Coleção pessoal de caiopedra
Oito dos oito de dois mil e oito.
A beleza de quem consegue expressar suas energias mal direcionadas com as palavras, é arte de gente sábia.
Qualquer junção de palavras tolas, desamarradas, desconexas.. dá em poesia de mais requintada produção, merece livro e citação!
Escreva o que pensar, ou pense o que escrever, o poeta é aquele que deu lugar ao criativo no lugar onde paradoxalmente morara, também,a dor. E a dor não é o que insere o peta no campo criativo?
Em oito dos oito dos oito não aconteceu nada do qual o poeta - raro em essência - recorda. Mas por se fazer poeta, brincar com a desconexão das letras, se faz revelante.
8/8/8 e a memória do vazio.
Não me lembro quanto tempo durou. Na verdade não fiz essa conta. Dia 18, duas coisas vieram à tona. Na primeira, me dei conta primeiramente que meu pai, mesmo morto, não abre mão de viver no que eu poderia intitular "inconsciente impulsionado à submergir". Na segunda, eu me dei conta de que sou único responsável pelos quase-desfechos das histórias que caí como cai a chuva na terra dessa vida. Único foi exagero, claro. É bom que eu pense assim. Dói agora, mas num amanhã que nem sequer apareceu ainda no horizonte, vai espairecer e sumir como a fumaça do último cigarro de cada dia. Tá desconfortável, mas estou aprendendo a sublimar. Ou eu desista dessa merda e diga logo onde estive(ponto paradoxal de continuação)
Ou incomoda ou desperta desprezo
Ver escrito memórias passadas
De tempos remotos e tão perversos
Na tela do pintor: A imagem de seu próprio existir
E, no último instante, se deixar entrelaçar em Moraes, na hora íntima.
Até chegar ao ponto do meio do crucifixo
cheirar e deixar entrar as agonias de Fernando de Abreu.
Quando não houver mais esperança para os dias alentos
sofrer-se e deixar-se cair em tentação
mas livrai-nos do mal.
E que mal?
Mal... ora leva ao devaneio mais intenso
ora consome pela culpa.
Quando não há nada a dizer
deixar-se levar-se pelo sono dos mortos
que deixaram antes da hora íntima
horas menos despreocupadas com a privacidade.
A morte é uma música de fundo, lenta, tocada no piano e com notas minuciosamente escolhidas. Ninguém quer saber tocar. Ninguém está preparado para ouvir. Mas todo o mundo sabe, que em algum lugar, esse piano está parado, esperando um descuido, um momento inoportuno, ou alguém com perpétua coragem para dedilhar-lhe, deixando fluir sua música calma, e em câmera lenta, o momento se concretiza.
Corpo e alma.
Descartes via dois em um
Aristóteles um
e eu vejo apenas em minha frente
sentido apenas pelos piscar de seus olhos
que me denunciam o iceberg de emoções aí dentro
a cor deles me dizendo pra ser forte
e aguentar os dias quentes
que os frios que juntos passaremos
aqui ou acolá
há de chegar
Já eu te amo naquela música
coração de flor de mandacarú
espinho de rosa preta esquecida
no ouvir dos passos de um casal brigando
e no bater das asas de um passarinho
que voa pela primeira vez
buscando abrigo no céu, imenso
e azul de um outono seco qualquer.
Há aqueles que me amam indiretamente, rondando...
Na conversa com minha mãe, quando passa na avenida ou naquele olhar no qual quase julgo indiferença.
Ainda vejo nossa história em cada música que ouço. Minha vida e meus dias se resumem em olhar suas fotografias e te imaginar aqui de novo (como se já estivesse).