Coleção pessoal de rubobrobsky

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⁠ao contrário do que parece, se parece
sou frágil como uma pluma.
densas são as palavras,
as escolhas das comunicações.
os caminhos percorridos,
as decepções.
ou, os decepcionados.
o contrário é leveza.
ultimamente ando meio feto, fetal.
sem muito fato, nada fatal.
porém gosto de escrever,
também gosto das velhas palavras densas.
da liberdade gramatical.
do não ser,
ou do ser lido sem saber se ler.
quando desisto de me entender,
é quando me entendo por ir.
quando vou,
quando fui.

⁠dar um tempo de si,
dar um tempo de mim.
enterrar verdades,
enterrar mentiras.
lento,
quente,
árduo.
sente

⁠talvez eu deva me mudar.
arrumar uma casinha no meio do mato
e ir pra lá morar.
melhor, ir pra bahia
juntar os trapos e me aventurar.
rolar na areia,
subir em árvores
colher frutas do pé.
talvez eu deva me mudar,
afastar de tudo e todos.
longe da maresia corrosiva das metrópoles.
das opiniões equivocadas das pessoas,
longe de mim.
do meu amor falido.
inconstante.
impossível.
talvez eu deva me mudar,
ou, antes mesmo que eu me mude
talvez eu só deva aceitar as partidas.

⁠abra-te suposições,
fecha-me.
rodopio, mártir.
sambando em sobras...
de canções que se esvaem pelos cantos.
supra-me ou,
supero.
belo horizonte, belo.
solo brasileiro.
sexta “fera”, voraz.
ser e não ser,
sendo.
patético e fútil,
fluindo.
não me sinto, oras...
nem te sentes.
matéria prima terceirizada,
explorada,
usurpada...
reflorescerás.

⁠quando você é criança
e sonha em um dia ser diferente.
de repente, com o passar dos tempos
descobre que pessoas gostam de ti, justamente pela sua diferença.
embora se pergunte se a sua normalidade anteceda a este querer,
sabes bem que no fundo,
as inquietudes das quais surgiram a necessidade em ser assim,
já era o que te tornava isto.

santos e diabos.
vai com calma,
vai com alma.
nuvens cinzas e
sentinelas.
santos e diabos
do sol a terra,
um marco de existência.
sublimação.
resiliência à pó.
do pó ao gás.

queda.
crush.

quem sabe um dia.
quem sabe os dias.
quem sabe a estação,
ou uma, ou várias.
primavera,
verão...
olha,
quem sabe de baixo,
parasitando.
no subsolo.
quem sabe?
aliás,
quem sabe o que não se sabe?
vai saber.
crush.
queda.
paixão.
queda.
súbita.
queda.
enquanto debatias
não menos caía.
não menos levantava.

você pode ter uma família incrível que te ensine sobre o amor,
mas o amor próprio só você poderá aprender.
por conta própria.

atuo para ser,
escrevo para não ser.

enquanto não sou, atuo.
mas enquanto estou,
eu escrevo.

eu tenho sede de vida.
nem bebo líquido,
só vida.

numa conversa a qual pouco me recordo,
um amigo uma vez me disse pra acreditar na arte.
ele fixava seus olhos bem na minha cara amedrontada de quem foi macabéa pra metrópole dos deuses e diabos na terra do sol.
eu estava certo de que disfarçava bem e conseguia contornar toda aquela situação.
de fato eu consegui.
mas, é que deu medo sabe?
a gente se embebedava e ria.
dançava,
tragava cigarros e ansiedade.
eu não rendi muito aquela conversa,
devo ter pensado em algo menos desconfortante do que esse papo de "acreditar na arte".
a propósito, que conversa era aquela. estranha. que me angustiava.
desce mais uma.
já faz um tempinho isto,
mas é que ontem estive atravessado por algo.
"meu sonho era escrever e o pobre não pode ter ideal nobre". - Carolina Maria de Jesus
hoje já não sei mais se foi a conversa
ou qualquer outra coisa.

me apresento por alma
e não tenho medo dos céticos.
também não me assustam os vampiros,
tampouco histórias profanas.
me apresento por alma,
pela insuficiência da matéria,
pela insuficiência daquilo que é.
pois, para mim não basta
nem nunca bastou.
me apresento por alma,
pela própria alma, pela calma.
pelo intangível.
pelo epifânico.
por aquilo que esmurra o estômago,
e que não tem diagnóstico.
me apresento por alma,
para não ser lido.
para não ser traduzido.
para não ser ou,
caso for,
que seja alma.

hoje estou feliz.
um dia eu bem quis que
estas palavras
compusessem os versos de um poema.
por hoje,
a minha felicidade é intransigente.
ainda que eu aja
e me sinta insuficiente.
ainda que eu pense
e me haja nostálgico.
ainda que eu mesmo sinta
e pense em comos e porquês.
entretanto
por hoje,
eu estou feliz.
por hoje,
houvera felicidade.

sou aquele que foi em essência,
sou aquele que é em existência.
se penso, logo existo.
se sou, logo estou.

o menino e as histórias

ele queria contar uma história
de um menino que veio do interior
como quem conta passado.
como quem conta,
ultrapassado.
além desta,
tinham também outras histórias
das quais ele queria contar.
mas que nem contou.
hoje ele nem existe mais.
virou protagonista de uma poesia qualquer.
mas lá no interior,
não naquele,
no seu interior
restara uma história da qual me recordo bem.
de um menino que queria contar histórias
ainda que não quisessem ouvir.
dessas,
eu jamais esqueceria.

carsan

macabéa.
do que gritando?
gerúndio.
de quem corres?
de você?
do mundo?
macabéa.
onde foi parar-te?
para onde vai?
ou, quando volta?
o mundo e macabéa.
macabéa e as cantigas.
o mundo e as cantigas.
as cantigas.
o mundo.

carsan

oh meu deus
sinto saudades de mim
mas qual eu?
o que eu?
quem eu?
oh meu deus
sinto saudades de mim
não do que me tornei
mas o que me tornei
não seria eu?

há um tempo provo da vulnerabilidade,
carne crua,
contato real.
despercebo.
não tenho lidado muito bem.
humano látex,
vulgar em demasia.
de mim, carrego um vendaval
que um dia suscitei.
ainda que inconcebível,
sem muito redemoinho.
digo, do interno
há que se provar desse sabor de ventos.
de ventos...
não menos poeira em vendaval.
digo, em movimento.
do mundo, o mito do mundo.
das barreiras ilimitadas.
das fronteiras em primazia.
do amor primário,
do bom dia interrompido.
do abraço não incorporado.
da frieza e quentura.
da pele,
a secura do que se é.
do que se tem sem escolher,
ou,
de que se tem, mas tem escolha?
do olhar, a perdura.
o movimento em descompasso,
da pupila dilatada
corroendo a lágrima do choro manso,
que deveria transbordar.
há muito, tenho provado
o quão não se deve provar.
de ciranda,
das quais um dia dancei
aprendi que em círculos não se ultrapassa
o que vem à frente.
mas o que vem à frente?
da incógnita,
a dúvida.
se não sinônimos,
antônimos.
teses ou antíteses.
sínteses.
da incógnita a incógnita.
a incongruência da matéria.
desmaterializada.

enquanto sua carne estiver bem servida
os ratos estarão postos à mesa
para poder servi-la.

tem dias que recuso a vida adulta,
mas tem dias que é inevitável não aceitá-la.
exagerado.
de dia em dia me refaço,
me reparto.
dor, mas glória.