Coleção pessoal de armstrong_lemos_1
Reticências ...
Três pontos soltos, seguidos, um a um, no espaço em branco, com ou sem pauta, ávido a dizer algo ou, quiçá, nada.
Pode ser omissão? Indução?
Pode ser o inacabado sem conclusão ou conclusão de não acabar?
Pode ser um talvez, uma volta? Quem sabe.
Pode ser um até mais? Talvez!
Ah reticências, só sabe o teu significado as mãos que te marcam e não a mente de quem te lê.
Poesia do silêncio
Psiu, cale-se.
Não exponha ao tempo os teus rompantes, vaidades, tristezas ou qualquer coisa que faça a tua lágrima sangrar em olhos inchados.
Não esqueça de guardar para ti a desilusão, nem tampouco faça dela a morada constante.
Já é dia. O sol nasceu de novo.
As flores trazem as gotículas da madrugada, e ao meio dia, já não mais existindo, sufocam-se de calor pedindo água.
O tempo passa, a cidade grita, e na alma turbilhões de pensamentos loucos ensurdecem a razão, florescendo a angústia dos tempos de agora.
Não há o que fazer, a não ser calar-se. Moer-se; viver como se o Oz fosse aqui.
Chegada a noite, arrefece-se a rotina, e o grilo inquieto é a sinfonia divina.
O silêncio perdura, antes dentro e solitário na alma, agora, por todo canto.
Dezembro
Chegou dezembro:
A ansiedade é o começo do ciclo do tempo fim de quem consome;
A angústia é perene na continuidade do ciclo de quem não consome;
Infernais melodias estonteam quem não consome;
Angelicais melodias estimulam os sonhos de quem consome;
Abraços e sorrisos dominarão as rodas anuais de confrarias, enquanto se corre para resolver no curto tempo o que não se fez nos meses pretéritos;
Há choros, perdões, sorrisos e piadas, e no álcool seguem multidões mais do que nas rezas;
Há um clima entre o sagrado do nascimento salvador e o profano sonho de barba branca, e tudo se confunde e se completa em um só tempo;
As sopas nas calçadas para quem é excluído e a mão estendida de quem tem o pouco a dar, em dezembro flui com mais emoção que nos meses que antecederam;
Então dezembro encerra:
Nele se vai as metas e reflexões projetadas para um recomeço em janeiro;
Janeiro começa como um menino veloz, seguindo-se por meses que envelhecem sonhos, para então, como em um milagre, renascerem em dezembro.