Coleção pessoal de andrelemour

1 - 20 do total de 29 pensamentos na coleção de andrelemour

Monólogo para TV e Teatro: "Olá, dona Inspiração"

(Barulho de batidas na porta)

Olá, dona Inspiração! Entra. Que saudade que eu estava da senhora!
Por onde andou? Ficou muito tempo fora. Perguntei para os vizinhos, tentei te achar num ou noutro livro, em poesias, em músicas, coloquei até cartazes na rua. Vamos tomar um café?

(respiração fundo, mudança de humor)

A senhora foi tão insensível. Por que me deixou esperando todo esse tempo? Sabe que a sua presença é necessária para que eu escrevesse meus textos. Tentei sem a sua ajuda, mas só saiam coisas sem sentido, sem ritmo, sem alma. Que raiva que eu senti da senhora. Muita maldade da sua parte...

Desculpa! Mas é que foram anos. Anos perdidos, sentindo um vazio. Achei que não gostasse mais de mim. Juro que achei que não voltaria mais.

Até que um dia me perguntei: O que foi que aconteceu para ela fugir assim? E eu descobri. Foi o amor, não foi? Aquele que fingia ser amor, mas na verdade era obsessão. Ele te expulsou de mim porque queria me ver somente dele. Acertei? Na mosca! Eu tinha certeza!

Agora estou livre novamente... Venha minha querida, me dê um abraço apertado! Por onde começaremos? Poesia, música, conto, teatro?!

(Texto registrado. Ficarei muito feliz de vê-lo interpretado, porém, por gentileza, ao reproduzi-lo, é de extrema importância a citação da autoria, pois senão configura-se crime de Violação aos Direitos Autorais no Art. 184 – Código Penal.)

Monólogo Mundo Moderno

E vamos falar do mundo, mundo moderno
marco malévolo
mesclando mentiras
modificando maneiras
mascarando maracutaias
majestoso manicômio
meu monólogo mostra
mentiras, mazelas, misérias, massacres
miscigenação
morticínio, maior maldade mundial
madrugada, matuto magro, macrocéfalo
mastiga média morna
monta matumbo malhado
munindo machado, martelo
mochila murcha
margeia mata maior
manhazinha move moinho
moendo macaxeira
mandioca
meio-dia mata marreco
manjar melhorzinho
meia-noite mima mulherzinha mimosa
maria morena
momento maravilha
motivação mútoa
mas monocórdia mesmice
muitos migram
mastilentos
maltrapilhos
morarão modestamente
malocas metropolitanas
mocambos miseráveis
menos moral
menos mantimentos
mais menosprezo
metade morre
mundo maligno
misturando mendigos maltratados
menores metralhados
militares mandões
meretrizes marafonas
mocinhas, meras meninas,
mariposas
mortificando-se moralmente
modestas moças maculadas
mercenárias mulheres marcadas
mundo medíocre
milionários montam mansões magníficas
melhor mármore
mobília mirabolante
máxima megalomania
mordomo, mercedez, motorista, mãos
magnatas manobrando milhões
mas maioria morre minguando!
moradia meiágua, menos, marquise
mundo maluco
máquina mortífera
mundo moderno melhore
melhore mais
melhore muito
melhore mesmo
merecemos
maldito mundo moderno
mundinho merda!

suspiro

deitado, perdido,
a lágrima não cai.
cansado de sentir que não pertenço
a nada, a lugar nenhum.

a dor no peito aperta.
aceitar que isso nunca vai mudar...
é difícil.
até o dia da minha morte serei assim?
como se digere isso?

suspiro pesado a cada respiração,
na esperança de aliviar
o que me consome por dentro.
suspiro pesado a cada respiração,
na esperança de me tornar o impossível.

Um dia de cada vez

Me ama bem devagarinho,
saboreando cada instante,
sentindo o tempo escorrer suave entre os dedos.

Gosto de te sentir,
da tua presença no agora,
e de não precisar temer o futuro quando se trata de você.

Até as nossas despedidas me aquecem,
com o toque doce da saudade,
aquele "tchau" que sussurra um "até logo, por favor".

Gosto de estar perto e te sentir,
com a mesma intensidade que gosto da distância e do desejo que ela traz,
o gosto bom do querer mais.

Gosto de saber que te penso
e que, em algum lugar,
você também me pensa.

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

⁠Disforia..

Maldita disforia, você tem uma crise e não pode fazer nada, tudo te incomoda, você tem medo de estar marcando os intrusos.
Não se sentir suficiente, usar uma blusa de frio num calor imenso, e não poder sentir a camisa na pele pois vc não tem a porra de um corpo masculino totalmente, querendo poder nascer de novo e dessa vez.. " certo" ...

Inabitável

tantas formas possíveis, mas sou essa—justamente essa que dói.
achei que era o cabelo, cortei.
talvez o peito, então curvei a coluna, encolhi, escondi.
talvez a roupa, mudei.
talvez a maneira como me movo, falo, existo.
mudei. mudei. mudei tudo que minhas mãos alcançaram.
mas meu rosto não esculpe sombras no espelho,
meus ombros não marcam presença no espaço.
não sou pedra, não sou aço.
sou frágil demais para ser quem desejo,
pequeno demais para ocupar o mundo como ele exige.
há marcas no meu corpo que não reconheço,
ausências que gritam na pele, no reflexo.
e que tipo de homem eu sou? um que luta para caber em si.
eu queria carregar isso com orgulho,
mas é um peso que me dobra, me afunda.

meu eu por dentro grita, se debate,
se agarra às grades da minha pele e implora—
onde está meu corpo?
onde está meu corpo?
onde está meu corpo?

me atraio por caras que nunca vão me ver inteiro.
sei do olhar que me mede, que me nega,
sei do que falta entre as minhas pernas
e de como isso faz de mim um quase, um nunca.
mas que culpa eu tenho?
vou realizar meus sonhos.
vou tocar o impossível.
mas no fim, ainda serei trans.
até o último segundo, até o último suspiro,
a palavra nunca me deixará.
mas,

por quê?

por quê?

Lembrei da tua pele,
do suor descendo, desenhando caminhos,
do teu rosto rendido ao desejo
e de cada resposta do teu corpo.

E junto a mim, a água do chuveiro escorria,
misturando-se ao desejo que pairava.

ao desejo azul vibrante
Ele é o toque que queima,
a palavra que não precisa ser dita,
o silêncio que diz mais que o grito.

Ele é azul vibrante,
não porque escolheu ser,
mas porque não poderia ser outra coisa.

E quem o toca,
quem o vê,
se perde,
sem querer ser encontrado.

Quão

Quão profundo foi o teu?
Quão perdido ficou o meu?
Quão real foram os teus?
Quão iludido fui eu?

Quão forte bateu o peito teu?
Quão vazio ficou o meu?
Quão breve foi a entrega tua?
Quão eterno restou em mim?

Quão fácil foi a partida tua?
Quão difícil é a minha?
Quão leve foi libertar-te?
Quão preso ainda estou?

O garotinho

Garotinho que carrega o mundo nos ombros, que sabe tanto, mas se perde no caos da própria mente. Meu garoto, o que você quer?
— Quero sorvete de morango.
Ou talvez chocolate.
Não… acho que baunilha é melhor.
Garoto indeciso, que tropeça entre vontades pequenas enquanto se afoga em desejos grandes demais para caber no peito.
Garotinho de quem me orgulho com todas as forças, por que insiste em voltar àquele lugar?
Aquele que te feriu, que te apagou, que te fez duvidar de si mesmo.
Por que corre de volta para as mãos que te deixaram cair?
Eu não consigo entender.
Ah, meu garoto…
Eu te fiz algo para merecer essa dor?
Foi minha culpa?
Ou é só o mundo arrancando você de mim, pouco a pouco, sem que eu possa impedir?

Há noites que eu não posso dormir de remorso por tudo o que eu deixei de cometer.

Bilhete

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

⁠Fascínio

Sou o espectador do seu existir,
teu maior fã,
não por sentimentos a mais,
mas porque tudo em você é arte.

Aquele instante,
quando minutos foram horas
e o tempo não ousou te tocar.
Quando todas as presenças se dissolveram
e só restava você.

Eu me perdi de mim,
do espaço, do agora.
Me perdi de tudo
que não era você.

E como se descreve algo assim?
Sou fissurado em te admirar—
te observar sendo simplesmente você.

como posso me atrever tão inseguro?
me atrevo a te falar,
me atrevo a te observar,
me atrevo a te abraçar,
me atrevo a te beijar,
e
eu me atrevo a te amar.
tão inseguro de mim,
tão inseguro de um possível nós,
tão inseguro do que não sei.
não sei o que você fez de mim,
por que eu jamais me atreveria a tanto.

Escrever
Escrever esses textos me ajuda a enxergar as verdades que tento esconder de mim mesmo. Gosto disso. Me faz encarar as coisas como realmente são. Eu sei quando estou mentindo para mim mesmo. E, por mais que às vezes tente fugir, no fundo, a verdade sempre me alcança.

Tem dias que parecem desperdiçados, e eu fico tentando entender o porquê. Mas a resposta é sempre a mesma: porque eu escolhi que fosse assim. Eu poderia ter feito algo, poderia ter mudado, mas não fiz. E estava consciente disso o tempo todo. Não dá para mentir para mim mesmo sobre isso.
Outros dias são diferentes. Dias em que me sinto vivo, em que aprendo, em que percebo que nunca vou saber tudo – e tudo bem. A diferença entre esses dias não é o acaso, não é sorte ou azar. Sou eu. Sou eu decidindo, mesmo sem perceber, se vou me movimentar ou ficar parado.

Já me coloquei demais no papel de vítima, sem nem perceber. E quando percebi, odiei. Porque eu sempre detestei esse tipo de comportamento nos outros. E me ver reproduzindo isso fez eu me sentir um hipócrita. Mas agora eu vejo. E quando a gente percebe, não dá mais para ignorar.

Aos poucos, estou mudando. Ainda estou LONGE de ser quem quero ser, mas estou no caminho. O pequeno André teria orgulho, não porque sou perfeito, mas porque sigo tentando.

Escrever me faz enxergar tudo isso. Não tem como escapar das palavras quando elas estão bem ali, diante de mim. Eu sei quando estou tentando me enganar. Sei quando estou fugindo. Mas aqui, nesse espaço, não tem para onde correr. Só resta encarar a verdade – e continuar.⁠

⁠Ela chegou.
Quando menos esperava,
sem bater ou pedir licença,
abriu a porta e entrou.
Pegou uma xícara de café,
sentou-se no sofá e disse:
"Ficarei sem previsão de saída."

Tentei afastá-la,
mas logo percebi
que sua presença era inevitável.
Frustrado, optei por ignorá-la,
fingindo que ela não existia.
Ela me olhou, com um ar desafiador,
e perguntou:
"Será que estou atrapalhando?"

O tempo seguiu seu curso
e, num certo momento, ela decidiu partir.
Ela se levantou, ajeitou a xícara na mesa e,
sem dizer adeus, foi embora.
Sua saída deixou um vazio,
mas também a leveza da liberdade.
observei-a ir e murmurei:
"Até breve, Paixão."

Fechei a porta,
voltei meu olhar para o sofá
e o Amor, sorrindo em silêncio, disse:
"Ela estava te preparando para a minha chegada."

⁠⁠Dias sem te ver,
e ainda sinto teu cheiro no ar,
o som da tua risada tão vivo em minha mente,
a lembrança da tua pele sob meus dedos.

Hoje te encontrei.
Por um instante, parecia que tudo estava em seu lugar,
e eu queria que aquele momento nunca acabasse.

O toque dos nossos corpos,
teu cheiro — meu Deus, teu cheiro —
tua voz, tua vibração,
cada batimento que senti deitado em teu peito.

Eu sei que te amo de longe,
mas, de perto...
Estou entregue.

⁠Se te amo, não espero retorno.
Se te toco, não peço tua pele.
Se te entrego meu sentir,
é porque não sei guardá-lo.

Mas e se me deres o que nunca pedi?
Se tuas mãos buscarem as minhas,
se teu amor me encontrar sem que eu o chame,
terei eu o direito de recusá-lo?
ou será apenas medo disfarçado de recusa?

Os braços conhecem o gesto de ofertar,
mas tremem ao ensaiar o de aceitar.
Dizem que amar é dar,
mas talvez amar também seja permitir.
Permitir que fiques,
permitir que me olhes,
permitir que o amor,
se quiser,
exista entre nós.

Não sei ser amado,
mas ainda assim sou.
Não sei receber,
mas ainda assim me oferecem.
E se o amor não for uma dívida,
nem um peso,
mas apenas um espaço entre nós dois,
um toque que não exige nada,
um olhar que não pede retorno?
Talvez amar também seja ficar,
mesmo quando os passos tentam fugir.

Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome.