Coleção pessoal de carolinaferreira
”.. Agora temos sido rudes e indiferentes. Coisa estranha essa, o silêncio. O toque na pele, a massagem no ego. Muitas palavras aos goles e nem tantas estiradas, exalando qualquer sabor, do tabaco ao alfazema. Entretanto sou incapaz de dizer o que é que eu quero, apesar de ansiar demasiado pelo seu toque austero. Amar e ser amante é como luz e escuridão. As beiras do abajur o toque cálido e selvagem, mais a noitinha, debaixo das cobertas, o frio das lágrimas a escorrer à procura do querer, ter, pertencer. “
”.. Um beco sem saída, era onde eu havia chego. E eu não tinha idéia alguma sobre tudo o que estava acontecendo, eram somente idéias fragmentadas e certa compaixão pelas lágrimas que ali estavam a rolar. Uma garrafa e maço de cigarros vazios, embalagens puritanas. Desde quando eu havia adquirido tal profuso desejo pelo condenável? Ah sim, essa resposta eu não tinha, já não sabia quem era. A reflexão pede uma pausa, toda a questão, afinal de contas, é de absoluta estranheza. O mundo então havia mudado? Ou eram apenas meus olhos? Havia momentos em que não se podia nem pensar nem sentir, onde é que eu estava nesses momentos? Eu tenho achado o mundo tão feio, tenho me procurado debaixo dos vícios e medos. Onde estou? Meu Castelo de Cristal foi abdicado e, de repente, se tornou maior a ânsia que o anseio. Me tirem daqui.”
“.. Belos dias de inverno se sucedem, o vento trás o alfazema como combinação diária aos cigarros e a cafeína. Faço ao acaso menções sobre ele, fico acordada à noite feliz ás vezes. E quando ele parte, ao anoitecer, meu corpo sangra aos prantos, por dentro, por não poder pertencê-lo (…) Uma anotação que gostaria de fazer, isto [me refiro ao que sinto] está relacionado a algum dos famosos sentimentos humanos? Nunca me julguei como tal, porém hoje percebo que sou e o faço com certa profusão. Então, quando terminei de escrever aqueles fragmentos, disse nunca mais ficaria presa por falsos laços. E o cumpri.”
”.. Ah, o coração humano, frágil como um espelho cristalino de pensamentos. Ao acordar esta manhã tive a impressão que havia me curado da lancinante dor no coração, o palpitar desenfreado e áspero. Algo se debatia lá dentro, como um lobo tentando fugir das garras do predador, e seus uivos eram gritos em minha voz até então embargada. Deitada, pousei a mão sobre o seio e senti o repousar dos batimentos. Da janela entrava luz, e das árvores lá fora o gorjear do passaredo, tudo isso porque meu anseio virou conforto, assim que seus olhos pousaram nos meus e ficaram, até o toque cálido e sedento alcançar minha pele que eriçou e tratou de saborear a sensação do seu corpo contra o meu. Aquele encontro matinal havia sido o melhor momento vivido desde nossa primeira noite juntos. Não era encontro, era reencontro."
”.. É preciso sair do conforto do tradicional, costumeiro e, conhecer coisas, aprender. Deixar de lado o mesmo horário e mesmo local, o bom café matinal, e o tabaco do final de tarde. Que vida medíocre! Regrada em demasia, cansaço no fim de cada rotina. Procure pelo viçoso, pelo viceral; saia do preto no branco; não encoste nas linhas. Cambaleie com vodka, madrugue em baladas com café, divirta-se com música, deite em poesia, sonhe com seu amor, viva.”