É aquela sensação de novo.
O seu corpo sente ela chegar, seu coração palpita a bater forte, na sua cabeça um labirinto sem saída...
De onde veio?
Por que dói tanto?
Está tudo bem! Então por quê?
É quase inútil lutar e, quanto mais você luta, mais dói; a ansiedade dói e muito!
– Todo mundo tem algum medo. E você? tem medo de que?
– De mim.
– Tem medo de você mesmo?
– As vezes tenho.
– Por que? O que é que você tem, que dá medo?
– Eu tenho pensamentos ruins...
“Amo a liberdade, por isso deixo as coisas que amo livres. Se elas voltarem é porque as conquistei. Se não voltarem, é porque nunca as possuí.” Ela escreveu essa frase no meu caderno em 1984. Descobri, só hoje que é do John Lennon. Este é o último texto que estou escrevendo para ela e eu não sei como começar isso. Engraçado que, depois de tudo que já vi e vivi eu não tenha, ainda, conseguido aprender a superar a sua ausência. Convivemos por muito pouco tempo, eu sei. Mas, para mim, foi intenso. Recordo as conversas por horas a fio depois das aulas, os papos sobre a eternidade, sobre Deus, sobre Nietsche e o Eterno Retorno, eu na sua casa tentando ensiná-la a tocar violão, nós ensaiando uma música para um festival na casa de meus amigos... Me lembro perfeitamente da nossa viagem para a Prainha, nós escalando o portão do apartamento que eu morava pois eu estava sem a chave do prédio (acabamos entrando pela janela da cozinha!), ela passando a noite no meu quarto, como amigos. Só agora posso ver como fui fraco ao não tentar lutar pelo seu amor quando éramos jovens. Somente hoje entendo, realmente, como essa menina era importante na minha vida. Eu a amava muito. Além do que deveria, talvez. Mas eu não acreditei em mim mesmo e pensei que esse amor fosse passar um dia, pois eu me achava muito velho para ela. Que era apenas uma paixão momentânea e ela jamais corresponderia e, por isso, deixei ir (como ela ensinou...). Contudo, descobri com o tempo que, na realidade, esse sentimento fora uma pequena semente plantada no meu coração e que se transformaria em uma árvore imensa, tomaria meu corpo e invadiria meus pensamentos até não deixar espaço para que eu respirasse. Ela se tornou, com o tempo, a única razão da minha existência. Por esse motivo, vivi para procurar por ela e poder contar o que eu sentia, até que finalmente consegui encontrá-la depois de 34 anos. Mas eu não me dei conta que tempo demais havia se passado. O mundo mudou, a vida mudou, ela mudou. Hoje reconheço que ela estava certa quando me disse que me via preso no passado. Eu não mudei, realmente. Continuei acreditando naquele sentimento e esperando por ela. Agora, nem sei mais como dizer o que sinto desde que a menina me disse... não, na verdade ela não me disse nada. A menina dos olhos castanhos simplesmente se foi. E, novamente, perdi talvez a única amiga verdadeira que eu já tive. Quem sabe, no futuro, a gente se encontre e eu consiga transformar o que estou sentindo agora, enxugar as lágrimas e rir deste tempo. Mas, Menina linda dos olhos castanhos, saiba que estarei aqui para você. Sempre.
E a eternidade começou, mas o homem não nasceu para ser eterno. Nascemos para morrer, para nos tornarmos matéria orgânica. Para nos tornarmos memórias e esquecimento no coração dos homens.
O amor é a única coisa que somos capazes de perceber que transcende as dimensões do tempo e do espaço. Talvez devêssemos confiar nisso, mesmo que não consigamos entender.
Você já subiu no alto de um prédio, olhou para baixo e ficou se perguntando quem são aquelas pessoas lá embaixo e para onde elas caminham? É engraçado, existe tanta gente no mundo e nós pensamos que sabemos tudo sobre todos, quando na verdade, não sabemos muitas vezes quem nós somos, o que dirá, saber quem são eles logo ali embaixo.
Observe o oceano. Ele é tranquilo, calmo e em toda sua imensidão, conserva sua serenidade. E mesmo nas tormentas, quando tudo passa, ele retoma a calmaria. Algumas pessoas são assim, calmas e tranquilas. Apenas se preocupam em continuar vivendo, apenas se preocupam em deixar que a tempestade passe, que a fúria acabe, que a brisa volte, que a quietude não lhes deixem jamais.
Conhecer e amar a nós mesmos e aos outros também, éo trabalho mais difícil e significativo que faremos.
Eu quero quebrar esses ossos até eles ficarem melhores. Você estava errado, minha cura precisava mais do que tempo.
Aqui estou eu, me abra. O que você quer saber? Eu sou apenas uma criança que cresceu com medo o suficiente para manter a porta fechada e enterrar minha inocência.
Ela é imperfeita, mas tenta. Ela é boa, mas mente. Ela é dura consigo mesma. Ela está destruída, mas não pede ajuda. Ela é confusa, mas é gentil. Ela é solitária na maior parte do tempo. Ela é isso tudo misturado, e assada em uma linda torta. Ela se foi, mas costumava ser minha.
Ninguém percebe quando partimos. Quero dizer, o momento em que realmente escolhemos partir. Na melhor das hipóteses você pode sentir um sussurro ou uma onda de sussurros ondulando subitamente.
Pare de levar mais a sério o que as outras pessoas dizem do que o que você sente e sabe sobre si mesmo.