Coleção pessoal de Darklee
Delírio
Memória morta que ainda se faz presente
Aquele a quem chamo de felicidade com um tom obsessivo
Esse que se faz ausente mesmo quando estou em seus braços
Minha pessoa é tão perfeitamente imperfeita que me faz lembrar as obras de Tim Burton e “Bathroom Dance”
Sempre mordaz e misterioso
Um delírio pretensioso que me fascina
Cada passo seu exala um perigo que insisto em sentir de perto
Meu anseio
Aviso previamente, pois espero que esteja ciente: eu aceitaria de bom grado esta minha morte se fosse ao seu lado.
Distorção
Tolice minha achar plausível a estabilidade do amor!
Aquele que se diz “poeta” jamais… E que se tenha soado alto o suficiente para meu coração sinuoso entender — jamais saberá, mesmo que por finito, o que é ser assim a dois
Ser assim menos sozinho
Menos eu
Delirante e ineficaz na tentativa de nós
Talvez eu nem seja louco, talvez eu apenas tenha aceitado essa função que me foi dada há muito tempo: criar e assistir definhar a distorção que chamo de amor.
O álcool da meia-noite
Palavras… são elas tais, sem tirar nem por, muitas vezes, razão dos meus ais.
Essas que rastejam pela sombra da noite e não precisam ser verbalizadas para serem ditas.
Proferem algo que o insano fará e o são achará louco.
Vício esse que já não posso largar.
Um tanto contraditório, pois tenho leveza e não sinto mal-estar.
Indiferente, mas ainda assim feliz de um jeito que não sei e até se faz preferível não explicar.
Distópico, convexo e módico.
A dor já não me acomete mais, pois ontem cometi sincericídeo.
Minha Dahlia
Instigante como vestígios de uma ruína antiga
O vermelho nunca combinou tanto com seus olhos castanhos e sua pele amarela
Sempre se sentindo um pouco perdida e inundada
A complexidade voraz de tuas curvas limita
Há uma perca de brilho em teus olhos, minha Dahlia
O vigor é drenado por um coração confuso e o pedúnculo agora murcho se inclina, já não há vestígios de pétalas, mas ainda assim és bela e graciosa
Como um dia chuvoso e as folhagens no outono
Sei que irás definhar ao anoitecer, mas peça-o que esteja está noite com você.
O sentimento do poeta
Transbordei
Senti o gosto das gotas do oceano que impiedosamente obliteram qualquer sentimento
Não sinto nada além de uma partícula de indiferença.
Ocasionalmente parece que me enterraram viva
Os vermes rastejam pela minha pele nua.
Há algo escrito onde os meus olhos não podem enxergar
Tento alcançar o sol, mas a bela estrela agora rasga minha pele e queima os meus olhos.
Já não me é permitido o vislumbre da felicidade
Sou como aquele que já não pode ser encontrado:
Um poeta na penumbra.
Não é um "até logo"
Hoje me despeço
Sem pedidos ou acréscimos
Vou… mesmo querendo que me pedisse para ficar
Sem desculpas e coisa alguma, já não sei me explicar
Um sentimento ou dois, talvez seja três, mas já não sei qual
Algo que se dissolve e escorre como sangue na neve
Uma esperança vegetativa me fez acreditar, mas agora consigo entender que não foi e não será
Sinto isso me corroendo e se fixando no meu coração
Adeus
Sem choro nem pesar porque “o que está morto não pode morrer”.
Placebo
Ainda lembro do gosto que tem
O suplício de acreditar em tudo que me é conveniente
O devaneio de um coração conscientemente insensato
A decadência de se basear num conto de fadas
Sobre uma superfície de pétalas
Mais frágil que um sapatinho de cristal ou uma cápsula de vidro
Como pode uma mentira recorrente ser a minha verdade?
O que me mantém é volátil e transparente
Nada palpável e sempre contraproducente
Essa é a ânsia do sonho de um tolo.
Perda
Aceito minha culpa
Te fazer ir foi uma decisão somente minha
Te querer para sempre foi o castigo que me impus
Agora me dói cada lembrança sua
Aquela velha foto que esqueci de apagar
Você mudou e agora o melhor a fazer é ignorar a sua existência
Mais uma vez à mercê de mim
Suspirando pelos cantos por aceitar o inaceitável
Não é o seu perdão
É a sua presença
Você está presente em tudo
Todos os dias
Minha razão falha mais uma vez
Confie só por hoje, porque o amanhã é um adeus
Inverdade
“Não seja tola”
Essa era a frase mais sensata que eu poderia desacreditar
“Você sabe como termina”
“Não precisa se arriscar”
No fundo, eu sabia
Era como quando você está tentando acordar da sua própria realidade…
Você grita e ignora
Se recusa a ouvir a própria voz, mas continua a se deliciar com as migalhas que sussurra aos ouvidos
Tão pouco que nem se quantifica
Afundando na areia movediça das suas escolhas
É algo que eu não posso aceitar
Então, me grite, me rasgue e me morda
Só não me deixe continuar acreditando…
Me permita
Peço que me permita mesmo que por um instante
Me deixe ser para você
Ser uma parte sua que não morre
Compartilhando esses momentos
Esse capricho de você
Um desejo inebriante, mas tudo acaba antes mesmo de começar
Quando finge me tocar e sua dúvida me esmaga lentamente
Quando você diz que é o mesmo, mas continua a agir como estranho
Ainda assim, mesmo que seja por hoje, por uma noite, uma hora ou apenas nesse instante
Te
Peço
Que
Me permita.
Ilusão
Recuso-me a acreditar
Hoje me peguei sonhando
Imaginando novamente coisas inconsistentes sobre um futuro desejável aos olhos
Vejo essa camada cinza sobre tudo que vislumbro
Sinto isso queimar minha pele
Uma brisa fria que me envolve
A doce ilusão de ser
De querer sentir
De tocar o que foi perdido
Profundo ao ponto de não sentir
Tal qual calo no peito, já não me dói, já não me sinto e não alcanço
Me escorre.
MiM
Sou contrapartida para o medo
Uma fuga para um emaranhado de sentimentos
Desculpas e mais desculpas para aliviar a consciência de quem eu sou, morrendo um pouco a cada dia
Vestida de vermelho num dia cinza
Caminhando sobre uma corda bamba
Instável, volátil e egoísta
Suprimindo cada palavra e gesto, sendo tudo menos para mim
Finjo não ver o que está diante dos meus olhos, mas antes de ir solicito o seu perdão por meio de uma carta sem remetente e afundo na vaga lembrança do que ficou para trás.
Lágrima
Beijou-me
Me tomou em seus braços e debrucei
Como aquele que ama mostra com sangue e lágrimas o que é amar
Nada mais me restava
Me ouviu e por isso lamentei
Acalentador e sufocante
Tudo que foi posto sobre a mesa
Nada mais sentia
Não fazia diferença se chegava ou se partia
Te via todos os dias na lembrança distorcida das minhas memórias, era algo que eu desprezava em mim e por esse motivo a dor me escorria as bochechas.
Anseio
Repúdio o jeito inconsequente que você se tornou permanente
Detesto esse querer desesperado pelo agridoce da continuidade
Queria conseguir controlar minha alma sedenta
Abatida ao recordar o deserto e a miragem
Ansiando pelo que considero necessário
Nada mais do que um desejo infantil de ter
Sujeito a esse capricho de conseguir o que se quer
Sempre mastigando e cuspindo...
E ontem nunca será hoje, mas o que será de nós amanhã?.
Me dói
Quebrou...
Quebrou e eu tentei colar, costurar, remendar
Uma tentativa frustrada de sentir algo, alguma coisa, alguém...
Me dói não lembrar, dói não ter feito parte desse algo imperfeito
Sentir saudade do que só aconteceu na história, nada de memória
Me dói o que não foi sentido
O que ficou na lembrança de uma foto
Dizem que recordar é viver, de certo deixei de viver parte da minha vida
Me dói não sentir essa dor que deveria ser compartilhada
Dói não ter na memória que por você um dia fui amada.
O que me é imposto
Deixou de ser há muito tempo
O afastamento inconsciente
O vislumbre de uma mudança forçada
Uma mancha no peito
Um serviço malfeito
A improdutividade noturna
Suprimir é viver
O costume de se acostumar com a obrigação
Se foi, se dói e se é.
Sonho de um tolo
Andei pensando:
"A esperança é a última que morre e a primeira que mata"
Essa que o ingênuo se apega firmemente e é apunhalado pela mesma
Que te faz acreditar cegamente no que seria
Essa que entorpece e aquece como fogo que logo se apaga deixando cinzas que são levadas pelo vento
E trás consigo um sabor agradável que logo se torna fel
Pobre tolo eu, que persisto no mesmo erro que teimo em chamar de ESPERANÇA.
Dar-se-á
Por mais que não queira e que a frustração lhe consuma, que esteja à beira da loucura, ou ache que não pode mais suportar
Dar-se-á
Como diz aquela canção, quase como um pesadelo que não foi dito e esqueceste que a morte o acordará
Não se aflija pois o que será... será
A ilusão não se torna verdade quando se pensa nela intensamente, quando nada se pode fazer, quando a mente não consegue parar, respire pois ainda assim
Dar-se-á
Você se enganou, não é sobre o que queremos, pensamos ou tentamos, é sobre o que fazemos sem retroceder, talvez assim algo venha a mudar, mas lembre-se que apesar de tudo isso
Dar-se-á.
Riso
Às vezes nem precisa de motivo
É a tal felicidade que não cabe no peito e transborda
De certo sentir que "de repente do pranto, fez-se o riso"
O descontrole físico que não passa despercebido, cada passo, gesto, berro, é belo aos olhos de quem pode enxergar
O contentamento de ser o que se é, sem nem perceber
A risibilidade volátil existente na linha tênue que é viver
Implacável e maçante para quem não consegue entender que nem todo dia é dia de prantear.
Obliterado
Ouça atentamente o que tenho a dizer
Escute e não se inflame, agora meu quase amado, razão do meu desprezo
Jaz inexistente e fui eu a encarregada de tal ato
Um tanto despudorada, confesso, mas sem nenhum arrependimento
Crime esse necessário
Não faz de mim má criatura
A liberdade eterna agora percorre minhas vísceras com um sabor doce de quero mais
Liberdade essa proveniente do sacrifício que foi fazer você morrer na minha mente e no meu coração.