Coleção pessoal de beatriz_spinola

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Ela

Para ela não importa
velho, criança, humano ou marmota.
Para ela é tudo igual
politico, juiz, criminoso ou marginal.
Para ela nada adianta
dinheiro, poder, oração ou mantras.
Para ela dá tudo no mesmo
saudável, doente, galã ou vesgo.
Ela é sempre pontual
nem cedo, nem tarde, seja aqui ou em Portugal.
Ela chega pra todo mundo
Vegetal, animal, trabalhador e vagabundo.
Ela está sempre presente
seja no nascimento ou quando dá de cara com a gente.
Inevitável, indomável e feminina
Não é a penas o artigo, mas Morte tem jeito de menina:
Cruel e benevolente,
Motivo de dúvidas em várias mentes,
Nos faz esperar,
mas quando chega... Ah ela é de matar.

Compasso composto

Ei música,
Ritmo ininterrupto batucar
Desse coração pulsante
Em frenesi a dançar
Danças novas e antigas.
Loucura velha amiga
Neste ritmo louco vai cantar,
Eu acompanho em notas e passos,
Pequenos e largos
Agudos e (nem tão) graves,
Num vibrato da alma
Que não aguenta calada
O silêncio, A calma.

Oh melodia marcada,
No pulsar do meu corpo intrincada.
Em seus Staccatos
devidamente diafragmados,
Numa voz tão minha que parece de outrem.
Ou então em tão sonoro Legato
Que meus pulmões parecem mais largos
Que o ar que inspiro e exalo
em notas cantadas para ninguém.

Sigo o compasso
Tanto rítmico quanto o cartográfico,
Num caminhar musical e geográfico,
Descobrindo novos espaços
Fora e dentro de mim.
E nessa loucura incessante e acompanhada,
Tendo seu ritmo ditada,
Pelo metrônomo cardiaco que há em mim.

Vejo-me, eu, criatura barulhenta
Em frenetica hipnose alimentada pelo ar,
Que transmite as ondas sonoras,
Genesis da loucura que me faz despertar.
E neste compasso composto
Que canto e danço com gosto
Vou-me enfim.
Chega de versos e poemas
Destes o ritmo levo apenas
E eles tambem farão parte de mim,
Como a doce loucura que junto com a arte me fizeram assim.

Pesadelo

A pior coisa que vi
em um sonho que parecia ser meu:
pobre criatura esquartejada
porque de sua carne se criava tudo a partir do nada.
Seus gritos invadiam meus ouvidos
enquanto tinha carne e pele arrancadas.
Seus olhos clamavam clemencia
mas seus algozes, disto, não viam nada.
Arrancavam-lhe tudo porque se transformava:
sangue em ouro, carne em metal, pele em prata.
Bastava que o tecido antes de morrer tocasse naquilo
e aquilo em que tocava esse se tornava.
Ouvi teu choro abafado,
sem gritos, já que a língua lhe faltava,
agora era um pedaço de cobre
na mesa daqueles que a torturava.
Ela me olhou, quando ainda tinha olhos
Ela me chamou, quando ainda tinha voz
Ela me disse "te amo" enquanto ainda pensava.
Mas eu só observei, eu não fiz nada.
Quando ela se tornou mil coisas e ao mesmo tempo nada,
Aquilo que me mantinha presa observando me soltou
eu chorei, chorei por que em um único golpe senti toda a dor,
me senti despedaçada.
Eu agora vi o êxtase no rosto dos assassinos
que sorriam enquanto eram consumidos pela carne que se transmutava.
Morriam sufocados na própria ganancia
e de tão insanos não sentiam nada.
Nos seus últimos momentos vi algo que me fez estremecer
como pude não antes perceber?
O rosto dos algozes era meu
como também era o rosto da pobre criatura agora desfigurada,
eu havia me matado
na minha ganancia de querer ser tudo
acabei no fim, me tornando nada.

Liberdade?

Somos todos escravos.
Do cheiro, do sabor e do tato.
Da beleza e feiura
Das escolhas prematuras.
Somos todos escravos.
Das conscequencias dos atos.
Das verdades não ditas
E pela vida omitidas.
Somos todos escravos.
Pelas regras acorrentados.
Pelo medo presos, calados.
O que é santo? O que é pecado?
O que é escolha?
Nesta vida em bolha,
Neste cercado fechado.
Opções limitadas lado a lado.
O que é liberdade?
Nem transitamos na vida a vontade.
Nem a roupa se pode negar
Nem a loucura se pode abraçar.
Somos todos escravos.