Coleção pessoal de Claracosta
Eu estou bem!
Fora a poeira que eu inalo
Fora o dia que me judia
Fora o trabalho que me escraviza
Fora a minha escrita que me agoniza
Fora as pessoas, que apontam meu erro...
Fora eu mesmo, que não aceito meus defeitos
E que me defendo para nunca admitir
E que me escondo atrás da certeza que me condena
Certeza na qual me diz que os meus erros existem e não há saída para se sair ileso sem mudanças previstas.
Meu estúdio mental
Vive e tece um caminho
Meu estúdio mental
Buga e perde o destino
Meu estúdio mental
Acorda e retorna para o percurso
Meu estúdio mental
Morre no devaneio da incerteza
Meu estúdio mental
Se encontra e logo mais se perde e logo mais se vai e logo mais inexiste e logo mais enlouquece e logo mais nada mais e logo mais nada muda e logo mais piso na Lua e logo mais não tem mais e logo mais, logo mais, logo mais, logo mais...
inenarrável exagero
Imprescindível bizarrice
Estalo as costas com os braços
Desmancho a face em olhos arregalados
Faço caretas para assustar os capetas
E olho para o céu em direção aos diversificados cometas
Me sinto um xereta
Me sinto uma formiga incapaz de saber do oculto e incapaz de fazer algo para que isso seja algum dia descoberto
Só consigo ver as estrelas
Só me permito ver as estrelas.
Para os vivos mando flores
Para os mortos mando beijos
Penso em todos, vejo tudo
São vivências e absurdos
Todos morrem, tudo some
Sou somente uma semente
Broto, cresço, desenvolvo, envelheço
E depois que envelheço...
Hmmm... Tudo volta para o começo...
E eu me torno um morto que recebe beijos
Leiam para mim o salmo 91
E eu voltarei na terra para beija-los todas as noites também.
Me deito diante de calúnias
E sou algo que prevaleça apesar de tantas insônias
São pouquíssimas coisas que não me permito não pensar
Encuco que os dias são mais curtos
E as noites são mais longas
E eu, sou limitado...
Correndo sob as ondas da condição real.
Aceite a minha gravata
Se enxugue na minha toalha
Acorde pelas manhãs
Se arrume para um ofício
Fique quarando num metrô sem
graça da Selva de Pedras
Me dê motivos para não estar aqui
Diga-me onde sou falho
Corrija-me, corrija-me!
Me difame para o Mundo,
mas nunca faça isso sem ter provado como é ser quem sou e fazer o que todos os dias metodicamente eu faço.
É de manhã
E eu nada escolhi pra fazer
É um novo dia
Várias pessoas me mandam bom dia
Mais um dia
Mais um dia
São palavras faladas que morrem na cabeça
São inercias que morrem na minha pessoa
E eu sou
Um alguém que vive entre alguéns
Que são tantas histórias
São minutos que movem instantes que são várias vidas que vão diluir.
Vazio Dominical Comum
(CLARA COSTA) Cravejar o que
há de bom no que é difícil
Ser peregrino no que não se
tem coragem de tornar dito
Eu movo, eu morro, eu tento.
E por mais que tudo isso não lhe acalente
Lhe traz a insanidade real que é necessária
Tudo basta ao ponto que nada dói
E tudo precisa doer
E o todo precisa arranhar.
É preciso fincar as unhas no corpo e nas mãos
Para que assim se descame um ser
E nasça um outro, que seja um outro
alguém ou uma outra imagem
Subversa ao tão metódico ser humano igual
E rasgue a carne, mas estanque o aprendido.
Seja nu, seja real
Veja as gotas invisíveis da lágrima
que te tornará mais do que visível
aos olhos do olho que te assiste
em um cenário dominical tedioso
que reverbera o silêncio e o vazio.
Poema e poesia
Pensamento e Filosofia
Teatro e novela
Ator e personagem
Você e a minha imagem
Para sempre e eternamente
Sermos livres e sermos felizes
Assim como os casais da bela Arte.
E se sai e se sai
E se afasta depois que me atrai
Esta é a minha vida de amores que surgem e que se vão como um
vento que leva uma porção.
Esta dor a não curar
Quer é mesmo me ver chorar
E nesta curva de saudade a pulsar
Sinto que é triste a tristeza
E que a minha grandeza
É saber esperar.
Se errei ou se esqueci
Me desculpe, eu aprendi
Não vou mais fazer-te ir
Agora irei lhe cativar
Para assim poder te amar
E nada mais querer falar.
Vou fazer biografia
Vou cantar a cantoria
Vou gritar na gritaria
Vou andar na melodia
Vou seguir na utopia
Vou me ver em anestesia
Vou me amar na maresia
Vou correr no teu amor
Vou encontro ao que eu iria.
De um passo pra lá
Me viro pra cá
E de lá pra cá me encontro
E nessa brincadeira te reencontro
Te vejo nas linhas dos meus batimentos
Te vejo nos olhos dos meus
olhos e nos olhos da alma
Te vejo na fala e te corto na alma
Te cativo com um beijo que de poucas palavras consigo descrever.
O mal do artista é nunca ser compreendido
É falar e falar e falar e nunca ser ouvido
É sempre tirado como arrogante
É sempre tratado como um louco
É sempre ofendido mesmo tendo a razão
É sempre o único a pensar além
no meio de toda a Alienação
Os artistas de qualquer Arte
irão me entender.
Toda a minha coletânea de dores
Me provam que para viver é
preciso rever todos os fatores.
É perceber que nem para todo mundo
devemos mostrar o que somos
Pois muitas interpretações serão errôneas
E muitos julgamentos serão falhos
Mas seguiremos mesmo assim
É o chamado bem da
preservação do próprio ser.