Coleção pessoal de AnneBeth30
-Eu queria era ser vista com uma roupa mais bonita para ser chamada de Margarida.
-Sol escaldante queima a minha pele, sinto que algo me fere e me repele
-Sinto meu corpo passar no agito da cidade e ninguém o notar.
Será que sou transparente ou não existo ao passar?
A mulher encantada subia a calçada
estava descalça e desfigurada
Ela no entanto caminhava com rebeldia enquanto se mexia
Seu corpo e todo seu molejo era feito um sacolejo
Querendo voltar a ser menina lembrando das pernas finas.
Ruas escuras percorro nas sombras da noite um alvoroço.
Viver nessas ruas sem poder circular inteiramente nua, sem pressa e sem meta é falta de alegria, igual a uma epidemia.
Mesmo assim eu insisto em sair na rua, pois cada canto tem um cheiro, um ar e um apelo.
Lá naquela casa que moro, sou apenas mais um corpo.
Ninguém fala, quando falo, ninguém me escuta, estão todos sem astúcia.
Estou na nuvens, estou nos dias, e sou ventania.
Entre montanhas, terra e ar encontro meu habitar.
Escrevo no céu, penso em cordel como uma forma de me declarar.
Espero no tempo, com muito sentimento, um jeito de extravasar.
-Sou migrante, sou nordestina, e na minha pele marcas grossas e finas.
-Sou mulher, sou feminista, sou a força imperativa.
-Sou às vezes de aço e no meio do percurso eu me rasgo…
-Sou mestiça embora ninguém o diga pois tenho a epiderme branca e fina, por onde passo, causo às vezes furor e embaraço.
-Sou premiada por ter sobrevivido a um acidente nas articulações condilares, articulares. E o que eu não sabia era que tudo isso causa ainda imensa agonia.
-Que diria eu de meu povo nordestino, que não tem pão mas sobrevive sem fazer sermão.
-Sou escuridão que alumia na maior ventania.
-Sou o grito no silêncio sem as minhas crias.
-No meu abrigo eu me agito, sou causa e sou conflito.
-Quando não tiver afeto, e muito menos intelecto, pegue caneta e papel e busque o cordel.
-Quando estiver na pesquisa de campo, e o cansaço amolar, te invadir, e você se sentir sucumbir, busque ainda no cordel para não desistir.
-Quando aquilo for falado, ouvido, mal compreendido, não fizer sentido, tome nota, tome tento e extravase seu tormento
- Quando o corpo deixar de codificar e a razão duvidar, siga na epistemologia seja noite ou seja dia, é assim que eu faria, sem cozinhar em banho-maria.