Coleção pessoal de Cleir
Beleza ideal
Um belo corpo não embeleza a alma, mas a beleza da alma faz do corpo seu espelho .
Cleir
O lamento de uma jóvem...
E continua o tempo a roer-me a carne, dilacerando o corpo como estilhaços de cetim.
Doi-me ao ver dentro desse maldito espelho que faz questão de mostar-me essa imagem horrenda, toda enrugada com cabelos esgadalhados, esbranquiçados como neve numa manhã sem brilho.
Oh! Moldura linda envernizada que suporta esse vidro de aço que só mostra verdades, por vezes doida...
Por que não envelhece com o tempo ?
Despencando o espelho como despenca meu ser com prazer?
E o sol da manhã se escondeu, a tarde virou noite...
Só o fantasma da meia noite esperando a hora de partir.
Esse tempo que nada perdoa, e como uma correnteza arrasta toda beleza das flores que beiram sua orla.
Chama pra mim o sol, poeta louco!
Onde se os pássaros que gorgeavam?
Cuida pra mim, poeta louco.
Preciso de ar!...
Pára o tempo...
Traz o vento em calmaria...
Quero ver a beleza das cores das borboletas que sobrevoavam enquanto eu dormia...
Onde?
Cadê, poeta louco?
Por que estais levando minha vida nesse barco sujo e sem volta?
Que fiz?...
Apenas nasci...
Vivi...
Mal ou bem..
Vivi.
Espera-me despedir...
Já vou...
Sabe quando somos crianças depois de adulto?
Quando nos encontramos alegres sem motivo aparente.
Isso é ser criança novamente.
Mas não é?!
Que bom seria se a humanidade medisse o amor na mesma medida que mede a falsidade.
Cleir
Eu sei sorrir...
Sorrir a cada amanhecer...
Sorrir com o sol que aquece a terra...
Sorrir com as lágrimas das nuvens que banha as plantas...
Sorrir diante do alimento que nutre...
Sorrir com o entardecer...
Sorrir às batidas das ondas do mar como um hino de sereias...
Sorrir com a noite que desce...
Sorrir com a lua que por si trás as utopias enamoradas...
Sorrir com a coreografia das estrelas no tapete escuro...
Sorrir com tálamo que me aconchega...
E num sorriso brando e sublime...
Inclinando os joelhos, agradecer ao Arquiteto da Natureza...
E é nesse sorriso que me entrego ao letargo, nos belos devaneios.
Cleir
Malícia
...E ele dizia...
_ Teu beijo tem sabor de maçã.
_ Tua pele aquece como sol da manhã.
_ Rolando na cama tens perfume de flor.
_ Acariciada, exalas bálsamo de amor.
Confiei!...
Tinha-me o corpo ainda em broto...
Cravo cravado, me fazendo gemer...
No auge do amor a estremecer.
P’ra mim...
Versos de Zeus.
Quanto engano!
Quando se fora,
Amor cigano.
Nem adeus...
Cleir
Sob a Lona da Vida
Multidão brinca de gente
Não escapam pobre nem rico
Fingindo feliz e contente
Somos todos palhaços de circo
E sobe a lona da vida
Somos fantoches pensantes
Mas na hora da partida
Duendes pecantes
Circuito fechado
O comboio segue
Um pé rachado
Montado no gegue
Auto estima...cadê?
Estou sem crédito!
Sem ti...
Inspirações não aliam.
Às vezes penso...
Nada ser...
No calvário da dor...
Perecer...
Estou sem crédito!
Indago-me em ti...
Sem respostas persisto...
Idiota!
Vá lá...
Busca tua existência!
Traz a essência!
O cristalino espectro fala.
Eu aprecio...
Continuo ali, sentada...
Sem vida...
Acomodada...
Desvalida.
Estou sem crédito!
Blecaute
Cobri nossa cama com as estrelas
A lua se fez em abajur
Vesti-me do azul do céu
Abraçada a um pedaço de nuvem
Qual servira de travesseiro...
Banhei-me com a neblina da noite
Esperando um amor que não viera.
As estrelas se apagaram
A lua se escondera
Deixei a veste cair
A nuvem chorou
Eu dormi
Sem ti
DO RE MI........
Dói só de pensar que tu vais.
Revendo páginas vividas do nosso amor...
Minh'alma solfeja os mais tristes ais!
Falta-me voz para mais alto clamor.
Solitário soluço num canto triste...
Largo vazio no coração...
Silêncio profundo ainda insiste...
DO
RE
MI