Coleção pessoal de Carpegianni
Dionisiacamente me encontro perdida em grandes estórias e finais felizes criados em mim. Culpo-me por tal atrocidade.
Sei bem de juízo que nenhuma organização ponderada humana me move, nem me deixa estática.
Não cobro nada. Nem recebo.
Levo-me em inexistências perfeitas e comparecimentos ingratos.
Não digo que vivo, não digo que estou morta.
Digo que permaneço.
Parei
de oferecer experiência aos outros
quando na verdade sou eu quem necessita de experiência
Cansei
de dar conselho aos outros quando sou eu quem precisa desesperadamente de um
Desisti
de mostrar o caminho certo a ser seguindo enquanto eu permaneço desencontrado
Não continuei
a mostrar uma porta a abrir pois nem encontrei, ao menos, um tapete de “bem vindo”
Apaguei
as mensagens motivacionais que nem a mim motivavam
Desestruturei
as metas para uma nova fase,
Se eu mesmo nem via motivos para o nome “nova”
Quebrei
os alicerces de uma vida perfeita pois vi que o perfeito só existe se houver imperfeição para o contraste
Descosturei
Ideias de filantropia quando eu mesmo era quem precisava de caridade
Vendi
Todos os presentes ganhos porque descobri a diferença de preço e valor
Eu parei, cansei, desisti, descontinuei, quebrei, descosturei e vendi…
Ainda assim, se alguém perguntar como estou?
“Bem”.
Me dá uma deliciosa preguiça social de explicar que não estou.
que nunca estive.
nunca.
Eu queria algo para me segurar quando o navio afundasse
Algo para chamar de meu e que me passasse segurança…
Sozinho eu já estou, mas queria me enganar por um dia
Por um instante achar que pertenço ao local que estou
Não achei.
Continuei distante e insignificante para mim mesmo
Chegava meia noite
Nada podia me fazer feliz e garantir que um novo ano seria “novo”
Resolvi deitar e me embriagar
Deixar o escuro e a coberta esconderem minha vergonha
E minha solidão
Sabia eu que acordaria sozinho e frio novamente no próximo dia
Onde estava o meu ano novo?
Mesmo assim, peguei um bom champanhe
Brindei comigo mesmo minha derrota e meu fracasso
Foi saboroso e libertador
A melhor parte foi me aceitar como derrotado e infeliz
Para quem sabe, recomeçar
Recomeçar?
A sofrer, a tentar, a chorar, a pensar
O importante agora seria recomeçar, certo?
Errado. Era mais um ano desperdiçado
Alguém, a cada segundo, precisa mais do que eu, permanecer vivo
Então, brindava eu, ao desespero, à carência e ao medo
Em questão de segundos, largado sobre a cama
Pensando na merda da vida
Ri de tanto azar, pessimismo e retomadas súbitas a superfície
Chegou meia noite
O mesmo ciclo de sofrimento se recomeçava
365 dias de pura escuridão de órgãos
De sangue não oxigenado
E do sabor doentio e amargo da própria língua
Chegava eu, incrivelmente de branco em um “novo” ano
Instantaneamente, o ano ficou preto e cheio de marcas de expressão
Eu percebi que acima de tudo, oxidava o mundo
Foi um conforto para minha certeza
E um fim para meu engano,
Estava só.
Há momentos em que paro, penso....
Fico olhando pela janela o passar;
Miro em fotografias do semestre passado.
Estou incompleto, imperfeito.
Ainda que completo, estaria imperfeito.
Concordo então que o problema comigo é ser imperfeito.
Incompleto eu sempre fui mesmo...
E não se trata apenas de pobres prefixos.
Todos os atos meus são imperfeitos porque você não está aqui.
Pode ser triste ler tal argumento, mas é vivo. Real.
Eu não tenho a ti quando preciso de um abraço
Não a ti tenho quando preciso de alguns beijos nas mãos
Não tenho você para arrepiar minha pele quando respira e inspira junto a meu pescoço
Não tenho você, porque ainda sou incompleto de mim...
Então minha imperfeição seria não ser completo ao ponto de ter-te junto a mim.
Basta saber se tu me aceitarias assim: redundante, imperfeito e incompleto. O que me diz?
Criava eu, um cenário perfeito
Para minhas memórias
Bons modos
Comportamento impecável
Doçura
Perdão
Carinho e fraternidade
Ninguém quis olhar o meu álbum...
Respire
Inspire
Respire
Inspire
Pego um travesseiro e o coloco sobre o nariz
Não respira
Não Inspire
Meu próprio corpo ri de mim
Como não saber morrer?
É a própria voz do medo, de pular de uma janela
Porque não tem volta
Porque não vai mais inspirar e respirar
Tentar prender a respiração é fácil
Porque sabes que o corpo uma hora ira ficar contra ti
Respiração anaeróbica
Quem foi que me disse que precisamos respirar usando ar?
Para que o pulmão trabalhar por tantos anos e segundos
Deixe-o em paz
Respire
Inspire
Respire
Inspire
Coloque-o sobre o nariz
Quebrei
Os alicerces de uma vida perfeita
Pois vi que o perfeito só existe se houver imperfeição
Descosturei
Ideias de filantropia
Quando eu mesmo era quem precisava de caridade
Vendi
Todos os presentes ganhos
Pois descobri a diferença de preço e valor
Eu parei, cansei, desisti, descontinuei, quebrei, descosturei e vendi
Mesmo assim, se alguém perguntar como estou? Bem.
Me dá uma deliciosa preguiça social de explicar que não estou.
Poderíamos descrever durante
Nove anos só as vantagens do preto
Mas quero instigar o valor do branco
Da sua grandiosa felicidade de exprimir um brilho
Que não é seu.
Egoísta!
O seu brilho, é resultado do esforço
De todo um espectro solidário e bobo.
A branquetude de tudo se exprime como
Superior!
Coitada!
Tão vazia de si que não existe
Sem as reais cores bobas.
O preto me conforta por desmascarar
Sangrentamente essa pseudo-luxuria.