Coleção pessoal de AnaTubino
Montevideo
As ruas são como plumas
Até da chuva eu gostava
Tantas histórias não acabadas
Teu povo, Montevideo
É poesia
É prosa
É verso
No teu mundo totalmente imerso
Por lá já houve celebridade
Celebração
Futebol
Carnaval
Animação
Já houve calma de um mate de domingo
Já houve 40 dias de carnaval
Já houve minha voz que ecoa até hoje nas ruas no natal
Montevideo, você não sai de mim
É as ruas
É as praças
É o churros
O churrasco
É futuro, presente e passado
Você ocupa meus sonhos
Meu imaginário
É o melhor lugar para se estar quando está solteiro ou casado
Ah! Montevideo!
Já pensou se o mundo soubesse de você?
8 bilhões de pessoas iriam querer te conhecer
Ainda bem que não sabem porque eu iria morrer de ciúmes
O que eu iria fazer com aquele seu resto de perfume?
Falando em perfume, que cheiro é esse que tem?
Naquela noite perto do trem?
Te lembra Montevideo?
É tipo um cheiro de chuva quando cai na terra...
Não, não é isso
É tipo um cheiro de pele depois do banho...
Não, não
É cheiro de mar?
De amar?
Não...
É um cheiro de café passado?
De roupa limpa?
Não é o cheiro é a sensação
Sensação de liberdade de estar no mundão
Montevideo, porque você foi me deixar ir?
Minha única certeza era não querer partir
Eu sempre irei sentir saudades
Daqueles ladrilhos
Daquela cidade.
Eu não lembro quantos pessoas amei
Engraçado! Ontem eu tive uma lembrança, mas não era amor, porque eu não lembro das coisas de amor
Porque que a gente não lembra?
Se ontem era amor
Talvez não fosse porque se fosse amor eu lembraria
Mas eu não lembro
O amor é mais fraco que a dor
Porque a dor eu lembro
Eu só não lembro do amor
Eu não lembro das pessoas que eu amei
É por isso que amor rima com dor
É inspira(dor)
É desespera(dor)
É perturba(dor)
Mas eu não sei porque estou falando de amor e dor, se eu não lembro
Eu nunca lembro das coisas de amor
Como é? Amor?
É disperso
É controverso
É um outro universo?
Eu não sei! Eu não lembro dessas coisas de amor!
Amor é subversivo
É suburbano
Como é amar outro ser humano
Ainda bem que eu não lembro
Ele até rima com humor
Com cor
Com sabor
Ainda bem que o narrador deste amor, não lembra
Eu nunca lembro dessas coisas
É até meio ameaçador, o amor
É sem pudor
Faz a gente virar escritor
É por isso que eu não escrevo e não lembro
Até tem um certo rigor
No amor
No amar
Faz até a gente subestimar o que a gente lembra
Ainda bem que eu não lembro o que é amar
Tem calor
Tem calar
No amar
Do amor
Eu nem lembro
Amar
É navegar em alto mar
De dia amar
De noite amor
Mas eu não sei
Eu nunca lembro
Me faz um favor?
Não me pede para escrever sobre amor
Porquê eu não lembro.
Bom mesmo é gente que transborda
É loucura e sensatez
É mar revolto e calmaria
É maré alta
Gente que não precisa ter razão
Que não precisa ter
Que só precisa estar
Que é tempestade
Que é saudade
Sol no deserto
Frio polar
Que não precisa concorrer
Sequer correr para viver
Bom mesmo é gente que chega e preenche
Que não espera aplauso, agradecimento ou autorização
Que muitas vezes faz coisas sem razão por pura emoção
E da rotina só se for o hábito de acordar feliz todo o dia
Bom mesmo é olhar para alguém gigante, que faz a gente parecer mero figurante nesse filme da vida.
Limbo
Tinha voz que não falava.
Tinha tom que não usava.
Tinha um quê de intimidade.
Tinha dor que não doía.
Tinha amor que não vivia.
Tinha paixão que não ardia.
Tinha noites que não dormia.
Tinha dias que não passava.
Tinha horas que não sabia.
Tinha assunto que não tocava.
Tinha tesão que abdicava.
Tinha dias que não ouvia.
Da vida dispensava.
Era um acidente que não comprometia.
Era quase fatal.
Era quase.
A vida irá nos recompensar, não pelas coisas boas que fizemos, mas pelas coisas más que deixamos de fazer.
Pelo ódio que nos negamos de retribuir.
Por ser maduro o suficiente, para quando você tiver a oportunidade, o poder de destruir alguém e você não faz - isso é maturidade.
Bondade é obrigação.
Mas não responder ao ódio com mais ódio essa é a verdadeira beneficência, é virtude.
Isso merece recompensa.