Coleção pessoal de ClyciaFerreira
Pior que a gente deixa tantos costumes e certezas de lado, pior que a gente muda, a gente muda sem deixar de ser a gente, mas muda.
A gente aprende as manias, os vícios na linguagem, quando nota já está falando semelhante. A gente sintoniza a alma, o humor, tudo se conecta, a gente chega ao ponto de prever uma atitude, já sabemos o que fazer.
Pior que a gente se importa, pior que a gente volta atrás, a gente pede perdão mesmo sem ter causado a guerra, mas levanta a bandeira branca, a gente apazigua pra não correr riscos.
A gente adentra tão profundamente na vida do outro, que as vidas se unificam, uma completa a outra, duas vidas distintas são coincididas, acontecimentos em comum mantém essa união, essa sincronia, já não podemos evitar.
Pior que a gente gosta, pior que a gente se desmonta, se reinventa, faz carinho, diz que sente saudade. Pior que a gente agrada, sem nada em troca a gente faz o outro feliz, a gente se anestesia com o som da risada, sente que o mundo poderia acabar naquele abraço, pior que em partes ele acaba. Em cada abraço se acaba um pouco mais do seu velho mundo, definha todo um passado, dando vez a um sentimento devastador, e o pior é que a gente deixa.
E o pior de todos esses piores, é que a gente só consegue entender o sentido da nossa vida, quando a gente ganha a vida de alguém, ou pior, quando a gente entrega nossa vida a alguém.
Amar é entregar sua vida a alguém, sem perdê-la.
A gente escuta tantos 'pra sempre' que não duram três meses, a gente vê tantos amores inabaláveis abalados e chegando ao fim, a gente percebe que a cada dia é mais difícil ver casamentos duradouros, namoros que terminam em matrimônio, a gente se entristece por ver o quanto as pessoas mentem mesmo quando julgam amar, elas machucam, elas abandonam. A gente deixa de acreditar quando escuta um 'eu te amo' devido as inúmeras vezes que já ouviu, a gente deixa de sonhar pelo cansaço que dá planejar toda uma vida, trabalhar duro pra juntar grana e no fim ver seu motivo arrumando as malas e saindo pela porta da sua vida. A gente chora. A gente se quebra por dentro e se bagunça por fora, ai vem outro alguém e lhe abraça, junta os cacos quebrados, mas você já sabe que em breve pode ser esse alguém o próximo a te desmontar, você já se mantém preparado. A gente se torna frio. A gente só tem medo de passar de novo por tudo, e de fazer parte do grupo dos 'pra sempre de três meses'. Mas a gente vai vivendo, tentando amolecer, tentando esquecer as feridas, mas o fato é que um sentimento cansado de apanhar, ensina a razão a bater.
Não é se escondendo que você desperta a curiosidade em alguém, na verdade, não há curiosidade maior que ver os fatos em baixo de seus olhos e não saber de onde veio, como um fluxo de informações desconexas. Quem vê a ponta do iceberg se instiga ao saber que o mais incrível pode está na raiz submersa, mas não pode ver pois está limitado apenas a área emersa.
Mas que bela, que bela amargura eu plantei. Ainda que não a deixe escapar, há dias que fica difícil não deixa-la transparecer. Uma ira com a descrença alheia na realização de sonhos, uma fúria com as divergências e contradições de princípios, uma revolta com quem faz você gostar da chuva e logo após muda pra verão, lhe deixando molhar nas tempestades que ele mesmo lhe ajudou a criar. Mas que bela, que bela angustia eu cultivei. Segurar a raiva pra evitar atritos nunca foi meu forte, mas que forte? Eu nem sei qual seria ele. E de mágoas em mágoas os sorrisos começam a doer, a vagueza no olhar já é tão presente, indecifrável como meus pensamentos, que me acorrentam, mas no que eu penso tanto? Eu já nem sei dizer. Eu só sinto, eu sinto um peso nas pálpebras, eu sinto que algo me consome, eu sinto que não sei mais o que devo ou não sentir. Sinto muito.
Eu nunca quis ser alguém inconveniente, nunca quis ser negativa, realista demais, mais sincera do que se pode ser. Porque o mundo precisa de ilusão, talvez seja isso que mantém as pessoas vivas, a doce ilusão de achar que ignorar os fatos lá fora os farão viver em paz. Mas não, somos uma raça imunda, repugnante, uma raça que destrói a pureza das raças inferiores. Rouba essências, amedronta espíritos, somos o demônio encarnado quando queremos ser, somos o mal da humanidade cada dia mais desumana, nos matamos por nada. Mas o pior que se destruir, é destruir os seres inocentes, irracionais, de alma divina, destruir ou torturar um ser assim é o mesmo que assinar seu nome em uma lista vip para o inferno, você vai sofrer. E ainda há pessoas que não querem ver isso, enquanto shows ridículos mostram elefantes pintando quadros, macacos andando de bicicletas, elas aplaudem sem se quer parar pra pensar “como eles aprenderam isso?”. Não são dons naturais da raça, logo, não foram adquiridos naturalmente! É fácil se deparar com esse questionamento, mas estão todos tão acostumados a não verem além do que os olhos alcançam, que simplesmente aplaudem. Raça podre, egocêntrica, alienista, o mundo nunca precisou da gente pra viver, na verdade somos a doença dele, somos o câncer do mundo, estamos degenerando sua ordem natural, desrespeitando suas regras, usando nossa racionalidade para cometer atos irracionais, atrocidades. Somos muitos, porém tão poucos de espírito. Sem dúvidas, seremos a maior e melhor extinção da história.
Notas sobre ela.
Não há notas sobre ela que se enquadrem por
muito tempo, ela muda como a lua.
Não há um padrão, nem uma sincronia que a faça previsível
nem por um instante,
seus risos não são leis, assim como suas lágrimas não são sempre de dor.
Ela não precisa estar para comparecer, ela não precisa
mostrar para que você possa ver,
na verdade você nunca vê,
você sente o que ela lhe transmite. Mas às vezes ela é simples,
você não erra um palpite, só não acostume com a simplicidade,
ela se descomplica pra você não desistir, pra te motivar.
Ela te quer por perto, às vezes ela só quer estar ao lado,
em silêncio,
ouvindo o som do ambiente, e isso não significa que ela queria
estar em outro lugar que não fosse ali.
E quando está brava, ela não vai falar,
acostume garoto,
ela vai te fazer sentir na vibe que algo não está certo,
ela vai sorrir mais pra te confundir, ela vai te tocar levemente,
te acarinhar com seus dedos frios e firmes, te olhar fixamente,
sorrir calma e insana entredentes, ela vai fechar e abrir os olhos
lentamente
como se houvesse um peso em suas pálpebras quando você perguntar o que houve,
mas ela vai dizer que não foi nada,
até achar que você merece saber, se merecer.
Ela vai te amar, meu amigo, ela vai te amar loucamente,
tu não vai esquecer cada beijo destes lábios vermelhos,
ela vai te fazer implorar pela eternidade,
vai te dizer as coisas mais incríveis que já ouviu de uma mulher,
vai te mostrar costumes que vai te encantar,
vai ser menina indefesa pra te fazer querer cuidar,
mas te mostrando que também usa a raça quando tu falhar.
Ela vai te dar mais abraços do que tu já recebeu em toda sua vida,
não há uma parte do seu corpo que os dedos dela não percorram
num carinho que ela lhe conceda,
ela hipnotiza.
Mas um dia você vai acordar,
ela não é mais nada do que você lembra,
o olhar dela não lhe diz mais nada,
mas ela está ali dentro, mas,
meu caro,
é ai que você vai precisar formular outra nota sobre ela,
e comece sempre do princípio de que
não há notas sobre ela que se enquadrem por muito tempo,
e vá redescobrir a mulher incrível que você tem,
cuidando pra que o amor dela seja sempre seu também,
correndo contra o tempo,
se tiver acordado a tempo.
Quanta coisa inacabada você deixou por aqui e eu tive que terminar, tanta coisa você largou pra mim. Mas tudo bem, organizei, juntei com minhas obrigações, olha só, estou até dando conta. Hoje me sinto tão forte, quanta coisa eu movo sem pensar mesmo sabendo que tenho que pensar em tudo, aquele cochilo ao fim da tarde nos fins de semana, já era, e isso não é o fim do mundo. E daí se o cachorro não vai mais passear, um dia quando der eu levo, acho até que ele gosta de ficar em casa dormindo. Vou ao supermercado e trago todas as compras no braço, quem se importa se eu paro umas cinco vezes no caminho pra descansar e recuperar o fôlego, nunca gostei de esperar pelo entregador, você sabe. Arrumo a casa toda e a louça fica pro final, às vezes pra depois, depois de amanhã quem sabe, mesmo odiando lavar a louça eu tenho que lavar, e quem se importa quando será, eu nunca reclamei pra mim quando não tem copo limpo, comprei uns descartáveis pra garantir. Quando o gás acabar, eu até já posso prever quem vai ter que se virar deixando a comida de molho e esperar o entregador chegar, eu já disse que odeio esperar o entregador? E quando as garrafas secarem de madrugada, pela manhã eu saio sem beber água, quando chegar eu encho, se eu lembrar, se eu conseguir tempo e me manter acordada já que chego tão tarde da aula a noite, sabia que comecei uma nova faculdade? Mais uma vez escuto o cachorro grunhir, era a ração talvez, mas eu já não coloquei hoje mais cedo? Na dúvida, coloco de novo. E quando a temporada de chuva chegar de vez, vou ter que acordar mais cedo e tirar a água da casa, colocar panelas nas goteiras, cobrir a televisão, e sair pra trabalhar rezando pra chover menos e quando chegar descobrir que tinha uma goteira na minha cama que eu não notei. Mas olha só, ontem recebi visitas, a casa estava até em ordem, fora o fato de eu ter desmanchado o quarto e colocado a cama na sala e o cachorro estar a décadas sem ver um banho e o quintal com os destroços do ultimo ursinho de pelúcia que o dei pra tentar anima-lo, estava tudo em ordem. O fogão não estava lá essas coisas mais bem apresentáveis, ninguém notou, pedi pizza. Estava e está tudo em ordem... Não acredite no que minha mãe diz, ela sempre fala demais. E eu cortei o cabelo sim.
Coitada das almas que nunca provaram da displicência que é precisar de outra alma pra se sentir mais vivo.
Vai saber onde pousa meus pensamentos, vai saber.. Já que inerte em outro mundo eu vivo, nessa nostalgia fiz questão de permanecer. Mas que fique claro a quem queira saber, me sintonizo em uma lembrança de um tempo em que fui feliz, bem mais feliz, e somente hoje eu vejo o quanto de satisfação ja fui proporcionada. Hoje vivo ao relento coberta por cicatrizes da ingratidão, devaneios me perseguem, suplicando pra que os tempos de outrora voltem a ser reais, súplicas vãs, e então vai saber onde pousa meus pensamentos, mas nem queira saber.
Menina, é esse teu poder de deixar tudo subtendido que induz as pessoas a lhe procurarem outra vez, desejarem saber mais de você, como uma caixinha de surpresas nunca sabem o que irão encontrar vindo de ti. Isso instiga, mulher, isso acorrenta.
Meu bem, a doçura que vejo em ti não vem de suas atitudes, a vejo em teus olhos. Tamanha doçura que até a maior de suas brutalidades são esquecidas quando contemplo este mar escuro de verdades, olhos tão belos, sorrisos tão sinceros, doce néctar que sua alma exala. Quem te conhece sabe que esta dureza em teus atos são como armadura para tua alma inofensiva, tão pura. És um ser perfeito, não tente alterar-se, não mude as medidas, não decepcione quem te ama pelo que tu és.
Quem nasceu pra Verão, nunca vai ser Inverno, e vice-versa. Podem até fazer um Outono aqui, Primavera acolá, mas no final se for de Sol, vai queimar, se for de Chuva, vai molhar. Então valorize seus dons, aprimore o que já nasceu em suas veias, se conheça e saiba cultivar suas particularidades, afinal, sempre há algo que sabemos fazer como ninguém e seja o que for, use unicamente para o bem.
Que seja pura Alice no País das Maravilhas, contanto que tenha uma mistura bem dosada de Rainha de Copas com Rainha Branca.
Toda segunda tem atraso, toda segunda tem uma saudade boa. Toda segunda tem cabelo bagunçado, toda segunda tem café mal tomado.
Toda segunda tem um recomeço.
Toda segunda tem o sono mais difícil de acordar, toda segunda tem cheiro de café e jornal.
Toda segunda tem uma notícia boa.
Toda segunda tem rostos de guerra, toda segunda tem o "bom dia!" mais sincero. Toda segunda tem poucos sorrisos, poucos, porém os mais verdadeiros que verá no resto da semana.
É difícil sorrir na segunda, porque toda segunda tem uma péssima fama.
Quando se visa o preço de tudo e o valor de nada, empobreces teu espírito, arruína tua alma, como um cálice de cristal vazio tu se tornas. E dói de ver que o mundo está parecendo uma enorme cristaleira, cada vez mais cheia de vazios.
Eu já te procurei em outros amores, em outros abraços sem saber ao menos por quem eu procurava. Eu já chorei a noite, pensando em alguém sem saber que esse alguém ainda não era você. Eu segurei mãos desconhecidas, eu julguei amar o sorriso de um estranho, talvez eu tenha me perdido mais do que deveria e prolongado o tempo de sua procura. Eu fiz planos equivocados e eu sentia que nenhum deles iriam se cumprir, mas nunca imaginei o motivo disso. Eu saí sem você, eu andei por ai sem saber que você não estava em um copo de bebida, ou em um abraço vazio. Eu tentei te preencher. Mas o que eu não sabia era que eu devia mesmo ter deixado seu lugar vazio, ter organizado tudo, ter aguardado a sua espera e não encher de entulhos o lugar onde você habitaria. Porém, como saber que você ainda iria chegar, ou se já tinha lhe perdido, se você tinha passado e eu não tinha percebido? E quando te vi a pela primeira vez demorei a ver que finalmente havia chegado. Estava tudo tão bagunçado, tão lotado de equívocos e coisas supérfluas, mas de certa forma você veio pra aliviar. Antes de habitar você organizou seu lugar, talvez também não soubesse que você era pra mim, mas sem hesitar você quis ficar, mesmo sabendo da bagunça em que eu me encontrava. E fui percebendo que era você, quando me perdi em pensamentos lembrando o seu jeito, quando chovia a noite e eu desejava ter seu corpo comigo pra abraçar, quando eu comecei a almejar amores pra vida toda e me vinha você na memória, e eu soube principalmente quando me deparei com o medo de te perder, pois de tudo na vida que eu já abri mão ou perdi, eu nunca pensei em parar um dia se quer por sentir tristeza, e quando me imaginei sem você eu já não tinha tanta certeza se pararia um dia, uma semana, ou uma vida toda.