Coleção pessoal de DANIELASANTAOLIVEIRA
33 MINUTOS
Eu sou assim mesmo:
Eu choro muito e rio pouco
E pouco falo, mas muito ouço
Sou de apanhar e não dar o troco
Eu quase nem grito e já fico rouco
Só mais um pouquinho
E eu fico louco.
Eu sou assim mesmo:
Muita música e pouca dança
O peso mais leve de toda balança
Sou quem chora e nunca descansa
Sou quem, quando ri, logo se cansa
Não sou de sonhos nem tenho esperança
Não sou do agora, sou de lembranças
Não sou de otimismo, de perseverança
Eu fico calado, não dou confiança.
Eu não peço nada
Mas não sou de negar
Eu não tenho pressa
Ando devagar
Eu falo mansinho
Sei bem meu lugar
Eu ando famoso
E nem sei desfilar
Eu não obedeço
E não sou de mandar
Eu só dou as caras
Pra me apresentar.
Eu gosto de ler
Mas não de falar
Não sei escrever
Só sei rabiscar
Não peço perdão
E nem sei perdoar
Não dou meu perdão
Eu não vou perdoar!
Eu faço inimigos
Amigos não há...
Eu guardo as mágoas
Mas não vou me vingar
Eu bebo veneno
E não sei vomitar
Eu morro aos poucos
Mas não vão me enterrar.
Eu carrego o ódio
Mas também sei amar
Crescem minhas unhas
Mas não sou de arranhar
Não tomo emprestado
Pra não estragar
E o que eu empresto
Você pode quebrar
Eu como calado
Não sei reclamar
Não peça desculpas
Não vou desculpar
E não compre outro
Eu vou recusar
Só me entregue limpo
E sem macular
Só acordo tarde
Não sei madrugar
E verde não gosto
Tem que madurar
Se me vir calado
Não tente animar
Sou contraditório
Vou contrariar
Não conte piada
Ou posso chorar
Me fale de dramas
E vou gargalhar
Não mexa comigo
Não sou mungunzá
Dirija depressa
Nem ouse frear
Bem a sua frente a morte está
Avance o sinal
Pode atropelar
Acelere... acelere!
Pode acelerar...
(Des) aprender
Eu desaprendo todo dia
E invento outra maneira.
Desaprendo a amar
O amor virou besteira.
Desaprendo a sorrir
Choro até de brincadeira.
Desaprendo a acreditar
Duvido de toda maneira.
Azar o meu
Porque para mim, é 13 toda sexta-feira
E é preto todo gato que cruza o meu caminho,
nem ferradura e nem arruda dão mais jeito:
Toda dor que dói no mundo
Dói primeiro no meu peito.
Fortalecida
O que não me mata
não me fortalece,
mas também não me faz
mais fraca do que já sou.
Com sua benção, praga ou prece
sou eu que escolho pra onde vou.
Cantos de morte
Meus encantos são cantos,
são prantos, são tantos,
são contos e espantos,
todos sem acalantos.
Meus encantos são cantos,
são contos de morte,
são dores mais fortes
e dias sem sorte.
Meus encantos são prantos,
são pratos nos cantos,
são restos de cantos,
dor sem acalanto.
E de tanto, de tanto
sofrer com meus cantos
num dia de pranto
sozinha num canto
eu hei de morrer.
Cada dia menos
Amar eu sei que ainda sou capaz,
mas amo cada dia menos
e esse menos é cada dia mais.
Meu coração de manteiga
que ingênuo já fora um dia
torna-se frio pouco a pouco
faz da dor sua alegria,
cresce e míngua dia a dia,
acostuma-se a ser só
mesmo tendo compania.
Já não se importa se partem,
se o partem,
se vão ou se ficam as dores,
os amores.
Ama cada dia menos
e a cada dia precisa mais amar menos.
Nada melhor que ser livre
sem compromisso com o amor.
Uma porta aberta e abre-se a porta da saudade...
São quase dois meses que a senhora se foi, Su. Primeiro veio a grande dor que corta e dilacera, depois “anestesiei-me” criando uma fantasia que é só minha... vejo a “tua” casa todos os dias e a porta está sempre fechada... então passo, às vezes olho, e sempre finjo que a senhora está lá dentro cochilando no sofá, e que é somente por isso que não nos veremos, pois não quero perturbar teu cochilo. Se eu soubesse que a senhora iria partir assim, tão de repente, teria lhe “perturbado” muito mais... Hoje foi diferente: logo cedo passei em frente à casa onde a senhora morava e a porta estava aberta. Não era a senhora quem estava lá dentro. Fiz uma prece em seu nome, pedi sua proteção e segui com sua imagem e todas AS NOSSAS lembranças em meu pensamento. Hoje foi mais um dos dias em que dediquei meu pensamento quase que inteiramente a ti... Só mesmo a senhora - que daí do céu deve me ver – sabe verdadeiramente da saudade que sinto, das noites que por vezes não durmo ou acordo de sobressalto sonhando contigo, lembrando de ti... tua bonequinha dormiu comigo por mais de uma semana, a senhora deve ter visto, mas preferi guardá-la... e a guardarei por toda a minha vida. Quero passá-la para os netos que a vida me der e dizer a eles que ganhei de alguém que Deus me deu de presente, alguém que mesmo sem ter nenhum laço sanguíneo foi para mim mais que mãe, avó, irmã, amiga, conselheira, confidente... Cuidar de algo que durante tantos anos foi TEU é o mínimo que posso fazer por quem cuidou de mim por todos esses meus anos de vida... Ainda bem que deu tempo de dizer que eu te amava...não só com palavras, mas a cada abraço dado, a cada “bença” tomada, a cada tarde que passei ao teu lado, a cada visita, mesmo que só pra te dar um boa tarde ou boa noite, a cada dia das mães, natal, aniversário, ano novo que estive contigo...ainda bem! Não tenho como – e nem quero! – esquecer cada momento que me lembro de ter tido o privilégio da tua companhia. E gosto até do que não lembro, mas sei que vivemos porque me contaram... Não lembro-me, por exemplo, porque te dei este apelido, ou de quando almoçávamos a três: eu, a senhora e o seu cachorro...rs, mas como poderia eu, esquecer das tardes em que me balançavas em teu colo, no balanço de corda azul, no pé de umbu em teu quintal? Como esquecer do botão que me ensinastes a pregar, da bainha que me ensinastes a fazer... Cada riso, nossas conversas, teu choro disfarçado quando, até sem palavras, desabafavas comigo, as vezes que dormi na tua casa, tomei banho em teu banheiro, a tua mania de tomar refrigerante no copo grande azul após o almoço, o hábito de quebrar o palito de dentes sempre ao meio e espetá-lo no sofá, a pipoca, a cerveja preta que tomamos outro dia pra satisfazer tua vontade, o pedaço de bolo guardado com carinho, o carinho em nossos olhares, a tua letra bonita na lista de compras que eu ia fazer pra te poupar da caminhada, a benção que sempre te pedi e as centenas de vezes que me abençoastes com um “Deus te dê sorte” seguido SEMPRE do oferecimento da minha testa para que a senhora beijasse... como não lembrar das vezes que pulei tua janela para evitar que viesses abrir a porta, poupando-te do cansaço que ultimamente sentias nas pernas... como esquecer a cumplicidade do silêncio, o café às cinco horas com o melhor cuscuz da minha vida, tão fofinho, tão peneiradinho, que comíamos com pouca conversa para não engasgarmos! Hoje mesmo, comi um, aqui com vozinha... e juntas lembramos de ti e do cuscuz que somente a senhora sabia fazer! Deu saudade em nós duas e eu chorei por nós três...
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Ah, menina!
Teu nome
com o que, rima?
Ah, menina levada,
loirinha, sapeca,
princesa encantada.
Tua alma pequenina
enche essa casa, que é teu castelo
princesa-menina
de rosas e encantos
sorriso tão brando
olhar tão sereno.
Menina-veneno?
Menina dos olhos
dos olhos que olham
a sua mãezinha
pra sempre princesa
pra sempre menina
do meu coração.
Em meu coração.