Coleção pessoal de Chir
Meu teto é o céu
e minha casa não tem
Paredes...
Meu chão é todos os lugares
E se eu não vou até
algum lugar do mundo
O mundo me leva
até algum lugar...
E o nosso olhar de avestruz
Esconde-se no buraco da ignorância
Nós continuamos sentados
e eles continuam sentados
Esperando a porta abrir
Roubaram a luz
E deixaram pendurada
Em algum lugar
Iluminando
a escuridão abandonada
Roubaram a escuridão
E a deixaram abandonada
Em algum lugar
Assombrando
a luz pendurada
(...) Só eles sabem o quanto suja
As pegadas sicronizadas,
Nossos corpos de plástico,
E varrem nossa alma de papel
(...) Essencialmente criados, mas
Mesmo que tenham inventado
A teoria da gravidade,
As maças já caiam antes
Frações
Confesso que quero minha vida-poesia
Minhas rédeas soltas
E menos uma estatística
Na minha vã filosofia
E peço para todos os místicos
Uma sentença
Para o meu desconforto
Às vezes esqueço que
o lado esquerdo é o do coração
Me desculpe mas deixei cair os dados
E espero que minha fé não seja em vão
Perdi meus documentos
E penso num disco voador
Na minha sacada
E deixei minhas crenças na mesa
E se o vinho manchou a toalha
Espero que o futuro
Não passe deste infortuito
E que a vida fique por medida
No infinito dos dias
das frações do tempo
Divididas de mão em mão
Deixo minhas palavras ou meu
Silêncio para a próxima música
tão eterna quanto este instante
Mais fácil Papai Noel, aqui
Descer pela churrasqueira
Ser puxado por araras,
Ou ir voando de 14 bis,
E usar calções floridos
de verão.
O recém-nascido pararia de mamar, cresceria, se tornaria o filho mais novo (mas não tão novo), passaria pedindo moedas, cantaria e bateria os pés, tocaria chocalho e depois violão... Pena, a parede do banco continua sendo o abismo entre o chão de granito e a calçada.
José e Deus
José não acreditava em deus
Mas quando as coisas apertavam
Resava pai nosso de joelhos
José não acreditava em deus
Mas pedia pela mão divina
E dizia meu Deus do céu
José sofria, pagava seus pecados, pensava
Adoecia, rezava
Melhorava, rezava
mas não acreditava em deus
Afinal, juntar as mãos de joelhos
e o céu
Tem mais história do que crer.
Soy tan chica, que no me ajusto en las palabras
Y me complejo por el silencio…
Perdóname las reticencias
Pero los puntos hablan más do que mí.
(...) Embora, tudo pareça muito assustador sempre podemos nos metamorfosear e deixar as asas baterem para que possam plainar suavemente sob a vida. Os ambientes de recuperação e cura estão repletos de lagartas de jaleco branco e acabam convivendo com casulos, retraídos. Depende do profissional-borboleta saber pegar esses casulos e promover a melhora em borboletas que alçaram o voo ou apenas reforçar as paredes do casulo. Precisamos das borboletas, quem sabe podemos começar vendo-as na anatomia e depois todos terão tempo para (re)abrir as próprias asas.
Texto: Anatomia e borboletas
(...)
E o pronome da primeira pessoa
Fica pelo de terceira
Porque pessoalmente amar
não cabe em um só
Saudades
Saudades não tem espaço
Mas ocupa
Saudades não tem corpo
Não tem pernas
Não tem braços
Mas se enrosca
Abraça e envolve
E só podemos ser embalados
Enquanto o tempo passa
(...) Talvez muitos falarão que foi apenas uma família, algumas pessoas e que no contexto geral isso não faz diferença. Porém, acredito que o rufar das asas de uma borboleta, pode provocar um furacão, que as pequenas mudanças são o primeiro passo para uma grande mudança. Geralmente, os pacientes sabem lhe dizer todos os riscos, todas as formas de tratamento, e sintomas de várias doenças - embora não entendam o real funcionamento daquilo. (...)