Coleção pessoal de brendazanchet
O lixo e o luxo do meu cérebro.
Há dias, ou meses, falta-me a criatividade. A leitura filosófica e jornalística habituais já estão longe de serem hábitos. A vontade de escrever permanece, mas as ideias escapam da mente como pássaros presos que se libertam de gaiolas e voam distantes para lugar nenhum, apenas desintegram-se no espaço-tempo.
Ouço quase o tempo todo a bendita frase "você deve confiar mais e acreditar em si mesma". Todavia, não tenho muita familiaridade com tal frase. Sei que sempre posso aprender e aperfeiçoar mais. Apenas falta-me a coragem e a autenticidade.
É necessário pensar menos na opinião dos outros, ter menos pré-ocupação e agir conforme minhas aptidões. Afinal, algo ou alguma coisa só é original porque não deixou de ser em prol da opinião alheia, apenas deixou-se ser em prol de um ideal, sem a influência daquilo que modifica e o torna comum.
Alguns pensamentos esquisitos, quase esquizofrênicos, embalam os meus dias. Assim como pensar na ideia da beleza surreal, irrelevante e suja, a qual, para mim, torna-se algo doentio, vez em quando. O físico é capa, é aparência, é engano e profanação. Tolo é aquele que pensa em beleza e a julga como algo unânime acima de qualquer outra coisa.
A mídia é o lixo da beleza, e a beleza é o lixo da mídia. Crianças, jovens, adultos e idosos se menosprezam diante da falsa perfeição estampada e esfregada na cara como algo implicitamente obrigatório. Hipócritas!
Luxo é ter "cérebro", humildade e respeito ao próximo. Beleza é carcaça.
"A calma que procuro não se encontra em nenhum olhar.
Dos olhos que olhei, me senti invadida e roubada de mim.
Da essência da minha verdadeira face só eu sei.
A vida às vezes tem sido como uma comida requentada: Sem o mesmo sabor de quando feita.
O silêncio das noites mal dormidas faz eco em meus órgãos internos.
E quando arrumo a mesa só para mim, não sei se gostaria de colocar mais um prato ao lado. Pois um dia, os mais queridos desaparecem como pó."
"Só sei por qual motivo vim quando olho no abstrato infinito desenhado no céu. No entanto, sinto náuseas ao ver que, no formigueiro da espécie humana, tão pouco encontro um olhar simbionte ao meu."
"Nas tardes chuvosas penso em você. Na verdade nem sei por que penso. Não sei a distinção entre o real e o irreal. Meus pensamentos entrelaçam os sentimentos como se fossem um só, porém, um grande emaranhado de confusão. E o que eu sinto por ti? Eu não sei, eu não sei. Na verdade até acho que sei, todavia nunca me permiti admitir que o que sinto por você vai além do tempo e é mais forte do que imagino.
O imaginário é tão doce para mim que prefiro sonhar deitada na sala de estar, enquanto o tempo corre. Não tenho vontade de me mexer, tão pouco agir para que algo de real possa acontecer. Então me dou conta que sonhar não machuca. Será isso medo das decepções? A psicologia poderia explicar melhor esse devaneio. Como nada sei nem procuro uma sessão de terapia, eu deito e eu mesma faço a minha própria reflexão. Na verdade acho que mal sei pensar.
Como posso saber o que é o amor? Amar é pensar em alguém num dia que chove? Amar é pensar até quando o sol está brilhando lá fora? Amar é quando ouço os pássaros cantarem e no mesmo instante eu gostaria que a pessoa estivesse ali do meu lado?
Como posso me consultar com pessoas que nem sequer sabem o que é amar? Será que isso pode ser ensinado nos livros? Será que podem mesmo dar conselhos e instruírem alguém sem nem sequer terem sentido o amor?
Começo a achar que sou a minha própria terapia. Que meus devaneios amadurecem a pessoa que existe dentro do meu ser. E quando olho para a rua na noite de natal, vejo casais com as mãos entrelaçadas, tenho vontade de estar com você. Será isso mesmo o amor? Ou é loucura da mente? Especialistas acham que sabem explicar o que quero desvendar em mim. Não, eles não sabem. Como podem saber? Só ousem opinar se vocês sentem algo assim, entenderam?
Vivo em constante estado febril de amor. Quando não amo, não vivo. Se não amo alguém, amo a idealização de um sentimento. Será isso fácil de ser compreendido? Ou será loucura como a de Friedrich Nietzsche?
Coração que ama é coração cheio de histórias intensas para contar. É coração que sabe como extrair sentimentos de momentos até insignificantes. Ainda acho que isso é mal de quem escreve ou mal de quem sente. Talvez uma síndrome já descoberta? Volto a dizer que a psicologia poderia explicar melhor tal devaneio. Mas será mesmo?
Sabe, estar feliz o tempo todo nem é tão legal assim. Sofrer de amor vez em quando faz bem para o coração, ensina a chegar mais perto do amor sublime. Ah, o amor... Sentimento que vem tirando o sono de milhares de pessoas todos os dias - e dos especialistas também."
"Do morro mais alto
Do morro mais alto, vejo as nuvens brancas contornadas por um azul acinzentado.
No fim da tarde, os últimos raios de sol encobrem as nuvens com um rosinha avermelhado.
É no morro mais alto que percebo o aquietar do coração e o voo deslumbrante dos pássaros na sua perfeita maestria.
Sinto Deus. Sinto que ele existe. Mesmo quando há só um fio de esperança.
Olhando ao longe, da árvore mais alta posso ver a sua copa. As folhas parecem encostar no céu, com recortes estereotipados, dignos de um designer sobrenatural.
O vento leve na superfície da Terra delineia as nuvens mais abstratas no seu infinito. As observo e tenho um forte sentimento. Sinto-me viva. Sinto-me bem.
Dos coqueiros que alcançam o meu olhar, penso em como Deus é perfeito na sua arte de criar. Às vezes reclamo, mas também sou sua obra de arte... É, então, que sinto-me alguém.
Porém, quando, por infortúnio do acaso, ouço a buzina de um carro ecoando ao longe. Sinto que ecoa solidão. Ecoa invasão. Ecoa ingratidão.
E tudo o que eu sinto é que, só sei por qual motivo vim quando olho no abstrato infinito desenhado no céu. No entanto, sinto náuseas ao ver que, no formigueiro da espécie humana, tão pouco encontro um olhar simbionte ao meu."
"Enquanto vão se preocupando com a beleza física humana, eu me preocupo com a beleza da alma da natureza . Você vai ironizar: - Mas natureza não tem alma. E eu vou dizer: -Pois lhe digo que ser humano não tem beleza, tem ignorância. Ainda assim, acho que você tão pouco irá compreender o que eu quis lhe dizer. É claro, só entende aquele que vê alma na natureza e beleza no coração da gente. Mas esse não é um humano, é anjo em forma de gente."