Coleção pessoal de cauclau

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Se você não se atrasar demais, posso te esperar por toda a minha vida.

Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu desejo de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem. A noite era quente e calma, e eu estava em minha cama, quando, sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo minha aparente indiferença, aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos.
Até nos mais íntimos lugares. Eu adormeci.
Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão.
Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite.
Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama, te esperar. Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força. Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos. Só descansarei quando vir sair o sangue quente do seu corpo.
Só assim, livrar-me-ei de ti, pernilongo filho da...

CONFISSÃO

Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios
Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece...
Mas,
Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto!

Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.

Minha alma imortal,
Cumpre a tua jura
Seja o sol estival
Ou a noite pura.

Pois tu me liberas
Das humanas quimeras,
Dos anseios vãos!
Tu voas então...

— Jamais a esperança.
Sem movimento.
Ciência e paciência,
O suplício é lento.

Que venha a manhã,
Com brasas de satã,
O dever
É vosso ardor.

Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.

Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.
Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros)...
Sinto crenças que não tenho.
Enlevam-me ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta
traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha,
nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo.
Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos
que torcem para reflexões falsas
uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore (?) e até a flor,
eu sinto-me vários seres.
Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente,
como se o meu ser participasse de todos os homens,
incompletamente de cada (?),
por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço.

"É-nos impossível saber com segurança se Deus existe ou não existe. Por isso, só nos resta apostar. Se apostarmos que Deus não existe e ele existir, adeus vida eterna, Alô, danação! Se apostarmos que Deus existe e ele não existir, não faz a menor diferença, ficamos num zero a zero metafísico"

A vida é breve e perder tempo é burrice.

Vou-lhe dizer um grande segredo, meu caro. Não espere o juízo final. Ele realiza-se todos os dias.

É muito difícil fazer sua cabeça e
seu coração trabalharem juntos.
No meu caso, eles não são nem amigos.
(Crimes e Pecados)

A chuva cai, o homem do guarda-chuva passa;
Eu apenas observo seus passos;
Ele finge não me ver, mas eu o vejo com amor;
ele já não me pertence mais,
Muito bem acompanhado em sua vida ele está,
por alguém que também lhe quer com amor.
Eu com ciúmes não posso ficar,
porque ela me venceu, ela conseguiu;
Eu na minha vou ficar, e tentar esquecer
o homem do guarda-chuva;
Pois ele passa para agradar
quem o acompanha em sua vida;
e não quem o observa com amor.

É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo.

Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas, nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.

Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada.

Que não seja imortal, posto que é chama,
mas que seja infinito enquanto dure...

O que será que pensa o homem?

Pensa no eu.

Se for,

Se ser.

Pensa sozinho, excluso no mundo.

Pensamentos...

Passado,

Presente.

Futuro? Incógnita.

Voa perene, no universo das indagações.

Viajante solitário,

Estranho em terra alheia.

Segue seu caminho,

Numa busca constante.

A procura do que?

A procura de uma cura,

Para sanar o ser.

Expectador da tragédia existencial,

Na qual indivíduos seguem,

Pensando que pensam,

Um pensamento já imposto.

Marionetes!

Absorto pensa o homem,

O que fazer, se penso só?

Pensando segue.

Buscando segue.

Futuro? Incógnita.

É no fundo do poço que encontramos a luz, a saída.

Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.

Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura.

A poesia é uma criação da cultura, mas esta deve permanecer invisível no poema.

Revolto-me, logo existo.