Coleção pessoal de andreluisrd
[...] É talvez seja assim, difícil mesmo perder alguém e saber que nunca vai poder ter de novo. E é nessa hora que você começa a ter um relacionamento com as memórias, aquelas reais e as que você mesmo cria para não piorar as coisas.
Eu há dias vinha pensando. Vinha apenas existindo, era um circuito de emoções, era uma como uma corrida para ver quem chegaria mais rápido, meu cérebro ou meu coração. Tinha uma esperança morta nos braços, confidencias nunca feitas, olhares nunca trocados, palavras trancadas, dias guardados. E apesar de tudo, eu tinha amor, mas o problema era que eu tinha para dar e nunca para receber.
Vamos apenas fingir que está tudo bem. Fingir que não estamos magoados e não temos problemas. Vamos andar em direção ao inevitável. Vamos jurar, prometer e nunca cumprir. Vamos tentar fingir que entendemos o mundo ao nosso redor, e que a cada suspiro de nossa existência nunca ficamos com vergonha de nós mesmos. Vamos fingir que aprendemos com nossos erros e eles nos fizeram o que somos hoje. Vamos renunciar nossas vitórias, desacreditar na glória. Vamos. Fomos ao fim do mundo e não percebemos, tentamos acreditar em coisas sem sentido, como a vida, como a rotina que nos enjoa e nos faz regredir. Pensamos que devemos fazer o certo, mas quem disse que praticar o errado também não faz bem? Vamos, vamos. Diga que os entende, que sabe o que estão passando, enquanto nem suas palavras entende. Diga que quer morrer enquanto tem tanto a viver. Diga. Diga que sente muito, mas nem pensou nada a respeito. Vamos fingir que gostamos de ser quem somos, que amamos nossos erros. E que acima de tudo que gostamos de mentiras, afinal, qual a maior prova disso do que nós mesmos?
E eu passei tanto tempo tentando desvendar os outros, que no meio acabei me perdendo. E foi assim que virei o quebra cabeça que eu sou hoje. O mais complicado de se montar, mas não pelo caso das peças se parecerem ou de ser grande demais e sim porque ao longo do tempo fui perdendo algumas peças, a cada vez que eu chorava, sofria, e me iludia. Eu sou como um jogo velho dentro do armário. Sou como aquela roupa que você chegou a comprar mas nunca usou. Sou como seu tennis favorito que com o tempo foi ficando pequeno no seu pé. Sou a água que sempre escorre de suas mãos, por mais que ela queira ficar. E por pior que parece-se eu tentava me encaixar, me achar. E antes que pergunte, não. Não encontrei nenhuma peça que se encaixa-se no lugar perfeitamente. Por mais que eu tenha procurado.
O tempo estava ruim. O dia estava escuro, o sol tentava aparecer mas nunca conseguia. A chuva caia e parecia que nunca teria fim. O vento praticamente gritava por socorro. Mas o dia não era ruim. Era o dia da verdade. O dia que tudo que era real aparecia, que ninguém se escondia. Era o dia em que todos juntos formavam uma coisa só. Era o dia, que eu sentava e pensava. Era o dia em que eu não existia para ninguém. Mas foi o único de muitos no qual eu finalmente me senti viva. Sentia minha própria presença e eu não me incomodava com ela pela primeira vez na vida, foi o dia no qual eu não precisei de ninguém e que só era dependente do que a vida tinha a me oferecer. Eu esqueci de tudo. Eu também havia lembrado de tudo. De tudo que me fazia bem, e já me fez alguma vez. Foi um dia de nostalgia, um dia no qual não houve arrependimentos, foi um dia no qual o tempo estava ruim, um dia que a chuva parecia ser eterna e o vento gritava por socorro... E por mais que tudo parece errado, eu tinha certeza que pelo menos dessa vez, estava tudo certo para mim.