Coleção pessoal de AtrizS2Will
Ne me quitte pas
Il faut oublier
Tout peut s'oublier
Qui s'enfuit déjà
Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
A savoir comment
Oublier ces heures
Qui tuaient parfois
A coups de pourquoi
Le coeur du bonheur
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Moi je t'offrirai
Des perles de pluie
Venues de pays
Où il ne pleut pas
Je creuserai la terre
Jusqu'après ma mort
Pour couvrir ton corps
D'or et de lumière
Je ferai un domaine
Où l'amour sera roi
Où l'amour sera loi
Où tu seras reine
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Je t'inventerai
Des mots insensés
Que tu comprendras
Je te parlerai
De ces amants-là
Qui ont vue deux fois
Leurs coeurs s'embraser
Je te raconterai
L'histoire de ce roi
Mort de n'avoir pas
Pu te rencontrer
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
On a vu souvent
Rejaillir le feu
De l'ancien volcan
Qu'on croyait trop vieux
Il est paraît-il
Des terres brûlées
Donnant plus de blé
Qu'un meilleur avril
Et quand vient le soir
Pour qu'un ciel flamboie
Le rouge et le noir
Ne s'épousent-ils pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Je ne vais plus pleurer
Je ne vais plus parler
Je me cacherai là
A te regarder
Danser et sourire
Et à t'écouter
Chanter et puis rire
Laisse-moi devenir
L'ombre de ton ombre
L'ombre de ta main
L'ombre de ton chien
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Lília Cabral - Atriz
Emerson Nunes- emerson@portalibahia.com.br
O público brasileiro já se acostumou a odiar a frieza da personagem Marta, vivida pela atriz Lília Cabral, na novela 'Páginas da Vida'. Mas ela fez uma pausa nas gravações da novela para interpretar a protagonista Mercedes, uma quarentona bem humorada em busca de respostas em uma consulta com um psicanalista. O espetáculo teatral Divã é uma adaptação do livro homônimo de Martha Medeiros. Lília Cabral conversou com o iBahia e falou sobre a versatilidade de interpretar personagens diferentes, a maldade e o bom humor de seus personagens.
iBahia- Marta está matando o público de raiva em Páginas da Vida, mas ao mesmo tempo é o maior sucesso. Como a atriz Lilia Cabral recebe essa popularidade?
Lília Cabral - Nossa! É maravilhoso, onde eu vou todos dizem 'como esse personagem é mau', mas ao mesmo tempo fazem elogios ao trabalho. Eu não podia estar melhor coroada dentro de uma novela, que é um sucesso, muito bem escrita do Maneco.
iBahia- Qual a sua opinião com relação a atitude de Marta ao saber da gravidez da filha e de não querer a neta portadora da síndrome de down?
Lília Cabral - Acho que ela levou um baque, mas acabou sendo muito dura. Eu não faria da mesma forma, mas também não passaria a mão pela cabeça, mostraria os limites e a colocaria para enfrentar a realidade. Ela também não soube enfrentar o choque de saber que a neta tinha a doença. Eu lembro da minha avó, que ficou nove anos em uma cama. Acho que ela deveria Ter aceitado e até dado apoio, mas Marta não enxerga esses pontos.
iBahia- Quem é a personagem Mercedes?
Lília Cabral - Ela é uma mulher de 40 anos que resolve fazer análise pela primeira vez. Ela tem o trabalho dela, marido e filhos, mas tem alguma coisa que incomoda demais. É na análise que ela descobre que a vida dela estava morna e que ela precisava viver, a partir daí ela vai ganhando e perdendo coisas. Mas em compensação ela vai vivendo, coisa que ela não fazia até então.
iBahia- O que leva as pessoas a procurarem a terapia?
Lília Cabral - Acho que um desconforto interno, uma coisa que você precisa saber, uma resposta, uma necessidade de entender mais as emoções e de colocá-las no lugar certo.
iBahia- Você acredita que um psicanalista traz soluções?
Lília Cabral - Não sei se ele traz, mas ele ajuda a reconhecer. Ele estuda para te colocar nos caminhos. Mas também acredito que o analista tem que ir de encontro ao que você é, às vezes a gente não acerta o analista da primeira vez. É como se fosse um casamento, tem que está em boa sintonia com ele; uma pessoa que só fala e não tem nenhum envolvimento não dá certo.
iBahia- Você é responsável pela adaptação do livro Martha Medeiros para o teatro junto com Marcelo Saback, Marta Góes e o diretor Ernesto Piccolo. Como foi essa experiência?
Lília Cabral - Eu ajudava no sentido de cortar e acrescentar coisas que a gente tinha acabado de discutir e ler, mas quem adaptou mesmo foi Marta Góes e Marcelo Saback, mas eu também dei as minhas pinceladas (risos). Fizemos a adptação e depois partimos para ensaiar e colocar em cartaz. Ela vem sendo bem sucedida desde a época da estréia, em todos os lugares fomos bem recebidos.
iBahia- O espetáculo teve boa receptividade em cidades como RJ, SP, Porto Alegre, BH e até mesmo em Lisboa. O que você espera do público baiano?
Lília Cabral - Eu não crio muita expectativa. A peça começou sem nenhum tipo de prepotência, arrogância ou expectativa; agente queria fazer um trabalho sério, onde as pessoas pudessem se divertir, se comover e levar para casa as coisas que acabaram de ser ouvidas. A peça é engraçada, apesar de não ter sido feita com esse intuito, mas é verdadeira. Comove e entretém o público. As pessoas se identificam, e a identificação faz a gente rir de nós mesmo. É um espetáculo que faz as pessoas pensarem em situações que ou viveram ou conhece gente que já viveu. A gente tem aquele frissom de achar que vai dar certo, e porque não daria aqui? Vai ser muito bom (risos).
iBahia- Você também faz terapia o que te fez procurar o divã?
Lília Cabral - Eu procurei um psicanalista há muito tempo atrás, quando a minha mãe faleceu. Mudei de psicanalista, e estou com o Alberto Goldin há mais de dez anos.
iBahia- Marta necessita de um psicanalista?
Lília Cabral - Com certeza ela precisa (risos).
As Marias da Graça ganharam seus narizes vermelhos em julho de 1991 e resolveron formar um grupo de mulheres palhaças, algo totalmente novo no país.
São mulheres que trabalham o riso e escolheram a arte da palhaça para expressar o cotidiano feminino. Interferem assim, na visão tradicional deste universo artístico.
O grupo optou por uma atuação popular e estar presente em diversos pontos da cidade. Em seus projetos procuram sempre diversificar os locais de apresentação - do Leme ao calçadão de Bangu. Acreditam que todos tenham acesso à cultura.
Utilizam o teatro como um meio de socializar e educar. Através do Teatro Popular participam do processo de fortalecimento da identidade cultural da cidade, assim como, fortalecem a sua identidade artística.
Os 13 anos de teatro de rua, palcos e projetos possibilitaram ao grupo a formação de uma platéia que as prestigia independente do espaço, local ou proposta de encenação.
Acreditam na leveza da/o palhaça/o e no riso como um instrumento poderoso na renovação social. Não pensam na tragédia ou no drama como uma linguagem sua. As Marias da Graça são palhaças, cariocas e bem humoradas, compromissadas com o humor, a brasilidade, a mulher, o teatro de rua e de grupo, e que agora com mais de doze anos de estrada, reitera seu compromisso com a arte como uma das melhores contribuições para uma sociedade mais justa e feliz.
As Marias da Graça Associação de Mulheres Palhaças
Em 2003 o grupo fundou a Associação de Mulheres Palhaças As Marias da Graça. Fazem parte dessa associação as atrizes/ palhaças: Vera Lucia Ribeiro, Geni Viegas e Karla Conká, que estão desde a fundação do grupo em 1991, e Samantha Anciães. Além disso, o grupo convida atrizes/ palhaças, para participar de oficinas, espetáculos e projetos. Em 2003, Cris Muñoz e Mônica Müller excursionaram na Mostra Sesc CBTIJ de Teatro e Cris Muñoz participou do 2º Festival Internacional de Palhaças em Andorra – Europa (maio/2003). Vânia Cardoso, residente em Londres, foi com o grupo ao 13º MOTRARÁ FESTSESI em MG e atuou no Circuito Carioca de Teatro de Rua, Circo e Folias.
Em 2003 o grupo recebeu 02 prêmios na área de gênero:
- Global Fund for Women, San Francisco, EUA
- IV Concurso de Empreendimentos Exitosos Liderados por Mulheres, Rede Mulher de Educação, São Paulo.
A metodologia do grupo consiste em ser um referencial de trabalho e aprendizado. Fomentando a arte da (o) palhaça (o), dentro da visão do feminino, a outras atrizes que trabalham ou que queiram trabalhar com esta linguagem. Cria-se assim, um banco de talentos, permitindo que as atrizes/palhaças tenham oportunidade de se apresentar ao mercado de trabalho.
"Fala-se em golden twenties, mas, para mim, golden mesmo foram os nineties.
Nessa década eu perdi meu pai e minha mãe. Mas eles ganharam o teatro.
Foi nessa década que consegui, finalmente, meu grande diálogo com o público. Foi ótimo o meu encontro artístico com pessoas como Mimina Roveda, Paulo Mamede, Sérgio Brito, ou seja, o Teatro do Quatro, Marcos Frota, Marieta Severo, Sérgio Mamberti, Vera Holtz, Paulo Autran... Cleyde Yáconis... Suzana Vieira... e todos os outros que me acompanharam, Drica Moraes, Andréa Beltrão, Daniel Dantas, Guilherme Piva, Emílio de Mello, Paulo Betti, Nathália Timberg que tanto me ajudaram nesses meus sucessos tão queridos. Cheguei nos anos 90 com dois amados comunicadores: Cláudia Jimenez e Miguel Falabella. Sem esquecer Gringo Cárdia, Maneco Quinderé, a maravilhosa parceria. Meu encontro com as críticas, boas e más, de Bárbara Heliodora...
Foi a década de Pérola e tudo o que ela significou.
Pérola foi vista por mais de 300 mil pessoas, praticamente ocupou metade dessa década em cena. Pérola ficou 6 anos em cartaz.
Foi a década dos meus segundo e terceiro Molière, de meus tantos prêmios em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Foi uma década que mostrou que I´ll never walk alone, como Judy Garland canta no final de Pérola. E, pensando bem, nunca estarei sozinho. Além dos amigos, além dos “meus” atores, minhas peças, tenho meus leitores – que me escrevem, participam, dão bronca, palpite, elogiam, agradecem, se manifestam, enfim... Mas repito: escrevo para ser amado."
Introdução do livro: "Eu, minhas tias, meus gatos e meu cachorro".
Mauro Rasi nasceu no dia 27 de fevereiro de 1949, em Bauru, no interior de São Paulo.
Aos 13 anos, iniciou sua aventura pelo mundo do teatro, participando de um concurso com sua primeira peça, escrita e dirigida por ele: "Duelo do Caos Morto", assistida por Antônio Abujamra, que na época o incentivou a escrever.
O dramaturgo foi altamente influenciado pelas mulheres em sua obra teatral. A arte e a cultura entraram na sua vida pela mão das mulheres de sua família. Com poucos anos, ele era levado ao cinema pela avó. Depois, as tias é que o levavam e brigavam com o porteiro para ele entrar em filmes proibidos. Era uma situação tipo Amarcord.
O primeiro livro, "A Vida de Mozart", ganhou de uma tia. Cinema, música, literatura, tudo lhe foi passado por mulheres. Três delas foram professoras. De francês, de literatura e de piano.
Entre suas peças de maior sucesso estão: "A Cerimônia do Adeus", "A Estrela do Lar", "Viagem a Forli", "Ladies na Madrugada", "O Baile de Máscaras", "O Crime do Doutor Alvarenga", "Pérola", "A Dama do Cerrado" e "Alta Sociedade".
Muitos dos textos fazem referências a situações familiares, em que os personagens femininos, como suas tias e sua mãe, sempre tiveram papel de destaque. O autor se inspirava em Bauru para escrever alguns de seus textos.
Na TV, escreveu para programas como "Armação Ilimitada", "TV Pirata", participou do programa "Fantástico" apresentando o quadro "A Hora do Alçapão", e foi colunista do jornal "O Globo" de 1996 a 2003.
Rasi era um dramaturgo popular e também fazia sucesso com a crítica: foram ao todo 11 prêmios no teatro. "Pérola", foi um de seus maiores sucessos.
Desde cedo, o dramaturgo sempre se dividiu entre a música e o teatro. Se formou em música pelo Conservatório Musical Pio XII em Bauru, mas o teatro falou mais alto.
Entrevista
Como reagiu ao ver teatro pela primeira vez?
Botava a mão na boca para não rir alto e não atrapalhar aquele pessoal que brincava no palco. Tinha 10 anos e a peça era O fado e a sina de Mateus e Catirina.
O que levou à carreira?
Não sei… Eu queria ser agrônoma.
O que a mantém nela?
Principalmente, os amigos.
O pior espetáculo?
Aquele em que, no meio, você começa a fazer a lista do supermercado.
Atriz?
Laura Cardoso.
Ator?
Júlio Adrião.
Diretor?
Guilherme Piva.
Quando precisou improvisar no palco?
Sempre improviso.
A melhor platéia?
A de R$ 1. Apesar de continuar achando que o complemento da bilheteria deveria ser pago pela Prefeitura.
A pior?
A que, mesmo podendo pagar, não vai ao teatro.
Espetáculo inesquecível?
Ensaio nº 2: o pintor, de Bia Lessa
Quando o teatro vibra?
Quando a maioria ri junto.
Quando é chato?
Fico num mau-humor…
O que é transitório e permanente no palco?
O medo e a busca.
Qual o verdadeiro jogo de cena?
Quando o público acredita que aquilo que você diz ou faz de mentira é de verdade.
Como o teatro se faz possível na atualidade?
Com muita vontade e criatividade. E também mantendo o olhar contemporâneo sobre qualquer texto, de qualquer época.
Fotos: Google Imagem - Cred
Nota da redação: O www.slcomunicacao.com pede desculpas a quem nos acessa. A matéria acima diz que a atriz da entrevista é a garota-propaganda da Vitarella, Cláudia Ventura. ERRAMOS. A entrevistada é Inês Viana, que apesar de parecida, não é a garota-propaganda da Vitarella. Valeu, portanto, já que Inês Viana está com a peça “A Mulher que escreveu a Bíblia”, em cartaz no Shopping da Gávea, no Rio, onde faz sucesso absoluto. Esclarecido, portanto, o equivoco.
Eu te amo como quem esquece tudo
diante de um beijo:
as inúmeras horas desbeijadas
os terríveis desabraços
os dolorosos desencaixes
que meu corpo sofreu longe do seu.
Elejo sempre o encontro
Ele é o ponto do crochê.
Penélope invertida
nada começo de novo
nada desmancho
nada volto
Teço um novo tecido de amor eterno
a cada olhar seu de afeto
não ligo para nada que doeu.
Só para o que deixou de doer tenho olhos.
Cega do infortúnio
pesco os peixes dos nossos encaixes
pesco as gozadas
as confissões de amor
as palavras fundas de prazer
as esculturas astecas que nos fixam
na história dos dias
Texto para uma separação
Olhe aqui, olhos de azeviche
Vamos acertar as contas
porque é no dia de hoje
que cê vai embora daqui...
Mas antes, por obséquio:
Quer me devolver o equilíbrio?
Quer me dizer por que cê sumiu?
Quer me devolver o sono meu doril?
Quer se tocar e botar meu marcapasso pra consertar?
Quer me deixar na minha?
Quer tirar a mão de dentro da minha calcinha?
Olhe aqui, olhos de azeviche:
Quer parar de torcer pro meu fim
dentro do meu próprio estádio?
Quer parar de saxdoer no meu próprio rádio?
Vem cá, não vai sair assim...
Antes, quer ter a delicadeza de colar meu espelho?
Assim: agora fica de joelhos
e comece a cuspir todos os meus beijos.
Isso. Agora recolhe!
Engole a farta coreografia destas línguas
Varre com a língua esses anseios
Não haverá mais filho
pulsações e instintos animais.
Hoje eu me suicido ingerindo
sete caixas de anticoncepcionais.
Trata-se de um despejo
Dedetize essa chateação que a gente chamou de desejo.
Pronto: última revista
Leve também essa bobagem
que você chamou
de amor à primeira vista.
Olhos de azeviche, vem cá:
Apague esse gosto de pescoço da minha boca!
E leve esses presentes que você me deu:
essa cara de pau, essa textura de verniz.
Tire também esse sentimento de penetração
esse modo com que você me quis
esses ensaios de idas e voltas
essa esfregação
esse bob wilson erotizado
que a gente chamou de tesão.
Pronto. Olhos de azeviche, pode partir!
Estou calma. Quero ficar sozinha
eu co'a minha alma. Agora pode ir.
Gente! Cadê minha alma que estava aqui?
Da chegada do amor
Sempre quis um amor
que falasse
que soubesse o que sentisse.
Sempre quis uma amor que elaborasse
Que quando dormisse
ressonasse confiança
no sopro do sono
e trouxesse beijo
no clarão da amanhecice.
Sempre quis um amor
que coubesse no que me disse.
Sempre quis uma meninice
entre menino e senhor
uma cachorrice
onde tanto pudesse a sem-vergonhice
do macho
quanto a sabedoria do sabedor.
Sempre quis um amor cujo
BOM DIA!
morasse na eternidade de encadear os tempos:
passado presente futuro
coisa da mesma embocadura
sabor da mesma golada.
Sempre quis um amor de goleadas
cuja rede complexa
do pano de fundo dos seres
não assustasse.
Sempre quis um amor
que não se incomodasse
quando a poesia da cama me levasse.
Sempre quis uma amor
que não se chateasse
diante das diferenças.
Agora, diante da encomenda
metade de mim rasga afoita
o embrulho
e a outra metade é o
futuro de saber o segredo
que enrola o laço,
é observar
o desenho
do invólucro e compará-lo
com a calma da alma
o seu conteúdo.
Contudo
sempre quis um amor
que me coubesse futuro
e me alternasse em menina e adulto
que ora eu fosse o fácil, o sério
e ora um doce mistério
que ora eu fosse medo-asneira
e ora eu fosse brincadeira
ultra-sonografia do furor,
sempre quis um amor
que sem tensa-corrida-de ocorresse.
Sempre quis um amor
que acontecesse
sem esforço
sem medo da inspiração
por ele acabar.
Sempre quis um amor
de abafar,
(não o caso)
mas cuja demora de ocaso
estivesse imensamente
nas nossas mãos.
Sem senãos.
Sempre quis um amor
com definição de quero
sem o lero-lero da falsa sedução.
Eu sempre disse não
à constituição dos séculos
que diz que o "garantido" amor
é a sua negação.
Sempre quis um amor
que gozasse
e que pouco antes
de chegar a esse céu
se anunciasse.
Sempre quis um amor
que vivesse a felicidade
sem reclamar dela ou disso.
Sempre quis um amor não omisso
e que suas estórias me contasse.
Ah, eu sempre quis uma amor que amasse.
Poesia extraída do livro "Euteamo e suas estréias", Editora Record - Rio de Janeiro, 1999,
A PEDRA MAIS ALTA
Me resolvi por subir na pedra mais alta
Pra te enxergar sorrindo da pedra mais alta
Contemplar teu ar, teu movimento, teu canto
Olhos feito pérola, cabelo feito manto
Sereia bonita sentada na pedra mais alta
To pensando em me jogar de cima da pedra mais alta
Vou mergulhar, talvez bater cabeça no fundo
Vou dar braçadas remar todos mares do mundo
O medo fica maior de cima da pedra mais alta
Sou tão pequenininho de cima da pedra mais alta
Me pareço conchinha ou será que conchinha acha que sou eu?
Tudo fica confuso de cima da pedra mais alta
Quero deitar na tua escama
Teu colo confessionário
De cima da pedra não se fala em horário
Bem sei da tua dificuldade na terra
Farei o possível pra morar contigo na pedra
Sereia bonita descansa teus braços em mim
Não quero tua poesia teu tesouro escondido
Deixa a onda levar todo esboço de idéia de fim
Defina comigo o traçado do nosso sentido
Quero teu sonho visível da pedra mais alta
Quero gotas pequenas molhando a pedra mais alta
Quero a música rara o som doce choroso da flauta
Quero você inteira e minha metade de volta
BRILHA ONDE ESTIVER
Não há de ser nada, pois sei que a madrugada acaba, quando a lua se põe
O abraço de vampiro é o sorriso de um amigo e mais nada
Não há de ser nada, pois sei que a madrugada acaba, quando a lua se põe
A estrela que eu escolhi não cumpriu com meu pedido e hoje não a encontrei
Pois caiu no mar, e se apagou
Se souber nadar, faça-me o favor
O milagre que esperei nunca me aconteceu
Quem sabe é só você
Pra trazer oque já é meu
(x2)
Brilha onde estiver
Faz da lágrima o sangue que nos deixa de pé (x2)
O Teatro Mágico - Cuida De Mim
Fernando Anitelli
Pra falar verdade, às vezes minto
Tentando ser metade do inteiro que eu sinto
Pra dizer às vezes que às vezes não digo
Sou capaz de fazer da minha briga meu abrigo
"Tanto faz" não satisfaz o que preciso
Além do mais quem busca nunca é indeciso
Eu busquei quem sou
Você pra mim mostrou
Que eu não sou sozinha nesse mundo.
Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria
ser.
Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo... Enquanto fujo...
Basta as penas que eu mesmo sinto de mim
Junto todas, crio asas, viro querubim
Sou da cor do tom, sabor e som que quiser ouvir
Sou calor, clarão e escuridão que te faz dormir
Quero mais, quero a paz que me prometeu
Volto atrás se voltar atrás assim como eu.
Busquei quem sou
Você pra mim mostrou
Que eu não estou sozinha nesse mundo.
Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria
ser.
Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo... Enquanto fujo...
O Anjo Mais Velho
(Fernando Anitelli )
"O dia mente a cor da noite
E o diamante a cor dos olhos
Os olhos mentem dia e noite a dor da gente"
Enquanto houver você do outro lado
Aqui do outro eu consigo me orientar
A cena repete a cena se inverte
enchendo a minha alma d'aquilo que outrora eu deixei
de acreditar
tua palavra, tua história
tua verdade fazendo escola
e tua ausência fazendo silêncio em todo lugar
metade de mim
agora é assim
de um lado a poesia o verbo a saudade
do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no
fim
e o fim é belo incerto... depende de como você vê
o novo, o credo, a fé que você deposita em você e só
Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você
Fernando Anitelli - "Nunca fiz música sem motivo. Sei o que quero"
Fernando Anitelli fala sobre os quatro anos de O Teatro Mágico, mensagem subliminar e grana
Por: Fabiana Faria
Quem é o Fernando Anitelli, afinal? Existe uma aura de mistério ao seu redor, não?!
Bom, tenho 33 anos, sou formado em comunicação social e comecei a fazer teatro muito cedo. Já fiz o Vale Encantando, do Oswaldo Montenegro. Já fui caricaturista de um jornal diário de Osasco, já trabalhei na área de produção visual de um banco, usava crachá de bancário e tudo. Acabei aprendendo no banco a organizar, administrar um negócio.
Como foi o início do Teatro Mágico? Foi você quem inventou esse conceito?
Eu tinha um trio de música brasileira chamado Madalena 19 que acabou porque cada um tomou seu rumo. Eu acabei indo trabalhar ilegalmente como garçom nos Estados Unidos durante um ano. Lá eu comecei a ler o livro "O lobo da estepe", de um alemão. Tinha uma passagem que dizia que as pessoas têm muitos personagens dentro de si e, ao mesmo tempo, todo mundo está em extinção. Isso tinha tudo a ver com o que eu imaginava para um projeto musical e decidi nomear o CD como "O Teatro Mágico - entrada para raros".
Você fez o CD com a grana que ganhou nos Estados Unidos?
Eu usei a grana de lá, vendi metade de um apartamento, meu carro e tive ajuda do meu pai. Também juntei uma grana de uns shows que a gente fez.
Então você já sabia o que queria a partir da concepção do projeto?
Nunca fiz nada para atingir um público específico. Eu vomitei o Teatro Mágico em cima das pessoas e elas aceitaram. Tem famílias que deixam de ir ao zoológico para verem o Teatro Mágico. Isso é ótimo.
Você imaginava que fosse fazer tanto sucesso?
As coisas foram acontecendo aos poucos, mas eu sempre tive muita organização. Eu sabia que o projeto tinha força para crescer, amadurecer e se manter. É legal porque tudo aconteceu no boca a boca, pela internet e é muito bacana ver que tem um público ansioso pela gente.
Mas vocês não fazem propaganda, a música de vocês não toca no rádio... Por que isso?
Sobreviver da arte independente no Brasil é uma guerra. Tem que ter humildade e cabeça fria. No rádio, a gente não toca porque tem que pagar jabá (dinheiro em troca da execução das músicas). E, como a gente não é gravadora nem pretende ser, a gente não toca. A gente acaba tendo divulgação melhor em cidades pequenas e em jornais regionais. Os artistas acham que tocar no rádio e na televisão são as únicas formas de ganhar dinheiro e fazer seu trabalho. Mas isso não é verdade.
Vocês já tiveram proposta de gravadora?
A gente já teve convite de todas as gravadoras multinacionais para comprar o projeto, fazer CD, DVD... Eles oferecem uma Ferrari e você só tem uma bicicleta. Mas, como eu acredito no ET, faço minha bicicleta voar.
E o Teatro já dá uma grana?
Hoje ele se auto-sustenta. Se você tem um trabalho bem feito e responsável, o dinheiro vem naturalmente. Mas é uma luta constante para não faltar dinheiro e continuarmos levando o projeto.
A Veja publicou que vocês ganham 40 mil reais por show. É verdade?
Imagina! Tem show que a gente ganha 500 reais. Muito pouco. Alguns músicos ainda tocam em projetos paralelos para completar a renda.
E o que acha da internet?
A internet é uma ferramenta poderosa. Eu disponibilizo tudo de graça mesmo, esse processo de comunicação novo é sensacional. O nosso objetivo é tocar em Marte, se for possível e só a internet pra divulgar o nosso trabalho tão bem. Você lembra que existiam as fitas cassete e todo mundo gravava música pra todo mundo? Era a mesma coisa, mas em uma mídia diferente. O You Tube acabou com a MTV. Nós temos mais de 1700 vídeos publicados lá, mas só fizemos dois. É muito louco isso. As gravadoras querem pegar nosso dinheiro e a internet, não...
Assistindo ao show de vocês, tive a impressão de que os fãs idolatram a trupe toda, especialmente você. As meninas gritam histericamente...
Eu acho um absurdo isso. Meu cabelo está caindo e eu sou a cara do palhaço Bozo!
Mas, então, de onde você acha que vêm essa paixão toda dos fãs?
De alguma maneira, o projeto tocou cada pessoa que gosta da gente. Eles sabem que o nosso som não está sendo empurrado goela abaixo como é feito com a música do rádio. É um projeto de verdade, em que eles podem mostrar sua arte, discutir o assunto de verdade. Tem gente que faz tatuagem das letras, dos personagens... Eu não acho que isso seja tanta loucura. Se eu fosse um adolescente descobrindo Secos e Molhados, por exemplo, eu também faria o mesmo.
Por que você citou Secos e Molhados? Você se compara a eles?
É uma referência e uma comparação, sim. Sempre gostei do Ney Matogrosso, ele tem uma coisa meio menestrel. Meu pai diz que eu danço como ele.
Algumas pessoas comentaram comigo que acham que as músicas de vocês têm mensagem subliminar (mensagens não captadas conscientemente pelos sentidos humanos) para meio que hipnotizar as pessoas. E aí, tem ou não tem?
Olha, eu nunca fiz música aleatoriamente. A mensagem que a gente passa é a da arte livre, independente. Mas tem uma porção de mensagens em várias músicas. Se você escutar com fone de ouvido, vai ver que tem sons acontecendo do lado direito e esquerdo do fone. Se você escutar em disco e rodar ao contrário, vai escutar vozes do meu avô. Na música Separo, tem um riff de guitarra no final. Quando a gente estava gravando, na hora do riff, entrou a freqüência de um rádio e acabou gravando a voz de um cara falando "uma lembrança que você vai ter". Nós deixamos. Essas coisas não são coincidências, são providências. Tudo o que é subliminar, soma.
Sem horas e sem dores, respeitável público pagão, bem-vindo ao Teatro Mágico! Sintaxe à vontade..." Assim, brincando com um jogo de palavras, com os rostos pintados, vestidos com trapos e com narizes de palhaços, a trupe do Teatro Mágico há dois anos apresenta ao público uma mescla de circo, dança, teatro, música e poesia.
O idealizador do projeto é o vocalista da trupe, Fernando Anitelli, que se inspirou no livro O Lobo da Estepe, de Hermann Hesse, que discute a existência de vários personagens que trazemos dentro de nós mesmos. O protagonista da história, Harry Heller, se depara com um luminoso no qual se lê O Teatro Mágico - Entrada para Raros. “Aquilo me chamou muito a atenção porque eu sou uma pessoa rara, só tem um de mim. Assim como todos os momentos e todas as pessoas são raros”, diz.
O grupo que possui formação variada de 11 a 22 pessoas de acordo com o local do show possui números bastante significativos de público e de venda de cds e dvs a preços módicos, R$5,00 e R$10,00 respectivamente. “Acho um desrespeito com o público cobrar mais de R$20,00 um cd sendo que nem 10% dessa quantia fica com o artista. O nosso material é organizado e vendido pelo meu pai Odácio Anitelli em todos os nossos shows e já vendemos cerca de quatro mil cds”, comenta.
Mas como a trupe possui cerca de 500 pessoas em seus shows e vende uma média de 150 cds por noite tudo por fora da mídia? Anitelli explica “o nosso sucesso é através do boca-a-boca, dos amigos que levaram os amigos, que levaram os amigos e assim sucessivamente. Vez ou outra participamos de programas de tv, damos entrevistas para jornais ou revistas, mas a mídia mais palpável, a que podemos mensurar a aceitação do público, é o Orkut, rede de amigos através da Internet”, pontua. Existem 20 comunidades que se referem ao teatro mágico no Orkut. A maior delas intitulada O Teatro Mágico possui mais de 2.500 membros, além de outras menores com o nome de músicas, de fãs, de apresentações em determinados espaços e até de outros estados como Bahia, Ceará, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. “Ainda não nos apresentamos fora do Estado de São Paulo, mas tivemos duas aparições na TV. Isso foi o suficiente para que as pessoas nos conhecessem e divulgassem o nosso trabalho”.
O Teatro Mágico Entrada Para Raros
Fernando Anitelli
Composição: Fernando Anitelli
No inicio era o verbo... e o verbo era deus...
E o verbo estava com deus,
E já não eram sós , ambos conjugavam-se entre si,
Discutiam quem seria a primeira e a segunda pessoa,
Quem era verbo... quem era deus,
A ação e a interpretação... quem era a parte e quem era o todo.
Deus (o pai, o filho e o espírito santo),
Era também o verbo (regular e irregular)
E todos questionavam-se sobre quem seria o sujeito
E quem seria o predicado,
Quem se conjugaria no pretérito e quem renunciaria
A forma "mais que perfeita"!
Deus era o verbo e o verbo era deus,
Conjugavam-se de maneira irregular... explicitando suas diferenças,
Reconhecendo os fragmentos e os complementos
Buscavam a medida certa
E assim... reconheceram-se uno...
Eu deus, tu deus, ele deus, nós deus, vós deus... eles deus
Somos dotados deste curioso poder,
Mudamos nosso significado, nosso signo,
Nosso comportamento e nossos conceitos
(que por sua vez chegam ate nós depois de se modificarem
Muitas e outras vezes!)
Temos uma ferramenta e tanto nas mãos, e nos pés...
Temos acorrentados nossos motivos de sobra pra relaxarmos
E acomodarmos com a vida que levamos agora...
O teatro mágico é o teatro do nosso interior...
A história que contamos todos os dias
E ainda não nos demos conta...
As escolhas que fazemos em busca dos melhores atos,
Dos melhores sabores,
Das melhores melodias e dos melhores personagens
Que nos compõem,
As peças que encenamos e aquelas que nos encerram...
... nosso roteiro imaginário é a maneira improvisada
De viver a vida...
De sobreviver o dia, de ressaltar os tombos e relançar as idéias,
O teatro nosso de cada dia...
EC - E como aconteceu a montagem do show?
FA - A nossa principal idéia era mostrar que não existe palco e platéia, com uma muralha que precisa ser quebrada. Um show é uma oportunidade de pessoas raras se encontrarem, e compartilharem das coisas que acham fazer sentido. E isso tinha de ser montado de alguma maneira. Nosso primeiro show durou três horas e meia. Tinha poesia, festa, ciranda no meio do palco... Uma bagunça organizada. Naturalmente, tinha a ordem das músicas, onde iriam entrar as poesias. Eu ensaiava com metade da trupe em um dia, com outra metade no dia seguinte e tínhamos um ensaio final antes do show. Era uma apresentação longa, mas tudo foi necessário, porque estávamos nos descobrindo e amadurecendo o espetáculo. Depois, ficamos na célula de cada coisa: o que deu certo, os melhores momentos... Com o passar das apresentações, assistindo a vídeos, percebemos onde tem momento de silêncio, onde pode melhorar. Ao longo do tempo, entraram mais informações sobre o Lobo da Estepe , textos meus, teatro, lira, malabares... Agora, queremos usar tecido, juntar realmente tudo isso numa coisa só. O TM se encaixa em qualquer lugar, seja palco, quintal, sala... Conseguimos ocupar o espaço da maneira mais adequada.
EC - O figurino é um outro atrativo dos shows. Por que escolher a pintura de palhaço?
FA - A escolha do figurino foi motivo de dúvidas para alguns no início. Para que usamos a coisa do palhaço? Porque ele é 100%, um ser muito disposto. Uma coisa que usamos como chavão pra todo mundo: os opostos se distraem, os dispostos se atraem. Até uma simples bicicleta pode ser um pretexto para um palhaço dar show: com apenas quatro pedaladas, ele faz o povo rir, cai, levanta, com disposição de fazer arte sem o compromisso de buscar fórmula que dê certo. Nós queríamos realizar as coisas, falar as poesias, brincar no palco, fazer um circo em que a gente possa brincar de pensar. A trupe virou um círculo de criação, criatividade, uma célula forte por si só... Para isso se realizar ao vivo, não basta tirar as músicas e se apresentar. A trupe acredita no que está fazendo e tem essa disposição permanente.
Os sentidos
O teatro de rua é cara a cara.
Olhamos para o nosso publico que tambem nos olha.
Cheiramos nosso publico que tambem nos cheira.
Tocamos nosso publico que tambem nos toca.
Ouvimos nosso publico que tambem nos ouve.
Dividimos comidas, bebidas e trocamos abraços sorrisos e beijos.
Transformando uma simplis tarde em um dia inesquecivel.
Manual de Amor ao Artista
Para se amar um artista tem que saber ser livre.
Não falo do amor livre, aquele desvairado em que nada importa, em que corpos
e bocas diversas fazem parte de tudo sem mesmo fazer parte de nada. Não é
desse que falo. Absolutamente também não falo de amor livre desses que quase
já não há amor. Aquele que as pessoas fingem se amar, fingem se importar mas
na verdade não. Olham para o lado sempre a procura de algo melhor e sofrem
por dentro por não saber o que procurar. Não é desse amor que falo.
Na verdade nem quero dizer nada sobre amor livre. Não é o amor que deve ser
livre.
Nós temos que ser livres.
E ser livre não significa ser rebelde, adverso, descompromissado ou
desinteressado. Ser livre não significa fazer o que acha que deveria para
parecer independente. Ser livre não significa agir inconsequentemente sem se
preocupar com o que o outro sente, com o que o outro pensa, com que o outro
precisa. Ser livre não é estar ausente.
Aliás, acho que esse é um dos maiores desafios da liberdade: estar presente.
Porque pra você ser livre você tem que entender o mundo, a diversidade dos
sentimentos, a diversidade de pessoas, a diversidade de idéias e opiniões.
Você tem que fazer suas escolhas sem ferir as alheias, sem prender, sem
forçar, sem dominar.
Ser livre não é estar no topo, é estar. Apenas.
E pra se amar de verdade um artista é preciso entender que nada é o que
parece, que as coisas mudam e quem nem sempre dão certo. É preciso entender
que sonhos podem virar realidade - nem que seja somente na ponta do lápis -
mas que nem sempre esses sonhos são reais. Podem ser só sonhos do artista. É
preciso entender que as horas passam, os dias passam, os anos passam e ele
vai estar sempre lá, apaixonado pelo trabalho (que vai ser o único amante
verdadeiro se sua vida).
Por esse motivo o artista ama seu trabalho: porque é livre.
Para se amar um artista é preciso olhar com atenção e se deixar ser olhado.
É preciso estar só e deixar só - sem realmente estar em ambos os momentos. É
preciso criar: rotinas dentro do caos, novas histórias dentro da história,
motivos pra amar, espaços pra viver.
É estar lá e saber que o artista também vai estar. É sentir e saber que o
artista também vai sentir. É amar e saber que o artista também vai amar. Sem
necessariamente ele ter que provar isso a todo momento.
As provas de amor de um artista vêm através de sua arte. O quanto mais ele
ama, mais ele se sente criador.
Não que o artista não crie também quando está triste ou desamado - mas aí é
quando o amor próprio fala.
Ele às vezes vai parecer distante, às vezes vai parecer frio, às vezes vai
parecer triste - e não vai ser por sua causa. O artista sofre, sozinho, de
sua própria criação.
Ele às vezes vai parecer animado, às vezes vai parecer eufórico, às vezes
vai parecer feliz. Aproveite sempre esses momentos com ele.
Mas não quero dizer com tudo isso que amar um artista é uma entrega
solitária. Ele também vai te amar, e te agradar, e te respeitar: se você for
livre.
Livre pra amar seu jeito desconexo. Livre pra entender suas ausências. Livre
pra admirar suas criações. Livre pra controlar o ciúmes. Livre pra se
ausentar sem jogos. Livre pra viver sem amarras. Livre pra amar sem medo.
Livre sem medo de ser amado da forma que ele souber amar.
Para se amar um artista tem que se entender que o amor é livre, sem
necessariamente ser o amor livre desvairado ou o amor livre desinteressado.
O amor é livre pois é pessoal, individual e intransferível. É variável
dentro de uma mesma forma e simples o suficiente para assustar.
Para se amar um artista tem que saber que não importa o que acontecer, se
você for digno de receber amor - qualquer tipo de amor - ele será seu.
Inevitávelmente.
Pode parecer complicado, muitas regras, muitos problemas... mas não, não é
assim.
A grande questão que você precisa saber responder para saber se pode ou não
amar um artista é: Você sabe ser livre?
Se a resposta for não, eu sinto muito.
Se a resposta for sim, então apenas te informo que, se você for realmente
livre, o artista te amará antes que você o ame - e não há como não amar um
artista apaixonado.