Coleção pessoal de anacbarroso

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Peguei meu amor e pendurei no varal depois de limpo. O vento secou sem o calor do seu sol. Mesmo assim eu o guardei. Ainda desbotado era peça única, ficou marcado. Marcado por um ferro que com brasa quente, derretia a seda amarrotada de ansiedade e aguava minha parte bonita, bem passada, aquela... do passado. Sobre o afetuoso elo calado que se içava aqui por dentro, saltei em um beco de flores. Chamei o tempo de solução. Cantei proezas e sorria amores.
Aquele mesmo tempo já sabia sua vez...
E com conhecimento me disse: vida é emoção! É agora, é movimento, é feito. Depositei saudade nas vontades do meu corpo e carreguei com muita fortaleza. Talvez por este excesso, senti seu peso e pousei na agonia cansada. Bom ou ruim fui motivo de sensação para abrigar nossos desejos em meu amor:
Coberto sem teto; Regado com terra; Plantado em pedra.
Um brinde ao nosso mundo consumado. O vento daqui é muito forte ...
Agora eu não concluo, mas por você guardo este amor, ele também sentiu frio. pendurado alí, no varal, tão só. E agora dorme limpo, em paz, tranquilo, macio... Outro dia me des-pregador. Se ao acaso eu me soltar é porque continuei aí do lado, no nosso ocaso escuro, em cenário para enamorados.
(tin tin)

Varrendo as sombras do meu caminho, em maneira sabida, fui ser ancila da sua vivacidade que se fazia na varanda no outro dia de manhã cedinho para abrir meus olhos. Hora que passeia a paz, onde tudo é ainda muito desenhado, emprestado ao nosso anseio justo de consumir vontades. Naquela luz brilhando quieta, ainda clareando, calcei os chinelos, vesti simpatia. Dispersa pra compor meus vastos sintomas, as vezes desaparecia, mas mesmo desprevenida eu ainda me deparava num recomeço único para nossos movimentos. Na verdade, é que abocanho essa sina que cata seus sentidos.
Eu saboreio as suas cores. Acho o dúbio em canto pra melodia, emudecendo a dúvida. Colhendo brotos... Cifrando vida... E assim descobrindo essa rima toda que se traduz em um apego júbilo de desejo.
- Ensaio com você, em tentativa para minhas invenções...

Agora, você me diz para soprar a última chama. Onde sujo o dedo de escória, do fogo de dor, ardor. E a chama antiga, que se mostrou tão vermelha por queimar em brasa, notou-se espirrada de sereno, que mais me pareceu um dilúvio realmente súbito. E que, enfim, molhou. Apagou... Todo. Tudo virou fumaça, virou breu contínuo em dias cinzas nas cinzas que, pra mim, restaram. Por favor, peço que me retire dessa escuridão! Mostre-me seu sol pra eu mesma brincar com a minha sombra. Ascenda essa luz pra mim e diga que ainda tenho mais uma chama, mais uma chance. Não te acho, preciso te tocar, inventar que não é quimera. Mas antes, necessito me encontrar. Anda! Não vê que em você, o meu corpo ficou? Não escuta a minha voz rouca que nem mais assobia? Que chora quando evapora sua melodia? E escoa porções de saudade em um cru retrato seu? Seu vulto ficou e me aparece latejando como um sinal de amor arrancado... Porém, mesmo não mais avistando o clarão que me adornava, me encaminho ao que preciso continuar. Crer que ainda se trata de vida e que ela depende de mim pra sobreviver. Ainda tenho que, em outros rostos, incandescer. Devolva minha luz! Se assim, pra você, fica melhor, eu domino a falta que provoca por aqui. Aqui mesmo, onde você já clareou, fez brilhar amor...
E aí, vai ficando assim... Contento-me com esse seu último sopro que apaga e evapora o que, em lindos momentos, foi tão iluminado.

Meu melhor passeio é quando em você. Consigo enxergar a sua curiosidade, ainda de olhos fechados ...

... sono da tarde, combinar de sonhos de gente que é tanta e não se acaba
Anseios cometidos ou incansavelmente esperados
Cor de saudade, melancolia contornando a combinação lilás
Ocaso suave na hora certa pra paz perambular
Entre um canto e outro. Ruas, vielas, eles e elas
Rostos de novo. De ontem. Anteontem. Do Antigo e do moço
São sempre dias com caras novas
Cada dia com uma coisa pra contar, o formato pode até ser igual
Moldura, nem o possui. O dia é, na verdade, livre
E nele, é bom estar. Estar por si só, nessa coisa de ser
Morar no tempo sem muito a abocanhar
Luz brilhando quieta, vestindo calmaria. Isso já reluz!
Em meio a todo agito, o carnaval apita apito
Acabou-se a festa, eternizou-se a magia!
Gosto quando penso que vou .re.começar tudo de novo de dias em diante
A manhã vigora só amanhã cedo
E a tarde (agora) me abraça com ar de dia feito
E enfim, este perene dia dorme
No ecoar do finalzinho da melodia, que também nem se acaba
Fim que não morre. Vem só pra dar sabor, sintonia, poesia...

(Alumia!)

__ Você me ama?
__ Abre os braços
__ vai me abraçar, é?
__ já estou te abraçando
__ é que você é tão pequenininho...
__ sou, minha pequena?
__ o que? lindo?
__ Não. Pequeno... Você não disse?
__ ah é! (riso)
__ Boba!
__ namorado da boba, é o que?
__ pequeno uai
__ Não! Era pra você ter respondido: bobo
__ Ah, entendi.
__ Entendeu o que?
__ Pergunta de novo
__ namorado da boba, é o que?
__ É a primeira pergunta
__ (...) Se você me ama?
__ Isso... Eu te amo! Mesmo assim... Pequeno e bobo.

(suspiro)

Sua ausência sabe me fazer sentir como naquela insistência dos dedos a procura de acordes dissonantes: tão patéticos e primorosos...

Outro dia me apaixonei
por uma janela velha, mas muito velha.
Lhe faltavam pedaços...
Não deixei de me apaixonar por conta disso.

Nesse meio tempo em que o sol ainda percorre boa parte do meu rosto, me abarroto com sua lembrança me acertando em cheio como um amor debaixo das vistas. A tarde chega. Tarde em que este sol permanece iluminando a cidade, mesmo querendo ir adormecer. Como é cuidadoso o modo como ele se despede: Devagar, em tons líricos, levando aos poucos, traços de um dia que ainda me vejo em saudade. Daqui debaixo continuo a pedir pra o sol ficar, insisto nessa sisma de que ele não deva desaparecer... É que eu queria voltar e correr por aquele mesmo caminho marcado por nossos rastros. Mas neste dia você só pôde me levar até a segunda ruazinha à esquerda das árvores extensas, que habitam na moradia dos corpos. Vejo a cidade rumorosa. Nesse ocaso mais denso, meus olhos não mais alcançam as pegadas do seu chinelo. O meu caminho parece ficar cada vez mais afastado. Chego a me encontrar em outros lados, caminhando em lugares onde o cenário não me cabe dentro. Com olhos medrosos, eu suspiro entre numerosos ecos zangadiços de risadas roucas e grotescas que me anunciam suspeita ameaça. Os letreiros já ligados substituem a luz do dia que já vai morrendo e todas as janelas fechadas parecem se recuar de mim. No propagar da melodia melancólica dos pingos da chuva, eu começo a inundar o sertão dos meus olhos, nessa vontade graúda de lhe abraçar... Meus passos estão estritamente abandonados e, tanto dentro quanto fora, a noite se acomoda. Às zero horas de um dia pálido e até então falido, olhava agora os dois lados da rua em um deserto de luz, me arriscando a atravessar multidões de carros. Procuro seu cuidado pra me proteger. Estendo meu olhar por uma extensão infinda de fumaça e me deparo com um risco de lua quase que inexistente me apontando um caminhozinho meio semelhante ao que eu, já casada e descontente, buscava encontrar o seu amparo. O seu abraço. Lamentava por já estar cansada e com receio em continuar. Então sentei sobre a calçada cuspida de ensejos... Entrelaçando meus braços para aquecer o corpo, percebi um cheiro afetuoso que parecia recender como um adorno afável. Ficava extensa, com uma vivacidade mais ressuscitada. Arranquei-me em um peso de cuidado, soltando os cabelos pra encontrar o que, desde antes do dia amanhecer, eu estive buscando. Espera! Me dizia particularmente os meu múltiplos e infatigáveis sentimentos. E mesmo sem esperança, antes mesmo que eu fosse longe, me deparei com um sorriso alvo. Não podia ser de outra pessoa, senão de você. Um sorriso gigante, largo, amplo... Você estava tão junto a mim. Tão perto. Já há alguns minutos. Não contive a emoção. Te toquei numa gula insaciável, como se me carecesse todas as coisas. Os meus olhos estatalados e intrigados questionavam quietinhos como todas aquelas coisas podiam ter acontecido. Todo o medo, todo o sufoco estavam emudecidos. E então só venciam os meus suspiros ofegantes. Com pouco ar, carecendo a pose e o equilíbrio. Sem conseguir dizer uma palavra sequer, pranteava o meu pensamento que ousava em sussurrar tudo de uma única vez. De repente me apanhei do chão e lhe abrangi inteirinho em minhas mãos. Tão pequeno e tão sereno (...) escorando meu rosto na sua boca, sentia todas as palavras vindo desde seu inalcançável íntimo, até percorrer a ponta dos lábios tão macios. No deslizar dos meus dedos eu conseguia guardar pra mim, toda sua imagem moldada por traços maduros e delicados. Tive um colo dengoso que eu parecia estar perto de algodões enternecidos. Víamo-nos em um caloroso momento de alegria, entontecidos, com vontades de correr e gritar e brincar e falsear e permear e sorrir. Deitávamos embriagados de entusiasmo, quase ou completamente insanos, loucos, alucinados e com múltiplas vontades em realce. As pessoas olhavam estranhamente e riam, zombavam e desacreditavam. De qualquer forma até o meio fio já sentia inveja e estava perfumado com toda aquela alacridade.
E a noite dormia...
E o sonho vigorava
E os dias nasciam e morriam
Eu então te encontrava e sempre me perdia...
Me deparando em conclusões exclusivas e momentaneamente eternas:
Já era tarde. E agora também é.
Agora é tarde.Tarde demais pra não te amar...