Coleção pessoal de allicesilvaa

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Alguns dos nossos desejos só se cumprem no outro, os pesadelos pertencem a nós mesmos

[...] as palavras parecem esperar a morte e o esquecimento; permanecem soterradas, petrificadas, em estado latente, para depois, em lenta combustão, ascenderem em nós o desejo de contar passagens que o tempo dissipou. E o tempo, que nos faz esquecer, também é cúmplice delas. Só o tempo transforma nosso sentimento em palavras mais verdadeiras [...]

Era possuída por uma teimosia silenciosa, matutada, uma insistência em fogo brando; depois armada por uma convicção poderosa, golpeava ferinamente e decidia tudo, deixando o outro estatelado.

Praga de palavras: cada um inventa duas e todos acreditam.

Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que, não sei onde, alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi.

Escuta: eu te deixo ser, deixa-me ser então.

Perder-se também é caminho.

Sinto falta dele como se me faltasse um dente na frente: excrucitante.

O que importa afinal, viver ou saber que se está vivendo?

E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior do que eu mesma, e não me alcanço.

Tenho várias caras. Uma delas é quase bonita, outra é quase feia. Sou um o quê? Um quase tudo.

O que eu sinto eu não ajo. O que ajo não penso. O que penso não sinto. Do que sei sou ignorante. Do que sinto não ignoro. Não me entendo e ajo como se me entendesse.

Porque há o direito ao grito.
Então eu grito.

A única verdade é que vivo. Sinceramente, eu vivo. Quem sou? Bem, isso já é demais.

Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros.

Eu não sou tão triste assim, é que hoje eu estou cansada.

Com perdão da palavra, sou um mistério para mim.

Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras.
Sou irritável e firo facilmente.
Também sou muito calmo e perdoo logo.
Não esqueço nunca.
Mas há poucas coisas de que eu me lembre.

Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo – quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação.

E, se você me achar esquisita, respeite também.
Até eu fui obrigada a me respeitar.