Coleção pessoal de BeteTezine
Eu me amo, demorei para aceitar isso, demorei para aceitar que tenho de me amar mais do que a qualquer outra pessoa, a fim de poder dar o meu melhor àqueles que realmente valham a pena. Sem amor próprio eu não amaria nada nem ninguém.
Reassumimos o comando da nossa existência, quando soltamos as amarras que nos prendem a situações ou pessoas e passamos a nos direcionar de acordo com o que traçamos para nós mesmos.
Quantas vezes imaginei que era amada, que gostavam de mim, que sentiam minha falta, quando na verdade o que fazia falta era a utilidade que eu tinha na vida de uma ou outra pessoa. Gostavam dos favores que eu prestava, gostavam da minha forma de nunca dizer não, gostavam da minha constante disponibilidade, gostavam da minha afabilidade, gostavam de eu ser sempre prestativa, gostavam de tudo, menos verdadeiramente de mim.
É por amor que nos transformamos, de pequenos, quase insignificantes, em gigantes. Ganhamos a força que nunca imaginávamos que teríamos e nos levantamos de situações inacreditáveis aos olhos daqueles que ainda não encontraram o verdadeiro amor.
O corpo sente, a mente sente, o coração sente, as emoções sentem e, em face desse novo sentir, ganhamos novas características que vão se somando umas às outras e nos transformando em novas pessoas, algumas vezes mais frágeis, mas, em sua grande maioria, muito mais fortes em determinação e vontade de viver.
Eu sou daquelas pessoas que possuem uma urgente necessidade de falarem do que se passa em seus interiores para se manterem sãs, assim, coloco minhas emoções para fora em forma de palavras, tanto escritas, como faladas. Essa, é minha forma de lidar com o que eu não consigo controlar e, ao menos para mim, tem funcionado muito.
Vou recolorir minha vida, vou olhar com outros olhos para os sonhos arquivados e, pouco a pouco, vou ver os que ainda posso viver e, os que se tornaram utopia, vou colocar na lixeira, pois viver de sonhos impossíveis não acrescentará nada em mim, muito pelo contrário, só me tornará melancólica e decepcionada com a vida.
Não há dor que não cesse. Não há medo que não se transforme em coragem. Não há fantasma que não evapore no tempo. Não há lágrima que não se transforme em riso. Tudo, a seu tempo, se transforma e nos faz crescer em força, fé e certeza de que por maior que seja a ferida, um dia ela fechará e se tornará, apenas e tão somente, uma cicatriz a nos lembrar que, mesmo tendo jorrado sangue, latejado e nos causado sofrimento imensurável, ela nos deixou, unicamente, uma recordação de que fomos fortes o suficiente para dar a volta por cima, recolocar um sorriso no rosto, reabrir as janelas da alma e pegar nossas vidas de volta, muito maiores em força, esperança e certeza de que nada é para sempre, nem mesmo a dor.
Em um ou outro momento das nossas vidas, todos nós seremos decepcionados, seja por outras pessoas, seja por nós mesmos, mas, o que a vida cobrará de nós, é como lidaremos com isso. Jamais seremos perdoados se optarmos por carregar o peso desnecessário da falta de perdão, sobremaneira, se não perdoarmos a nós próprios, deixando que um fato nos defina como pessoa e nos torne seres amargurados e vazios.
Verdades absolutas não existem, o que existe é a verdade de cada um, de acordo com o momento de cada um, portanto, ninguém tem o direito de julgar ninguém, porque apenas cada um sabe o que é ser ele mesmo, sabe das dores e das alegrias de ser quem é, ninguém mais.
O perdão liberta a alma, solta as amarras do rancor e nos deixa prontos para prosseguirmos por novos caminhos, desviando dos erros passados e aprendendo com eles a sermos pessoas melhores, mais felizes e mais em paz com a vida.
A dor não mente...
A dor não mente
a dor escraviza
martiriza
tiraniza
fazendo feridas no corpo e na alma.
A dor não mente
a dor grita
dor maldita
que ressuscita
lembranças há muito sepultadas.
A dor não mente
A dor nos vence por nocaute
causando blecaute
na razão
embaçando a visão.
Dor, pra que dor?
Dor, pra que tanta dor?
Dor, por que tanta dor?
Dor, o que causa dor?
Dor, dor, dor, dor...
A dor não mente
A dor é o corpo (ou a alma) que se ressente
por uma enfermidade demente
que se torna latente
e para a qual analgésicos já não bastam...
Por mais que tenhamos sofrido, por mais que tenhamos mergulhado no fundo do poço da nossa dor pela partida de um grande amor ou a perda de uma grande amizade, sempre acabamos por emergir de volta à superfície, despedaçados, é verdade, mas capazes de recolher nossos cacos e montar nosso próprio quebra-cabeça de novo.
Eu sou humana, tenho defeitos incontáveis, mas sou real, sou gente e, como tal, tenho direito a erros e acertos, a risos e lágrimas, por isso, nunca mais, mas nunca mais mesmo, vou me permitir me autodepreciar e, muito menos, me deixar ser depreciada por outros como muitas vezes me permiti ser. Não sou perfeita, mas, e daí?
Hoje, estou exausta, com dores, com as emoções à flor da pele, com o coração apertado e a alma querendo voar para bem longe de tudo o que estou sentindo.
Não, não estou querendo morrer, só queria que fosse mais fácil viver com a Esclerose Múltipla dependurada em mim.
Voltei no tempo e me vi, novamente, a adolescente cheia de sonhos e projetos, determinada a seguir meus próprios passos, a chegar ao cume dos meus ideais. Nessa fase eu tinha tantas verdades absolutas, pensava que era quase indestrutível e que nunca permitiria que ninguém ditasse as regras da minha vida. Quanta ilusão, afinal a vida é feita de regras por mais que não queiramos enxergar!
Fere-se, magoa-se, maltrata-se, pede-se desculpas, fere-se de novo, maltrata-se novamente, desculpa-se mais uma vez e este círculo vicioso vai perdurando até que chega o momento em que percebemos que, ou nos posicionamos quanto a isso, não nos permitindo mais sermos tão machucados, ou vamos nos tornar tão amargos e vazios que não haverá mais possibilidade alguma de resgate da nossa própria essência.
Por toda a minha vida eu tenho carregado pesos desnecessários, levando na bagagem dores e ressentimentos que não eram meus, lágrimas derramadas por ingratidões que nunca foram minhas, mágoas engolidas pela falta do perdão que outros não deram, olhares de reprovação por coisas que não fiz, palavras ásperas por incompreensões que não foram minhas...
Me sobrecarreguei de pessoas que não mereciam tanta dedicação minha. Adoeci, esclerosei, surtei, chorei, gritei, deprimi, quase morri de tristeza...
Mas, como nada nesta vida é em vão, como tudo tem uma razão de ser, minha quase morte se mostrou ser a minha real ressurreição. É, isso mesmo, ressuscitei das minhas próprias angústias e percebi que não tenho de carregar mais nenhuma bagagem desnecessária, descobri que não sou responsável pela falta de amor próprio de ninguém, que não sou o paliativo para pessoas adoecidas por mazelas de alma e caráter. Não posso curar ninguém que não deseja a cura real, não posso dar tudo de mim para quem não merece nada, não posso carregar as frustrações alheias, nem ser responsável por atos ensandecidos daqueles a quem um dia dei o meu melhor, mas que apenas me deram desamor de volta.
Por fim, percebi que relacionamentos não significam abrir mão da própria existência para viver a vida do outro, mas, significam ser tão leve de ser carregado que o outro não sinta nosso peso e nos leve por muito tempo, de preferência para sempre, dentro dele.
Então, respire, mas deixe o outro respirar também e não se torne um aprisionador de almas...