Coleção pessoal de AngelaBeatrizSabbag

1 - 20 do total de 448 pensamentos na coleção de AngelaBeatrizSabbag

A velha senhora continua em sua redoma de areia. Aproxima a data de seu natalício de quase um Século e ela ainda crê piamente que é uma baronesa. E que se danem as rainhas e princesas, pois com incomparável arrogância é bem recebida até por aqueles que teriam todos os motivos para colocarem uma dose generosa de cicuta em seus alimentos, mas acha que educação é subserviência e não a mais expressiva demonstração de nobreza.

Valas...Velas;
Velas...Valas;
Valei! Velai!
Valas...Velas;
Velas...Valas;
Velai!
Valei!
Ficai atento, vigiai e façai viger a lei do amor.

Nesses dias, aquietada à deriva do curso desse rio, contemplativa, vazia das questões impostas pelo cotidiano, fito o céu que murmura azul, vejo o sol como se estivéssemos sendo apresentados, e não consigo calar a única verdade que eu não queria mais ouvir: ainda amo você!

Claro que te amo!
Caro, sempre te chamo;
Meu pensamento tenta em vão te enlaçar;
Repito para mim mesma que o que tiver que ser será...
Noites insones de tanto desejo de ti;
Quero antecipar o amanhecer!
Minha esperança resiliente faz-me vê-lo aqui.

A vida não tem compromisso com a justiça. Veja você, começa hoje oficialmente o inverno que já começou extraoficialmemte em mim já no outono. O noticiário já nos previne que esse inverno será mais rigoroso que o passado, e para coroar meu romantismo indigente, vi há pouco a mais bela lua cheia, vista após anos de ais e uivos.

Quinta-feira, já te amei muito mais. Acho que amores como tudo têm prazo de validade. Talvez o que sempre senti por ti fosse paixão, pois que as segundas-feiras, continuam a me encantar. Bem verdade que é um encanto sem "frisson", sem alvoroço...acho que sinto pelas segundas amor, pois é estável e morno, mas mesmo assim me despertam a vontade de viver, principalmente por morrer a cada domingo.

Liv saiu da sua sala de banho vestindo um roupão de toalha bem felpuda. A cama já devidamente preparada a convidava ao descanso. Ela se aproximou, deixou o roupão escorregar do seu corpo, e languidamente escorregou para debaixo daquelas cobertas quentes. Essa noite não ia ler antes de dormir, ia fechar os olhos e ficar sonhando acordada até que o sono chegasse.

Ela estava sentada em sua poltrona favorita, aquela colocada no canto da parede do seu quarto mágico.
Fazia frio nessa época do ano, já estava no outono, ela deixou apenas uma luz discreta acesa e segurando uma taça de vinho seco, ficou horas fixando o nada.
Estava decidida a ficar ali, no seu mundo particular, principalmente agora que havia finalmente conseguido calar as suas inquietações.O vinho acabou e ela só saiu daquele lugar por tempo suficiente para buscar outra garrafa de vinho na adega.
Hoje ela não estava alegre como de costume, mas também não poderia dizer que estivesse triste, estava apenas esvaziando-se de tudo de velho que carregava dentro de si à espera de novidades.

Você aí que está desanimado pensando que acordou com o pé esquerdo...Olha que maravilha: você acordou com o pé esquerdo mas também com o pé direito, portanto não lhe falta nenhum dos seus pés. Agora pise bem firme no chão e erga a sua cabeça até a nuvem mais alta.
Bom dia!

Ela é singular, não conjuga, não compõe, mas deriva.
Dela derivaram crias e crias da cria. Ela também cria, e com tanta intensidade que contagiava a quem a conhecia.
Ela é singular, não flexiona também em gênero, mas em grau...uau! Tudo tem uma dimensão colossal.
Ela é singular, é um fado, um bolero ou um tango, pois suas notas denotam a melancolia desses gêneros que ela nem aprecia.
Ela é singular, ama músicas que lhe fazem brilhar os olhos, do pop ao rock, ela é muito reggae.
Ela é singular, ela voa, ela viaja, ela flutua, e flutuando alcança a lua. E se a lua é cheia, ela se enamora e não percebe o passar do tempo e o andar da hora.

Isadora amanheceu deprimida. Ela que nunca se sujeitou a trabalhos convencionais, desses que a pessoa têm que cumprir horários, ela que sempre fez somente o que lhe possibilitava voar, estava nesse momento sentindo como se fosse um contrato de experiência.
Olhou no retrovisor da sua história e percebeu que há tempo demais não conseguia emplacar qualquer relacionamento por mais de três meses, às vezes por mais de três vezes.
Agora, quando se olhava no espelho via um livrinho de capa azul, totalmente sem charme. Costumava conversar muito consigo mesma, e aí as coisa ficavam feias para ela. Não se poupava, queria mesmo era se sentir machucada, de preferência em frangalhos. Começava por indagar-se o que lhe valia ter tão grande autoestima, pois se fosse realmente tudo aquilo que achava dela, não viveria tão sozinha como vive. Se ela fosse aquela pessoa fenomenal que ela achava que era, faria tanta falta que não cogitariam de perdê-la de vista, de ter notícias suas e de ouvir sua voz. Amigos e amores não iriam assinar com ela nenhum contrato, mas certamente a levariam tatuada em sua histórias e principalmente em seus corações.

Aonde eu e a alegria nos divorciamos? Não me lembro.
Onde foi que a tristeza casou comigo? Há algo muito errado no divórcio e nas novas núpcias, porque não fui consultada.
Vou tentar ficar sossegada, pois não pode valer nenhum pacto unilateral, e que eu saiba só assinei um contrato de casamento com a felicidade.

A pessoa não se convence que não é mais uma garotinha.
Reencontra amigos de infância, de adolescência e outros tantos de tempos mais recentes e só pensa em celebrar. Mas ela é temperada no exagero, e se celebra, pratica a ação com garra...Seus olhos iluminam o escuro com brilho de ofuscar o sol. Mas é noite, tem dança na pista e ela se joga como se não houvesse amanhã. Amanheceu...portanto houve outro amanhã, e suas articulações, desmancha prazeres que são avisam-na que já há muito tempo ela é uma senhora.
Amo dançar!

Sim queridos, morri. Confirmem a informação no obituário dos jornais. Vim morrendo a cada ano que findava e nós nunca realizávamos os encontros marcados. O face a face sempre ia sendo adiado, postergado, procrastinado...
Tive ainda muitos anos de vida prolongados por contatos virtuais, abraços e beijos idem. Eu seguia acreditando que estava bom, que eu era querida assim como me eram caros todos vocês. Fui definhando à medida que voces nunca sentiam minha falta física em nenhum lugar, quando comecei a receber muitas flores, de todas as espécies e cores, porém sem perfume. Porque como as flores de plástico que não morrem, as virtuais também, mas não morrem porque nunca viveram.
Senti muita solidão no hospital, em casa, na rua...mas seguia acreditando que era querida. Pensando na minha ingenuidade nesse momento, não sei se rio ou choro. Nem um nem outro, agora nada mais importa.
Estou feliz, extremamente feliz, porque tive a graça de ser enterrada pela mãe, meus filhos e netos, e assim pude escapar das maiores dores do ser humano. Agora, peço que não faltem ao nosso encontro, o último, e despejam sobre meu corpo a última pá de cal.

Talvez eu não seja como me vê, pode ser até que eu não seja como tenho a convicção de ser.
Você está errado? Estou eu errada?
Talvez estejamos ambos certos ou errados, pode ser que a razão só esteja com um de nós.
Eu estou me sentindo perdida, aprisionada num caleidoscópio. Estou me sentindo fragmentada, multifacetada e multicolorida como os confetes. Pensando um pouco mais me sinto mais colorida e menor que confetes, estou purpurina. Soprou forte o vento e me espalhou de tal maneira que posso quase ter certeza de nunca mais me juntar. Será? Não sei, não adianta tentar adivinhar. Vou viver e esperar que o tempo me responda.

Carnaval 2017
É a festa da carne, mas ela resolveu afagar a alma. Decidiu recolher-se numa casa de praia que herdara de seu último marido. Levou consigo uns nove ou doze livros, seu som ultra moderno e vinhos tintos de diversas nacionalidades.
Vestiu um vestido leve, e de vestimenta só outro vestidinho na mala e muita purpurina. A não ser no trajeto de ida e posteriormente no de volta, ela seria um arco-íris. Afinal, a imersão que faria em si própria não a impediria de usar uma fantasia, afinal ninguém é uma coisa só.

Sonho...quimera,
Ai, quem dera pudesse revê-lo,
Melhor seria dizer, vê-lo.
Revemos o que já vimos,
Já vi mas não vi,
Porque o que vi não estava no que é,
Vi o que era,
Quimera,
Vê-lo, não revê-lo.

Quando a mediocridade exorbita,
A necessidade da genialidade precipita,
Órbita,
Habita.
A simplicidade é que fica,
E fita,
Aflita,
A mediocridade que ainda fica.

E se a felicidade não for como a numeração de roupas dessas confecções ordinárias que nivelam todas as roupas com o famigerado tamanho único? Já pensaram se ela tiver realmente tamanhos diferenciados? Será que a felicidade que estou sentindo caberá no meu peito ou será a mesma coisa que tentar fazer caber Nova Iorque em Anápolis? Não estou nem aí, vou pagar pra ver...

Hoje eu dispenso o poema pois a única poesia que me faria feliz seria seus olhos se fixarem tão profundamente em mim que me tocassem o coração!