Coleção pessoal de bicetriz
Para um amigo
Espero sempre ser sua melhor amiga, sendo sempre boa pra vc. Que Deus não permita que eu perca o romantismo, que é o que me faz ser eu. Que eu não perca o otimismo, mesmo sabendo que o futuro que nos espera pode não ser tão alegre. Que eu não perca a vontade de viver, mesmo sabendo que a vida muitas vezes é dolorosa. Que eu não perca a vontade de ter grandes amigos, mesmo sabendo que, com as voltas do mundo, eles acabam indo embora de nossas vidas.
O verbo no infinito
Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar
Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.
E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito
E esquecer tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...
Subamos!
Subamos acima
Subamos além, subamos
Acima do além, subamos!
Com a posse fisica dos braços
Inelutavelmente galgaremos
O grande mar de estrelas
Através de milênios de luz.
Subamos!
Como dois atletas
O rosto petrificado
No pálido sorriso do esforço
Subamos acima
Com a posse física dos braços
E os músculos desmesurados
Na calma convulsa da ascensão.
Oh, acima
Mais longe que tudo
Além, mais longe que acima do além!
Como dois acrobatas
Subamos, lentíssimos
Lá onde o infinito
De tão infinito
Nem mais nome tem
Subamos!
Tensos
Pela corda luminosa
Que pende invisível
E cujos nós são astros
Queimando nas mãos
Subamos à tona
Do grande mar de estrelas
Onde dorme a noite
Subamos!
Tu e eu, herméticos
As nádegas duras
A carótida nodosa
Na fibra do pescoço
Os pés agudos em ponta.
Como no espasmo.
E quando
Lá, acima
Além, mais longe que acima do além
Adiante do véu de Betelgeuse
Depois do país de Altair
Sobre o cérebro de Deus
Num último impulso
Libertados do espírito
Despojados da carne
Nós nos possuiremos.
E morreremos
Morreremos alto, imensamente
IMENSAMENTE ALTO
Quadro infantil
Eu chorei por não ter sapatos
pra calçar,
nem brinquedos para brincar,
nem livros para estudar.
Depois eu percebi que meu vizinho -
- uma criança raquítica e triste -
não tinha mãos para os brinquedos,
não tinha olhos para os livros,
não tinha um pão para comer,
não tinha u'a mãe para afagá-lo.
Então eu recolhi meu choro,
Olhei papai, beijei mamãe,
e nunca mais eu quis chorar.