Coleção pessoal de AntonioPrates
É Natal nos nossos lares,
neste mundo de avareza,
onde uns comem manjares
e a outros falta pão na mesa.
Estamos numa época em que tudo parece evoluir a uma velocidade vertiginosa, menos os sentimentos humanos.
Não plantamos árvores porque gostamos de plantas, mas sim porque as árvores nos dão frutos e porque estamos preocupados com a nossa sobrevivência.
No meio de tanta crueldade, de tanta hipocrisia e de tanta injustiça, muitas celebrações de Natal são uma grande farsa.
Este povo é um sorriso,
simulado de antemão,
transmitido às descendências...
Até que ganhe o juízo
que perdeu na ilusão
de viver prás aparências.
Que estranhos me parecem essas seres humanos que são mais felizes com a infelicidade dos outros do que com a sua própria felicidade.
A minha liberdade de expressão é limitada desde que o meu pai dizia palavras que eu não podia dizer.
A censura moderna não nos prende nem nos manda calar. Atormenta-nos a vida e diz-nos que temos a boca bonita quando está fechada.
Por nada quererem fazer,
não mexem nem uma palha,
os que tudo querem saber
da vida de quem trabalha.
É mais do mesmo... As vazas combinadas nos triunfos, num jogo de três cartas e dez trunfos, e o ás que se não mostra para todos... É mais do mesmo... Os reis, as grandes senas, os infantes, as damas mais ariscas do que antes, os duques que se baldam com bons modos... É mais do mesmo... São ternos, fartas quadras, nobres quinas, manilhas à mercê das suas sinas, sujeitas às andanças de quem parte... É mais do mesmo... Baralha, parte à frente, bate ao escuro, um gesto sem passado, nem futuro, e a manga faz justiça à sua arte... É mais do mesmo... A sorte a submissão, o deus-dinheiro, um vício adulterado por inteiro, as manhas que se vendem a retalho... É mais do mesmo... Um jogo, a ilusão, cartas marcadas, com almas quase sempre depenadas, sempre que são excluídas do baralho.