Coleção pessoal de Brazchi
A Conclusão
Pensei ter experimentado, das tuas mãos, a sutileza,
Ter presenciado a delicadeza.
Mas, das mãos, não as pude sentir,
A não ser o desejo de me ir.
Pensei ter pousado em um lago,
Onde parecia haver muita vida;
Mas vi que, ao entrar na água, essa vida desapareceria,
Pois nela havia algo não condizente: o fogo.
Certas pessoas dizem: “Um homem não pisa no mesmo lago duas vezes”.
E eu vos afirmo que, apesar de a frase ser um tanto quanto realista,
Há muitos que não precisam entrar em um lago para perceber o perigo nele existente!
Não importa o que disseste, não sucumbi às ilusões de uma vida supostamente feliz.
Mas como posso eu, um cara abençoado com saúde, reclamar da vida,
Se eu nem sei como vivê-la?
Outra coisa vos digo: antes de se submeter ao amor, mantenha uma mente resistente.
Caso contrário, ficará igual a mim, um poeta com uma vida um tanto infeliz.
Não reclamo da vida que possuo,
Mas dos amores que a esta foram atribuídos.
Não reclamo do amor paterno ou materno,
Mas de tudo aquilo que é moderno.
Pareço alguém um tanto quanto escandaloso,
Porém poucos sabem sentir o que é doloroso:
Ser descartado depois de tanto esforço,
Ser solto depois de viver preso ao laço.
O mundo fora trazido pelos teus lábios
E tirado por estes sem esforço algum,
Como se não fosse algo incomum.
Não deixaste alegria na mente, somente ruídos.
Os ruídos a que me refiro são as memórias que ainda persistem!
Assombram-me a cada dia de uma forma diferente,
Podendo ou não seremcondizentes.
Quantas delas ainda existem?
Tudo aquilo que pensei ter sido felicidade,
Aquilo que pensei ter sido bondade,
Foi só uma grande ilusão
Que, por muito tempo, aconchegou meu coração.
Senti meu coração ser jogado às piranhas,
Que, com os dentes afiados, o machucaram tanto,
Que, mesmo fora do meu corpo, deixou-me em prantos.
Tirou-me aquilo que chamava de esperança.
Por um momento, quis deixar tudo de lado,
Ficar na cama e o dia todo chorar!
Mas, enfim, pude sentir
A importância de valorizar o que há dentro de mim.
Explicaram para mim que o mundo é assim,
Com pessoas boas em mentir,
Mas também com pessoas boas,
Aquelas que, ao te verem afogar, te presentearão com canoas.
Enfim, a raiz do problema solucionei,
Consertei aquilo que desordenei.
Organizei a mente triste
Para que não volte a se perder de repente.
Tu me enganaste muito bem,
Mas não pensaste que mais forte eu ficaria;
Pois o verdadeiro eu sabe, mais do que todos, que eu não desistiria.
Desejo que tu vás ao além!
Pequeno Pintor
Um caderno pintado de azul,
Com árvores murchas e frutos azedos,
Os quais não são segurados nem pelos dedos.
Um lugar que muitos dizem: "Não existiu."
Certo dia, uma moça entrou,
No cenário, tudo revirou,
E de bom nada encontrou.
Um olhar triste ao cenário,
Onde secos eram os rios,
Onde nada tinha fantasia,
Muito menos alegria.
Espantou-se quando viu o jovem pintor com a mão ao coração.
Pensou: "O que há de ter nesta situação?"
Chegou próxima a este e estendeu-lhe a mão, a que foi depositada seu coração.
Com grande empatia, ela lhe disse: "Grande Pintor, por que estás a chorar?"
Este respondeu-lhe: "Leve, pois não há nada em que posso acreditar."
A moça, entristecida, novamente perguntou: "Pequeno Pintor, quem foi que te magoou?"
"De onde essa notícia em ti chegou?"
"Chegou na hora que disseste que não amava."
"Pronto, agora vá falar para quem de mim zombava!"
"Não, Pequeno Pintor. Não quero te envergonhar, mas de teus olhos as lágrimas limpar."
Encostou no Pequeno Pintor
E tirou-lhe a dor.
Para este, o mundo parou;
Para ela, continuou.
O Pintor estava, agora, sem dignidade,
Tirado de perto da bondade.
Sentindo-se imundo,
Querendo partir deste mundo.