Coleção pessoal de Roanina
Tio Cloves, estive pensando: a paixão e o amor seriam mesmo divergentes? Ora, pequeno Demetrius, é claro que a resposta para sua questão não será tão simples. A paixão não é de total vilania, uma vez que chacoalha as emoções de uma relação. No entanto, ela, solitária, não subsiste. Vejamos. Podemos dizer que quando se está apaixonado há uma tendência a aprisionar o outro, seja em nossos desejos, em nossos planos prontos e em um imaginário de quem aquela pessoa é ou quem queremos que ela seja. Aprisionamo-la em nossos devaneios, em nós mesmos. Já o amor, o amor guarda em nós, Demetrius, é diferente. Ele guarda com tudo ou apesar de tudo o que a pessoa é. Prevalece o respeito por compreender que o outro não caberá em nosso modelo de como tudo deve ser, em nossa maneira de pensar e agir, e ama mesmo assim. Amar é fazer feliz, não apenas pelo que se entende sobre o que é fazer o outro feliz, mas pelo que sabemos que realmente faz o outro feliz. É satisfazer-se com o que o satisfaz, não porque satisfaz a si, mas porque satisfaz o outro. É reconstruir planos que outrora já foram traçados. Em resumo, meu pequeno Demetrius, posso lhe dizer que amor é o compartilhar leve da vida, e a paixão é o simples desejo de reter o outro para si, por esse motivo a paixão não é suficiente para fazer um enlace a dois perdurar, pois somente o amor é capaz de deixar mais a si para se dispor mais ao outro. A paixão deixa a razão, o amor, não. Eis um possível prefácio do porquê a paixão se diverge do amor.