Coleção pessoal de ana_laudelina_ferreira_gomes
Miúdas grandezas
(À amiga Sulika, das conversas sempre inspiradoras)
O que nos resta,
senão clamar
pelas miúdas grandezas?
A vida e a história seguem
Mesmo quando
não estivermos mais
para testemunhá-las
Seguem
Ora para frente,
Ora para trás
Sim amiga irmã, concordo com você:
" o residual é sempre fertil "
Há uma imensidão
numa casca de noz
Ginástica incrível esta
Fazer-nos fortes na fraqueza
E fracos em meio a tantas
forças de poder em luta
Apesar do luto
Partiram-se todas
as referências de realidade
O surreal transbordou
E as certezas naufragaram
O chão se abriu
E do alto gritamos
pendurados no fio da navalha
Talvez esse tsunami não passe
de uma gripezinha histórica,
barata e burra
Mais uma degenerescência civilizatória,
numa perspectiva de história alongada
Onde somos somente os da vez
Como num filme de ficção científica
A sermos devorados por aliens
Ou de terror,
onde as folhas secas não param de flutuar
e as janelas e portas insistem em bater
Nervos de aço
Em corações de cristal
Pai, mãe divinos! Livrai-nos de nós!
Desse inferno rude e seboso que nos habita!
De nossas vilanias cotidianas e chãs
Nos alimente com as miúdas grandezas!
Das mãos e braços que nos afagam
Nos acolha em seus abraços,
e nos humanize!