Coleção pessoal de carlotta238

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Outrora doce, outrora amarga. Outrora sua, outrora nada. Outrora quente, outrora fria. Outrora noite, outrora dia. Outrora, outra hora, outra alma, outro alguém. Outro dia, outro não. Outro amor, quem sabe, outro coração? Outrora amada, outra hora desarmada. Outrora desejada, outra hora despejada. Outrora loucura, outrora amargura, outra hora viver, outra hora existir. Outrora querida, outra hora esquecida… Outrora já fora alguém, hoje apenas um ninguém, outrora já sorriu com alma, Hoje apenas com os lábios. Outrora corria perigo. Mas quem sabe se salve outra hora?

E do que adianta ela tanto poema escrever, se ela no final só consegue rimar com você?

O engraçado é que durante toda a minha vida, eu nunca fui de ninguém, e ninguém nunca foi meu. Quanta falta de adjetivos possessivos! Eu era tão singular… As vezes eu queria ter a chance de ser um pouquinho no plural. Eu era tão sem graça, que chegava até a ser engraçada. Eu tinha uns pedaços soltos por aí, e você devagarzinho venho juntando tudo… Chegando perto, se aproximando, me deixando sem fala, sem graça, me deixando ser sua. E eu adorava a ideia de ser pelo menos um pouco sua. Mal sabia você, que esse quebra cabeça que era eu, não possuía peça alguma que se encaixava. Não com você por perto, assim, de forma que eu possa ouvir sua respiração. Não com você com os olhos grudados no meu gritando que eu sou sua. Não com você se aproximando dessa forma perigosa. E quer saber? Eu nunca me senti tão bem vivendo em pedaços.

Era uma vez, tempos atrás, eu. Poderia começar dizendo que era inverno, e que mesmo assim, minha vida nunca esteve tão quente. Meus cabelos tinham uma mania irritante de cair em cima do meu rosto, e eu tinha uma mania mais irritante ainda de reclamar sobre eles e mesmo assim recusar até o fim a cortar. Sim, eu era esse tipo de pessoa, o tipo que amava problema. Então não foi nenhuma surpresa pro meu subconsciente quando eu comecei a cada vez mais permanecer ao lado dele. Eu negava até a morte qualquer tipo de envolvimento com uma pessoa que nem ao menos ligava para algo. Eu negava que ele me intrigava, e que passava horas tentando entender suas palavras, que ele jogava em forma de enigmas para mim. E estava ficando tarde, estava escurecendo, e eu não conseguia olhar mais adiante. Ele me dizia coisas que ninguém nunca teve coragem de dizer, e muitas vezes me fazia me sentir como se eu não prestasse para nada. Mas segundos depois lá estava ele me olhando como se eu fosse tudo. O que mais me surpreendia é que, eu sempre quis alguém que ouvisse tudo além do que eu sempre dizia. E ele ouvia o que eu nunca disse… O que minha alma não tinha coragem de dizer. Ele me ouvia, e eu nem precisava gritar… Com o passar dos tempos comecei a achar que ele tinha entendido minha fissura com o problemas. Porque ele vinha se tornando cada vez mais um problema para minha sanidade mental. “O que eu estou fazendo?” – Eu sussurrava, em quase todas as vezes que estávamos juntos. “O que eu estou fazendo?”– Eu gritava, em todas as vezes que estávamos separados. Eu não entendia o que estava acontecendo, eu não sabia nada sobre o amor, ou sobre ele. E eu lembro de que alguém naquela época me disse: “Arrisque-se, você não tem nada mesmo a perder…” E foi aí. Eu me arrisquei, e foi logo depois que eu perdi. Perdi, ele. E me perdi, tentando encontra-lo. Era uma vez, tempos atrás, eu. Tinha umas obsessões por problemas, um sorriso estampado na cara, um cabelo que sempre insistia em me desafiar e por mais incrível que pareça era inverno, e que mesmo assim, minha vida nunca esteve tão quente.

Antes eu sentia falta de algo e não sabia o que era… Era como um vazio constante. Eu sempre saia a procura de algo…Mas como procurar por algo que não fazemos a menor ideia do que seja? E por mais que eu andasse por aí, nada parecia me completar, nada nunca deu certo. Não para mim. Mas ele apareceu, um sorriso se instalou em minha alma, e tudo pareceu se encaixar. E eu que já fui tão vazia, transbordei. Mas aí ele se foi, e desde que ele se foi, o vazio permaneceu e manifestou-se impetuosamente. Porém, pelo menos agora, eu sei de que modo posso fazer para completa-lo

Eu suspeitava que o fato era que eu nunca tinha me entregado de verdade. Eu estava indo pelo fato de nunca ter ido. Eu estava me despedaçando. Me fragmentando. E o que eu menos queria admitir é que tive que esquecer a mim mesma, para não ter que me forçar a esquecer você.

Tarde de mais para voltar atrás, não tinha jeito, jeito nenhum de eu desgostar dele agora. E é por isso e por outros motivos que tudo é muito melhor quando a gente se limita a provar e fazer certas coisas que no final sabemos que nunca vão dar certo. Não gosto de devoluções, nem mesmo quando não gosto do produto. Não é como se a gente pudesse substituir algo que esperávamos que fosse perfeito. Por isso não crio esperanças. Sei que a vida não é uma loja. Sabia que agora que eu havia escolhido ele, não haveria como troca-lo. Talvez joga-lo fora se algo desse errado. Mas esse é o problema. Saberia que ele já esteve ali um dia e isso tornaria tudo tão vazio… Então foi mergulhando em seus olhos que descobri, o que minutos depois preferia nunca ter descoberto. E se eu continuasse dessa forma, mergulhando assim, sem nenhuma proteção, alguma hora iria me afogar. Disso eu tinha certeza.

Ele parece estar tentando entender que tipo de pessoa eu sou, rezo para que ele nunca descubra, é bem capaz de ele se afastar de mim depois disso. É o que as pessoas normalmente fazem.

Ele me olhava como se me conhecesse, estranho. Eu não me conheço

Eu penso muito na minha morte. Eu penso que não posso morrer agora, não posso morrer e ser esquecida, não posso morrer sem ter escrito meu primeiro livro, ou sem ter publicado para o mundo algum dos meus sonhos. Penso que não passei a vida inteira fazendo algo que eu nem mesmo sabia o que era para morrer assim do nada, não antes sem me entender, ou deixar os outros me entenderem. Penso que não posso morrer sem pelo menos uma vez andar de balão, e ver a vida de cima. Não de baixo como eu costumo fazer. Penso que não posso morrer antes de provar café e me libertar a gostar de certas coisas que eu sempre venho evitando. Penso que morrer não será uma grande aventura, não. Morrer será o fim de uma aventura que nem começou… Penso que não posso morrer sem ao menos criar uma trilha sonora para minha vida, e chorar por algum romance que deu errado, deitar na cama e fazer mil planos, e realiza-los na manhã seguinte. Eu penso muito na minha morte, e por mais que eu viva, sem nem ao menos saber pelo que estou vivendo, e por mais que eu lute, sem saber pelo que eu estou lutando, eu quero viver. Penso que quanto mais eu vivo, mais confusa eu fico, e quer saber? Eu sempre amei uma confusão mesmo.

A arte de morrer,
é morrer aos pedaços,
e viver de escassos,
tentar se encontrar,
e se perder,
achar o caminho
em alguém,
que por fim,
lhe acha um ninguém.