Coleção pessoal de CRIPERGUE
"A morte, o fim, para uns. O começo, para outros. A manifestação de hipócritas e de dignificação aos ímpios, para uma exceção."
"Amor não cabe numa sociedade porque esta é feita de gente. O mundo carece de mais engajamento por consonância, não de pieguismo ou quimera."
"Toda guerra é bestial, é desnecessária, até que lhe cerque o inimigo a própria casa, invada-a, viole seus pertences, macule cada canto do lar, reduza-o a um cômodo, suprima sua dignidade, tiranize-o e... mate-o."
"Paraíso é aquilo que fantasiamos, a fim de massagear nosso ego e enchê-lo de esperança, à medida em que, de nós, afastamos a ideia, o medo da finitude. Nossa causa está no além, onde não há fim, não na vida. Do inferno não temos medo porque já sabemos que a esse não pertencemos."
"A concepção sobre Deus, ainda que indelével, seria razoável e menos infesta sem um arquivo histórico."
"Quando alguém censura a conquista alheia, confessando profunda abnegação material - 'o indivíduo morre, dessa vida nada leva' -, finge uma modéstia. No mínimo é um preguiçoso, um perdulário ou um invejoso."
"Vaticínio: num próximo ano a montanha de lugar trocará com outras. O bonobo terá um neurônio a mais e será proclamado rei. Nenhuma bandeira acima dos mares de sangue será mais içada porque a pungente glória terá sido alcançada. O único holocausto celebrado no mundo será o da injustiça. A leoa já não mais subjugada, com único brado, terá diante de si curvado quem perdeu o galardão e que se chame por leão. E o derradeiro ser utopista há do sono hermético despertar, em que um rei morto quão devotadamente sonha encontrar."
"Para interpretar a mensagem que reduz, segrega ou despreza a quem pouco ou nada tem, basta conhecer quem é o detrator e qual sua posição na pirâmide social."
"Qual Pai livra um filho, o outro, pretere?
O rigor do critério denuncia um duplo invento e a indissociabilidade própria. Exceto se examina-se o todo sob um dado perspectivismo, devoluto de superstições.
Logo, mata-se o Pai: o que resta?
A contingência."
"Dilema: nem tudo é o que quer que queira ser, assim como é o que é e não quer que seja. Todavia é o que não se faz ser, não sendo o que se fez ser, como assim é o que é, sem ser o que quer que seja, sendo o que é que nem é o que é, e é o que faz ser o que é e o que quer que seja é tudo o que é ser que sem ser se fez ser nada."
"Bem e mal, um dualismo inventivo, uma carência humana de traduzir-se e discriminar-se no próprio absurdismo."
"Para que um invento não esteja fadado ao invólucro e verniz mítico, carece de três coisas indivisíveis e imprescindíveis: peripécias, narradores e difusores, tudo ao longo da vida. Um legado transmitido de geração em geração, a cada era, que perdure a intempéries,
entre a morte e nascimento de civilizações, até alcançar a transcendência e deidade absolutas."
“O ateu silencioso incomoda tanto o religioso tagarela quanto este derradeiro não, com seu fanatismo e fundamentalismo, o primeiro. O gérmen da hesitação emerge com eficácia mais de quem ouve, não de quem brada.”
“Antropologicamente somos seres racionais, críticos, questionadores, todavia não nos cabe ainda a compreensão de um exemplar de natureza díspar a que estamos insertos. Mantemo-nos na mesma. Resta-nos contemplá-la, restituí-la um inventivo ou fadá-la ao reducionismo acidental apenas; os quais têm sido nosso ofício desde o primitivismo.”