Coleção pessoal de cariocasumare
Profetizo com certa tristeza o fim dos literatos, pois quem restará para entender seu linguajar prolixo, as nuances de suas minuciosas descrições de fatos ou personagens, a sutileza dos temas, a profundidade do enunciado.
Siga em disparada. Para dentro de sua infelicidade, pois se te assombra o medo de ser feliz, ainda que por um ínfimo tempo, abraça já teu demônio da infelicidade que a muito te espreita e então tá, vá chorar.
Para que me servirá a razão quando estiver infartado em um leito de hospital ou sozinho na minha velhice, a levarei para além do tumulo, poderei compartilha-la com outros, o que dirão os amigos que não tive?... Ele tinha razão, mas coitado, foi tão infeliz!...?
Entretanto para os poucos gestores do capital, tudo continuará como antes, seus filhos continuarão sendo formados pela Harvard, Stanford, Cambridge, etc., continuarão sendo as pessoas que gerenciarão estes nossos mal formados trabalhadores, restando para outros poucos, também formados por estas importantes universidades, permanecerem no exterior, pois lá as oportunidades para eles continuarão sempre infinitas.
Balada para a fugitiva.
Eu preferi ir ver a vida, ela não me abandonou e saiu por ai. Talvez eu a tenha abandonado, quando abri mão dos meus sonhos. Não me comprazerei com tua amargura, tão pouco com tua covardia em viver. Não mendigarei sua atenção para com minhas mazelas, pois delas tenho ciência ser de minha responsabilidade. Irei furtar-me ao direito de tua presença para não mais sofrer a tentação de vulnerabilizar-me diante de ti ou outrem.
Não verbalizarei de forma audível minha frustração, me aterei a efemeridade da escrita poética, onde poderei esconder minha raiva, contida em vernáculos pouco conhecidos e externar minha frustração de forma contida e dúbia, onde só os mais avisados poderão vislumbrar o sentimento oculto e ao mesmo tempo explicito.
Não chorarei. Não por insensibilidade, mas por convicção de inutilidade, deixarei que a vida flua, ainda que sem você. Esperarei pacientemente que as feridas se cicatrizem e partirei novamente para uma nova jornada de afeto, onde você será apenas uma cicatriz a ser lembrada e nada mais.
Lamento sim, pelo que sua covardia nos privou, poderíamos ter vivido e experimentado muito mais juntos, testado as limitações que nossas vidas nos impuseram, descoberto os prazeres que nossos corpos almejavam. Mas seu medo fala mais alto e preferistes a tua solidão.
Ouço lá fora o agouro da coruja, mas não me soa como agouro, apenas um lamento, tão lúgubre quanto o meu nesse momento. Mas a manhã vem se aproximando e vou encontra-la sem medo, renovado, ainda com certeza quebrantado, mas disposto a prosseguir, com ou sem você.
Teu choro me comoveria se fosse o choro da desilusão, por um erro cometido, um amor atrevido e não correspondido, fruto do desgaste depois de tudo tentado e ainda assim mal sucedido. Mas teu choro é o choro dos que se acovardam, portanto não é digno de complacência ou cumplicidade daqueles que te cercam, quase merecedor de pesar, mas ainda assim não o receberá de minha parte.
Siga em disparada. Para dentro de sua infelicidade, pois se te assombra o medo de ser feliz, ainda que por um ínfimo tempo, abraça já teu demônio da infelicidade que a muito te espreita e então tá, vá chorar. E seja infeliz o quanto desejares, até ao mais fundo ondes te aprazerás de tua própria auto piedade.
Ela, Cigana.
Sou mulher do tempo, guiada pelo vento;
sou mulher do Sol e amante da Lua;
sou mulher da rua.
Sou mulher da luz e da escuridão,
minha casa é a imensidão.
Sou feiticeira antigamente perseguida,
mas ainda, por muitos, temida.
Sou andarilha sempre em busca,
guerreira sempre na luta.
Sou mulher de escolhas e de opinião,
vejo o destino na palma da mão.
Sou mulher de muitas diretrizes,
traçadas por minhas cicatrizes.
Sou mulher de corpo frágil,
mas de alma forte.
Sou a força de toda uma vida
e prova da inexistência da morte.
Se um dia eu cruzar seu caminho agradeça, moço,
poucos têm essa sorte.
Desculpe minha falta de educação
Peço ao leitor que desculpe minha falta de educação de me imiscuir em assunto que com certeza não tenho “formação” para tratar de forma adequada, mas aos meus olhos a crescente importação de mão de obra pelo Brasil, a sobra de vagas de trabalho em determinados segmentos do mercado nacional e a existência de um grande contingente de desempregados com segundo grau escolar, revelam que as questões do ensino e da qualificação profissional no Brasil precisam urgentemente ser revistas. O pouco ou quase nenhum investimento no ensino técnico ou de “qualidade” trará em curto prazo de tempo um significativo atraso no desenvolvimento econômico do País.
Hoje apenas 13% dos jovens que chegam o término do segundo grau têm acesso ao ensino superior. Destes, mais de 80% só conseguirão continuar os estudos no ensino privado, é fato é que existem pequenas “ilhas de excelência” em poucas universidades brasileiras, no mais se cria uma grande massa de cidadãos que cujo objetivo final da formação é que consigam manusear tecnicamente diversas máquinas e que sejam flexíveis para se adaptar a diferentes cargos e funções dentro de uma empresa.
Quanto se investe em pesquisas no Brasil? Com certeza o investimento em pesquisa não dá retorno da noite para o dia, mas acredito que está na hora dos governos reverem suas politicas de incentivos e os empresários começarem a apostar neste segmento, ou reprisaremos a história colonial de certo País que de potencia no período das grandes navegações, virou um dos mais atrasados economicamente na Europa moderna.
Li outro dia no site de uma revista que o Brasil está investindo na importação de cientistas. Já é um começo. Mas como andam os laboratórios de nossas universidades e centros de pesquisas? Terão eles infraestruturas para estes cientistas importados desenvolverem suas pesquisas ou apenas brincaremos de fazer de conta que estamos mesmo caminhando neste segmento?
Entretanto para os poucos gestores do capital, tudo continuará como antes, seus filhos continuarão sendo formados pela Harvard, Stanford, Cambridge, etc., continuarão sendo as pessoas que gerenciarão estes nossos mal formados trabalhadores, restando para outros poucos, também formados por estas importantes universidades, permanecerem no exterior, pois lá as oportunidades para eles continuarão sempre infinitas.
Ter razão ou ser feliz
Passamos muito tempo de nossas vidas tentando provar que temos razão, vezes em uma, vezes em outra situação ou questão, quase todas sem importância nenhuma naquilo que nos é mais caro, passamos a vida tentando convencer nossos familiares, amigos, colegas de trabalho e até mesmo aos estranhos de que temos “razão” na discussão que estiver em tela naquele momento, gastamos nisso desnecessariamente muita energia, para que no fim da conversa sejamos no mínimo duas pessoas descontentes, frustradas com o desfecho do embate, que nada ganharam de positivo com o episódio.
Qual importância tem de fato se seu cônjuge ou filhos deixam roupas penduradas no banheiro, apertam o tubo de creme dental pelo meio, que seu amigo acredita que o insucesso do time de futebol é culpa do técnico ou daquele lateral esquerdo, que aquele outro acredite que sua alma só terá salvação se você adotar os dogmas da religião dele, ou se o colega de trabalho ao lado, tem mania de ouvir musica no computador, por que estressar-se por causa de uma vaga de estacionamento “roubada”, ou uma preferencial no transito que não foi respeitada?
Se você é do tipo de pessoa que se irrita com nestes tipos de incidentes, com certeza tem lá as suas “razões”, mas se você realmente fica transtornado com estas coisas ao ponto de deixar estragar o seu dia ou pelo menos algumas horas dele, você é do tipo que quer “ter razão”, independente da sua felicidade ou da sua saúde pessoal e social. Contudo, não estou afirmando que você deva abrir mão de sua fé politica, religiosa, sua paixão pelo futebol, nem mesmo deixar de lado seus princípios morais, éticos, etc., mas pode acreditar; ninguém consegue ser feliz, quando quer ter razão.
Eu pelo meu lado, decidi que não quero ter razão, prefiro “ser feliz”, como disse o Mestre Rubem Alves em seus escritos, o tempo e as jabuticabas: ”... Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado do que é justo. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo. O essencial faz a vida valer a pena”.
Não preciso que as pessoas concordem comigo, nem eu preciso concordar com elas, tudo que preciso é respeitar as opiniões diferentes e ser tolerante com aquilo que não me é agradável, para que não passe de desagradável e se torne o objeto de minha infelicidade. Assim vou seguindo meus dias, tentando em cada um deles ser mais feliz do que ter razão. Para que me servirá a razão quando estiver infartado em um leito de hospital ou sozinho na minha velhice, a levarei para além do tumulo, poderei compartilha-la com outros, o que dirão os amigos que não tive?... Ele tinha razão, mas coitado, foi tão infeliz!...?
A inutilidade de aprender a escrever
Quando eu era jovem queria muito aprender a escrever, para quem sabe um dia tornar-me um escritor. Bem... este sonho já abandonei a bastante tempo pois descobri que além de escrever faz-se necessário talento e isso não se aprende , ou a pessoa tem ou não tem. Agora com o passar dos anos me pergunto para que precisamos aprender a escrever? Em tempos de internet, poucas são as expressões que precisamos conhecer para nos comunicarmos, basta publicar em um determinado micro blog algo como: @cariocasumare #umidiotaem140caracteres e se obtivermos como resposta alguma coisa semelhante a \ô/\ô/\ô/\ô/, kkkkkkk ou asussausuausuausas, quer dizer que conseguimos nos comunicar. (seja lá o que signifique o que foi dito ou entendido)
Mas, saber escrever é inútil e tal inutilidade já foi vista até pelo principal fabricante de softwares do mundo, pois hoje compramos um micro computador relativamente bom, com processadores de ultima geração, com uma invejável velocidade de emulação, mas principalmente e o mais importante, com a plataforma do maior fabricante já instalada, por aproximadamente mil reais, inclusa na instalação a importantíssima e gratuita ferramenta de navegação na internet, todavia como escrever é pura vaidade de uns poucos mortais, para se obter o editor de texto deste mesmo fabricante, na sua versão mais completa, teremos que desembolsar outros mil reais. Estão certos, já dizia o poeta “... navegar é preciso...” escrever não é preciso.
Tenho pena dos jornalistas que todos os dias executam um árduo trabalho para escrever seus artigos, informar sobre fatos ocorridos no mundo ou em suas cidades, procurando sempre diversificar o vocabulário, temas etc., para não parecerem monótonos ou repetitivos, usando das técnicas de redação que aprenderam nas faculdades ou na pratica da redação de um antigo jornal, cada vez menos terão público para entender o que foi passado como mensagem, seja contextual ou subliminar.
Profetizo com certa tristeza o fim dos literatos, pois quem restará para entender seu linguajar prolixo, as nuances de suas minuciosas descrições de fatos ou personagens, a sutileza dos temas, a profundidade do enunciado. Entristeço-me quando vejo as letras de musicas que substituíram nos rádios as do Noel Rosa, que primavam pelo humor, a poesia complexa de Caetano Veloso e Gilberto Gil, a música critica de Gonzaguinha e Chico Buarque, bem como a cornisse refinada de suas letras ou da maestria da cornisse do Mestre Cartola, hoje substituídas por letras simples em rimas pobres de uma cornisse explicita e sem graça, cantadas em versos desconexos que forçadamente se juntam sem fazer o menor sentido.
Ainda me ressinto dos professores de minha juventude, que, diga-se de passagem, eram excelentes, pois naqueles tempos ser professor na maioria das vezes era vocação e não falta de opção, eles insistiram para que eu aprendesse a ler e escrever, contrariando a veia boemia que então existia em mim, eles fracassaram em ensinar-me a escrever, mas mataram o boêmio e o transformaram em um cínico de humor mordaz e duvidoso, com o qual hoje sou obrigado a conviver e que volta e meia me enfia em confusão por ter sido mal entendido. Também... Bem feito! Quem mandou se meter a escrever?!