Coleção pessoal de Andreandrade1976
Apenas mais um dia de trabalho. Ou não...
Dia desses, estava eu numa operação, dando apoio a um caminhão da prefeitura que recolhia entulhos. Pernoitado, cansado, estressado, e com quase trinta horas de jornada nas costas. Eu me perguntava qual realização, além da financeira, aquela longa jornada me proporcionaria. Para "facilitar" nosso serviço, o tempo se fechou e começou a chover.
A resposta a minha pergunta começaria a surgir do outro lado da rua, naquele momento, quando reparei que um senhorzinho, com trajes humildes, rugas à mostra, e uma expressão que fazia minhas trinta horas de serviço parecer um "nada!", vinha em minha direção. Percebi então que aquele cidadão mantinha duas preocupações naquele instante. Uma, era, andando bem devagar, olhar o chão para não levar um tombo, (cuidado esse que é inerente àquela condição física). A outra preocupação deste personagem seria o motivo de minha curiosidade.
Minha missão naquele momento passou a ser a de tentar descobrir o porquê de seu chapéu não estar protegendo sua cabeça e seu rosto da chuva, e sim, estar cobrindo algo que suas mãos protegiam como a um tesouro. Poderia ser um rádio? Pensava eu. Porém, minha desconfiança desabou quando observei que ele levantara algumas vezes aquele chapéu velho para conferir se o produto de sua estratégia estava realmente protegido das gotas da chuva. Atravessei a rua, e movido pela curiosidade, esperei que ele chegasse mais próximo, para assim descobrir o motivo de tanto zelo.
Para minha grata surpresa, um cão da raça Pinscher, mais curioso do que eu, de tamanho inferior a um palmo meu, tentava a todo custo se soltar da mão de seu dono e sair de debaixo daquele chapéu...
Senti-me recompensado de tal maneira, que voltei para meu posto, com a obrigação moral de não reclamar tanto da vida, nem de questionar tanto algumas coisas. Terminei minha jornada com aquele gesto cravado em minha mente.
O desprendimento daquele Senhor, em relação as suas limitações e às intempéries do tempo, e o seu apego em proteger aquela criaturinha indefesa, fizeram-me pensar que eu posso sim, mudar o foco de coisas
inevitáveis, e fazer boas ações independentemente dos problemas pelos quais esteja passando.
A lição que recebi desse caso foi que, para transformar o meio em que vivo, não preciso ser contaminado por ele, e ainda que afetado, posso também fazer uso de fatores externos para me desprender de problemas pelos quais esteja passando.
Por isso em meio a tanta turbulência em meu ambiente profissional, recorro primeiramente a Deus, ao colo de minha esposa, ao abraço de meus filhos, às poderosas orações de minha Mãe, aos conselhos de minha irmã, e faço uso de outros artifícios externos que me afastem de tanta negatividade.
Os covardes preferem colocar a culpa no projeto que lhes é apresentado, para não precisarem demonstrar a incapacidade de não poder executá-lo.