Coleção pessoal de DaVinci322
Mas seus remédios não curam a doença: só fazem prolongá-la. De fato, seus remédios são parte da doença. Buscam solucionar o problema da pobreza, por exemplo, mantendo vivo o pobre; ou segundo uma teoria mais avançada, entretendo o pobre. Mas isto não é uma solução: é um agravamento da dificuldade. A meta adequada é esforçar-se por reconstruir a sociedade em bases tais que nela seja impossível a pobreza.
Perto Da Linha
Perto da linha, ou do limite, pra mim qual a diferença?,
Amor jogado e frente me encarando,
Já estou acostumado, não que me satisfaça,
Nem que me contenha,
A linha que subverte, me atrai,
Quero chegar a um ponto onde ninguém pode,
Me atiro para fora dela, e me arremessam para dentro,
De onde vem tamanha ilusão!
De que o poder é não querer,
Quem pode faz, como fiz...
Mesmo sendo jogado para fora,
Tamanho consumismo de querer-se,
Consumado pela raia metabólica: a vida,
Corro; pelo buscante anseio temporário,
Como o relento da noite que erra o ambiente,
Busco exclamado; o jigajoga intenso de minha existência,
Agora, já leve, os raios celeste tomam conta de mim,
Ao se (im)pôr continuo aquecido amarelento,
Por vezes contemplo o peso da atmosfera, tão leve e tão densa,
O perigo do aturado é deparar-se tanto com a luz negra como a luz branca no fim do túnel,
Manter distância da negra é imprescindível, pois engole como se fosse buraco negro,
Por vezes, muitas aliás, não há revés,
Para sempre será carregado o estigma, o para-raio da melancolia, covardia de outrem.
E volto à linha, mesmo assim, não por audácia mas por burrice mesmo,
A burrice da vontade de querer ser o que sou,
A ingênua burrice de não acomodar-se,
Tão louca quanto a contenção reprimida do desejo em ser,
A conclusão do certo, do normal não existir,
Serei, onde estiver; estarei quando existir,
Sou, por original, estou onde quero,
Fui amaldiçoado, estive incomodando,
Quero novamente enfrentar,impetuoso, a linha de chegada,
Fácil de encará-la, afável traquejo da sua graça,
Como se fora convidado à entrar em sua sala,
Como se fora, não, é convidado,
Despejo a lágrima da insolência, que outrora o fui,
Recebido com uma enorme generosidade,
Fui desvirtuado pela própria ilusão do poder, vaidade,
Ceguei-me em virtude da conquista, em ter conhecido o limite do ser.
VINEGAR TOM
“Vinegar!” Expressão? Negação!
O inexprimível, não está nessa palavra,
“Vinegar” o meu amor,
“Vinegar” o silêncio da minha paixão,
Vi negar o estado angelical de meu espírito,
Vou negar suas mexas castanhas,
Vou negar meu coração injetável de dor,
Vou negar que, nela, não penso mais,
Vou negar por ela, nas minhas entranhas,
“Vinegar!” A pureza da minha alma,
“Vinegar!” Como fui usado de consolo!
“Vinegar!” A certeza da minha singelês,
Vou negar! Tudo aquilo não feito,
Vou negar! A sujeira pincelada na alma,
Vou negar! A celebração dos momentos de devaneio,
Vou negar! A desonra da minha perfeição,
Vou negar! O cruzar de olhares insinuantes,
Vou negar! A negação de que querias lambuzar-se,
Vou negar! O primeiro contato de lábios ardentes,
Vou negar! Sua iniciativa do desejo em me beijar,
“Vinegar!” A perfeição,
“Vinegar!” A confusão,
“Vinegar!” Uma história intangível,
“Vinegar!” O Tom de minha nota,
Vou negar! Que me apaixonei, e serei,
Vou negar! Meu ser ingênuo,
Vou negar! Que quando estou a amar, não sei andar,
Vou negar! Que não sofri, chorei por ter vivido,
Vou negar! A minha obsessão pelas mulheres,
Vou negar! Que o microfone me deliciava,
Vou negar! O canto a me saciar,
Vou negar! Que acabei ficando, apenas em lembranças,
Vou negar! Que não, mais, penso nela,
Vou negar! Que ainda a quero.