Coleção pessoal de AURILED
Quando o trem chegou na estação e as portas se abriram, a multidão de ratos enfurecida saiu, rápido como se estivessem fugindo de gatos raivosos, lá dentro estavam todos juntos, disputando espaços ínfimos, sovacos na cara, cotovelos na boca, pés em cima de pés, lá fora fazia 35 graus, lá dentro o ar condicionado estava desligado, os ratos suavam feito sardinhas em latas amassadas, o cheiro de suor era emprignante, cheiro de quem trabalhou várias horas naquele dia.
O barulho das conversas era ensurdecedor, mal dava pra ouvir a voz eletrônica que vinha dos autos falantes do trem, ao fundo ouvia-se o som de um funk vindo de uma turminha que estava sentada no chão, ocupando um espaço que já era pequeno. Mas saíram aliviados, quase uma hora de penitência dentro daqueles vagões de um trem que insistia em andar vagarosamente.
Do lado de fora estavam vários outros ratos, que foram se acumulando devido a demora de chegada do trem, quando entraram, pareciam ratos esfomeados correndo atrás do queijo, uns conseguiram sentar as custas de empurrões, chutes e desrespeitos, os que ficaram em pé, disputavam espaços aos trancos, e assim seguiu o trem vagaroso, lotado de ratos suados como se estivessem em uma lata sardinhas amassada, pés em cima de pés, cotovelos na boca, sovacos na cara e cheiro de suor, lá dentro o ar condicionado ainda estava desligado e lá fora ainda faziam 35 graus.
Efeito Colateral
O que me alimenta, me envenena
O que me faz bem, me causa dor.
O que me dá paz, me leva ao caos.
O que me acalma, assola minha alma.
O que me sustenta, me faz cair das pernas.
O que me dá sanidade, me enlouquece.
O que saliva meu corpo, resseca meu espírito.
O que me traz saudade, me leva a solidão.
O que me faz sonhar, entorpece minha mente.
O que me dá sabor, tem gosto de fel.
O que me faz sobreviver, aos poucos vai me matando.