Coleção pessoal de Anas

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⁠Curpo só
Migrar é descobrir um outro lugar dentro da sua alma.
Quando começa a chegar o dia da despedida, você sente que está, pouco a pouco, caindo em si.
Nos últimos momentos, sua família e amigos começam a te ver como roupas que tiram, sem ter certeza de que vão te encontrar um dia novamente.
(todos os passageiros que viajam devem ir ao Portão nº 7)
Quando olhei pra eles ali,
Senti suas lágrimas abraçando minha alma.
Eu os deixei e andei com as minhas malas.
Tinha medo de olhar pra trás pra não sentir que estava perdendo o abraço das lágrimas deles.
Ao mesmo tempo, as minhas próprias lágrimas não me deixavam olhar pra frente direto. Elas também abraçavam meus olhos.
Naquele momento senti que algo mudou dentro de mim.
Assim o processo começa
A cada dia que nasce, sinto uma batalha, uma guerra que começa aqui dentro.
Se na minha casa olho para coisas banais, como um prato, imediatamente me lembro do prato que tem lá.
O prato que vejo aqui não me parece suficiente, mas o de lá, só pode estar lá.
E não são só dois pratos, mas duas camas, dois quartos, dois aniversários
Tudo sempre em dois lugares.
Querer ou não querer.
Onde estar?
Por que estar?
Ser ou não ser?
Estar aqui ou estar lá?
Mas com o passar do tempo, eu me acostumei
Me acostumei com a ideia de que não sou mais aquilo
Mas ao mesmo tempo não me adaptei plenamente a quem sou agora ou a quem devo ser.
Estou aqui. Mas ainda não aprendi a viver só. Sem minha família, uma parede que me protegia. Minha casa.
Sem eles sinto o frio. Sinto a falta. O vazio.
Sinto-me inseguro.
Ao mesmo tempo vejo o caminho de uma vida se abrir à minha frente.
Esse caminho está carregado de uma busca por aquela parede, aquela casa que deixei quando embarquei no vôo XXXXX.

Eu me sinto como uma onda do mar.
Que deseja a praia,
Mas sempre volta ao oceano.
E nesse ir e vir, um dos meus amigos me pergunta:
Como você está?
E eu digo:
Quem, eu?
Estou bem, (todos os passageiros que viajam devem ir ao Portão nº 7)
Bem, (todos os passageiros que viajam devem ir ao Portão nº 7)
Bem (todos os passageiros que viajam devem ir ao Portão nº 7)
Estou bem
Estou bem, porque quero minha família aliviada.
Estou bem porque meus amigos de lá jamais me entenderiam
Estou bem, porque meus amigos daqui não poderiam imaginar tudo o que carrego de lá,
Bem
Estou bem.
Agora, vejo minha vida de longe
Vejo-me como um ator dançando num palco.
Pode ser lindo pra quem vê de longe
Mas tudo só fará sentido
Se eu souber, antes de tudo, dançar comigo mesmo.
Se eu puder olhar de perto pros sentimentos que me movimentam
Não quero dançar por dançar
Não quero falar por falar
Não quero atuar por atuar.
Quero ser instrumento da minha história
E além.
Quero ser instrumento da arte.
Finalmente, cheguei no lugar onde queria.
Agora posso começar.
Anas obaid