Coleção pessoal de Cadafalso
Desde o inicio dos tempos o homem percebeu que havia algo especial dentro de si. Seu anseio por poderes que não possuia, voar, curar-se, transformar o redor, moldou o mundo ante suas alegorias e projeções fantasticas. É exatamente isso que faz. Molda o mundo num retrato deteriorável e agonizante de seu reflexo limpido e vívido. Enquanto a degradação avança ameaçando exterminar as fontes de sua juventude, deleita-se nos louros dos produtos da sua caricatura.
Cuidado com o que se deseja. Sua luta, tão sonhada batalha gloriosa, não virá da forma que espera. Não haverá guerras, donzelas, tiranos ou monstros. Virá moldada, nos ideiais que almeja, na representação alegorica de seu meio social e estilo de vida. Seus valores serão postos à prova. E não terá, talvez, que pegar em armas, passaportes, contrabandos. Terá que enfrentar, sem querer, os obstaculos de sua má vontade e de sua desistencia por sofrimento.
Sinto-me como um batalhador, trabalhador, um guerreiro. Sinto-me tendo rasgado gargantas, explodido muros, abrigos e derrubado portões. Sinto-me vitorioso aguerrido ao erguer a bandeira dos ideiais que representei, pelos quais lutei, respirando aliviado após esmagar a tirania despota. Paradoxalmente, ao redor, sinto-me comum, entre comuns. Sinto-me ofegante, mas sem batalha, esperando pelo onibus que me entregará para a rotina sem grandes custos. Sinto-me, apenas, um animal estranho, parte do rebanho.